quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Pessoas inescrupulosas atrás do Banco Itaú.

 

A continuação uma copia da última publicação da revista continuum do Banco Itaú “cultural - 28”

Penso que esta revista deveria chamar se QUATO $$$, convoco os companheiros da solidariedade, a pronunciar-se perante mais uma barbaridade contra estas pessoas inescrupulosas. Que hoje se escondem atrás do Banco Itaú.

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O sonho de ninguém

http://itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2720&cd_materia=1438

Por Yoani Sánchez | Ilustração Lourival Cuquinha | Tradução Josely Vianna Baptista

A revolução, o sistema, o processo, isso - qualquer que seja o nome que se use - esgotou há muito tempo seu combustível, sua capacidade de renovação. Não lhe resta mais nada de velho para destruir, mas ainda há muita coisa a ser feita. Cinquenta e dois anos depois do triunfo revolucionário, o país tem mais terras improdutivas do que nunca e o déficit habitacional mais alto da história. A moeda com que se paga o salário dos trabalhadores não tem valor real e as duas áreas de maior prestígio, a educação e a saúde, passam por um momento de verdadeira crise. Observa-se um índice demográfico em retrocesso e uma emigração crescente. O marxismo-leninismo, que um dia foi a ideologia oficial, hoje é uma curiosidade arqueológica só mencionada em círculos acadêmicos, e o Partido Comunista, o único permitido pela lei, não convoca nenhum congresso há mais de uma década.

Todos se preocupam com a crise de valores, principalmente com a diminuição da cidadania responsável, com a aceitação do ilícito como algo normal, até mesmo como forma de sobrevivência. Saltam à vista a depreciação das regras de decência mais elementares, a falta de respeito pelo que é do outro, principalmente se for um bem comum. Nós, cubanos, convivemos com o vandalismo, o enraizamento do racismo, o aumento do regionalismo, o culto crescente a tudo o que é estrangeiro, o desprezo desmedido pelo que é nacional. Somados a tudo isso, a falta de escrúpulos na gestão dos recursos públicos, o suborno como método preferencial para solucionar um problema ou satisfazer um desejo, a metástase da corrupção em todas as esferas da sociedade. Campeiam à solta o nepotismo, a condescendência popular com o mercado negro, a falta de confiança nas instituições e nos processos de suposta solução que elas promovem. Com uma população carcerária beirando os 80 mil detentos, Cuba se transformou num país onde trabalhar chega a ser visto como um absurdo e, na melhor das hipóteses, como uma formalidade.

O pior de tudo, porém, não é a variedade nem a intensidade desses problemas, e sim a falta de perspectiva de encontrar-lhes uma solução. A sociedade civil está desarticulada e os meios de comunicação só projetam um país que não tem relação com a realidade. Não há um debate estruturado sobre as mazelas que assolam o país. A oposição política, dispersa, perseguida, satanizada e, muitas vezes, instrumentalizada ou infiltrada pouco pode fazer para divulgar seus programas e propostas.

As mudanças que a sociedade cubana reivindica são inadiáveis, mas podem ser consideradas, se analisadas do ponto de vista estritamente revolucionário, um retrocesso. Em decorrência disso, há uma enorme resistência para implementá-las de vez, principalmente entre aqueles que dedicaram seus melhores anos à construção de um ideal que jamais foi alcançado. No campo dos direitos civis, as pessoas almejam que o governo acabe com os trâmites humilhantes da "permissão de saída", que restringe as viagens ao exterior. E, principalmente, com o conceito de "saída definitiva", que transforma em estrangeiros os emigrantes, impedindo-os de se radicar novamente em seu próprio país e confiscando suas propriedades na saída. Já houve um pequeno avanço quando se permitiu que cubanos se hospedassem em hotéis e contratassem telefonia celular. Em meados de 2008, suspendeu-se o veto à venda de alguns artigos eletrodomésticos - como fornos de micro-ondas, leitores de DVD e computadores, até então proibidos -, mas ainda há muito a ser conquistado. Entre as reivindicações nesse sentido, está a permissão para que o cidadão cubano possa comprar livremente um carro ou contratar serviços de internet e TV a cabo.

Essas "aspirações de classe média" são pouca coisa se comparadas às mais essenciais: a necessidade de expressar livremente suas opiniões e o direito de se associar a qualquer tendência ou preferência sem temer represálias.

Descriminalizar a discordância

No longo percurso de transformações que temos pela frente, ao menos foi dado um primeiro passo com a libertação, a partir de julho deste ano, dos presos políticos encarcerados durante a Primavera Negra de 2003. Foi essa a principal reivindicação apresentada ao governo da ilha por todos aqueles que, por um motivo ou outro, tentam mudar o atual estado das coisas. Nas mais diversas agendas de política e cidadania dos partidos de oposição e dos grupos da sociedade civil, a libertação desses prisioneiros era obrigatória para o avanço da democratização do país.

No começo deste ano, a greve de fome do preso político Orlando Zapata Tamayo comoveu a opinião pública dentro e fora de Cuba. Um dia depois de seu falecimento, ocorrido em 23 de fevereiro, o psicólogo e jornalista independente Guillermo Fariñas declarou-se em greve de fome e sede até a morte ou até que o governo beneficiasse, ao menos com "licença extrapenal", os presos que estavam com a saúde mais debilitada. O próprio presidente Raúl Castro disse publicamente que o deixaria morrer, mas jamais cederia à chantagem. Aconteceria por aqueles dias o sétimo aniversário da Primavera Negra e as Damas de Branco desafiaram o regime decretando sete dias seguidos de passeatas por todas as ruas da cidade. Levavam gladíolos nas mãos e foram agredidas e insultadas por partidários do sistema, que, fingindo representar o povo indignado, eram conduzidos de ônibus até os locais das manifestações. As agressões provocaram a reação da alta hierarquia da igreja católica, que, num feito sem precedentes, conseguiu uma moratória para os ataques e um acordo para sentar-se e conversar com as autoridades.

Em decorrência desse diálogo e com a intervenção do chanceler espanhol Miguel Ángel Moratinos, levantou-se o compromisso de libertar todos esses prisioneiros num prazo não superior a quatro meses e de facilitar sua saída do país para a Espanha. Vistos em seu conjunto, os acontecimentos das últimas semanas poderiam ser considerados um sinal positivo para aqueles que estão esperando mudanças profundas na sociedade cubana, mas somente isto: um sinal. De pouco adianta o governo libertar um grupo de presos políticos se não puser abaixo todo o arcabouço legal que lhe permite mandar novamente para a prisão um número igual de pessoas pelos mesmos motivos.

Ainda hoje segue em vigor a Lei 88, conhecida como Lei da Mordaça, que prescreve longas penas para quem colaborar em revistas e jornais estrangeiros ou conceder entrevistas a jornalistas desses meios. Sem caminhos legais disponíveis para a criação de associações, a fundação de sindicatos, partidos políticos ou organizações estudantis constitui um crime de "associação ilícita", e qualquer meio pelo qual um cidadão manifeste sua divergência com o governo, mesmo que seja um inocente cartaz, pode ser interpretado como o cometimento de um crime de propaganda inimiga. Do ponto de vista dos opositores, as libertações são motivo de alegria, porque os que não deviam ter ficado nem um único dia atrás das grades hoje estão em liberdade. No entanto, não há, nem haverá, uma atmosfera de agradecimento ou de complacência até que a discordância não seja descriminalizada; não antes que Raúl Castro pegue o microfone e garanta que ninguém mais nesta ilha será preso por suas opiniões. Mas o tempo está se esgotando.

A Revolução Cubana, tal como é atualmente, não se parece com o sonho de ninguém, nem dos que a construíram e muito menos de nós, que a herdamos. Ao menos já sabemos que não há tempo nem vontade de começar de novo pelo princípio.

Yoani Sánchez, jornalista cubana, tornou-se internacionalmente conhecida por denunciar, em seu blog, Generación Y (desdecuba.com/generaciony), a situação de exceção vivida em seu país devido à ditadura castrista. Recebeu vários prêmios internacionais por seu trabalho e foi considerada uma das cem pessoas mais importantes do mundo pela revista americana Time, em 2008.

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Rebelião à beira de um mouse

Por Mariana Sgarioni | Ilustração Zé Otavio

A jornalista e blogueira Yoani Sánchez é uma mulher marcada. Em Cuba, país onde nasceu, cresceu e vive até hoje, é vigiada pela polícia dia e noite. Mal consegue sair de casa. Não pode viajar, passear, dar entrevistas. Seus textos foram proibidos na ilha e ela chegou a ser sequestrada e espancada por agentes do governo. Nada disso, no entanto, a impede de se expressar [leia artigo inédito da autora para a seção Mirada, na página 64]. Por meio de seu blog, chamado Generación Y [desdecuba.com/generaciony], ela conta como é viver em um lugar em que não há o direito à liberdade individual. Yoani revela detalhes do cotidiano em seu país, desmente a propaganda do governo, ironiza seus dirigentes. Em suma: para a ditadura castrista, ela é intolerável. Para o resto do mundo, é uma importante porta-voz que escancara os meandros de um regime autoritário.

O que os governantes cubanos, que tomaram o poder em 1959, não previram na época é que anos depois teriam de engolir o poder incontrolável de um inimigo oculto: a internet. Blogs, sites, e-mails, redes sociais: um caminho de revolução muito mais poderoso do que as armas, ainda que seus ícones, segundo dizem os estudiosos, não tragam a força da mudança de valores como trazia uma foto de Che Guevara, por exemplo. Por mais que se tente, a verdade é que nos dias de hoje ninguém consegue conter um internauta ativo. Até a blogueira Yoani consegue burlar os arapongas cubanos e postar seus textos, escondida em lan-houses, apenas permitidas a turistas estrangeiros.

Não há dúvidas de que a internet tenha feito nascer uma modalidade de ação política que beira uma nova geração de paradigmas. O Twitter, por exemplo, mostrou há pouco mais de um ano sua violenta capacidade de mobilização: internautas indignados com a reeleição do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad organizaram protestos pela rede, levando centenas de opositores às ruas de Teerã, além de divulgarem pelo mundo inteiro as imagens da repressão policial no país. "Da mesma maneira que no Irã, há indícios de que as eleições no Afeganistão tenham sido influenciadas pelo Twitter. É a voz das pessoas comuns ganhando dimensão pública", afirma o site Web Ecology Project, centro de estudos sobre a internet da Universidade de Harvard, Estados Unidos, que comanda uma pesquisa sobre o assunto.

No contexto democrático, o Twitter também mostrou suas garras quando o candidato à presidência norte-americana Barack Obama usou a ferramenta para divulgar sua campanha e mobilizar novos eleitores. Acredita-se que o segredo do sucesso de Obama, sobretudo entre os jovens, esteja justamente ali, no mouse.

No Brasil, em tempos de eleições, a maioria dos candidatos também se beneficia da internet - e não apenas do Twitter - para discutir propostas e até angariar fundos. Na esteira de Obama, a ex-candidata do Partido Verde à presidência, Marina Silva, é uma das que mais apostaram na força da rede. Desde fevereiro, colocou no ar seu blog, Minha Marina, que reúne biografia, artigos e fotos. Uma aba chamada "Fatos e Versões" responde a boatos e esclarece sua opinião sobre assuntos polêmicos. Em julho, Marina alcançou a marca de 100.746 seguidores no Twitter, contando com uma mobilização que surgiu entre seus simpatizantes no Orkut e se espalhou pelo Facebook, chamada "twitaço". "Na minha época, a gente chamava de panelaço, agora é panelaço virtual. É bom porque não faz barulho", brincou a candidata em sua página no Twitter. José Serra, do PSDB, também tirou o máximo proveito da tecnologia em sua campanha - ele, aliás, foi o primeiro a entrar no Twitter, em junho de 2009. Em pouco mais de um ano, já contava com cerca de 300 mil seguidores.

Processo em andamento

A força política da comunicação digital inaugura um conceito do fluxo comunicativo em que todas as pessoas podem receber e distribuir mensagens. É como se não houvesse mais emissor nem receptor. "Isso significa uma grande revolução no conceito de democracia. Trata-se de uma superação desse conceito, que agora se torna algo colaborativo, em que todos os indivíduos podem participar do processo decisório, sem existir um centro de poder. É uma nova forma de cidadania, a democracia direta", afirma Massimo Di Felice, professor da ECA/USP e coordenador do Centro de Pesquisa Atopos, da mesma universidade.

Felice lembra que essa revolução já foi discutida por pensadores de décadas passadas. O cientista político italiano Norberto Bobbio, no texto "O futuro da democracia", de 1992, diz que a democracia direta é algo totalmente utópico e só seria possível quando houvesse uma máquina que permitisse ao cidadão apertar um botão e assim distribuir sua ideia ou voto em tempo real à população inteira. Talvez, em 1992, isso realmente fosse impossível. Hoje em dia essa atitude é real e acontece o tempo todo, o dia inteiro.

Um bom exemplo recente é a campanha Ficha Limpa, que impôs, a partir de um processo dirigido pela rede, a impugnação da candidatura de políticos com problemas na Justiça. "Trata-se de um marco histórico na América Latina. A campanha foi disseminada pelas redes sociais e foram elas que obrigaram os políticos a aprovar a lei em Brasília. É a prova de que os indivíduos, por meio da tecnologia, têm hoje um poder maior do que um político profissional, ou seja, o centro do poder foi deslocado", lembra Felice. "É como se cada indivíduo tivesse seu próprio meio de comunicação", teorizou o sociólogo francês Michel Maffesoli, durante um simpósio realizado na USP, em 2007.

Entretanto, é difícil falar em democracia se pensarmos que o acesso à tecnologia e a inclusão digital não são uma realidade para boa parte da população. Ou seja: ainda não é um meio de expressão para todos. De acordo com pesquisadores, trata-se de um processo em andamento. Se formos colocar a internet no mapa histórico da evolução da humanidade, em comparação com a disseminação da escrita, a rede mundial avança em todas as camadas sociais numa velocidade assustadora. "Não há elementos parecidos na história", pontua Felice.

A Web 2.0, por exemplo, tem apenas quatro anos e hoje é uma realidade de conexão e comunicação mundial. "As comunidades da Web 2.0 são para nós hoje o que as comunidades tribais ou de aldeia eram para nossos ancestrais. Elas representam um lugar no qual podemos fazer novas conexões, compartilhar detalhes de nossa vida e discutir tópicos que nos interessam", afirma a especialista em indústria high-tech Ayelet Noff, em um estudo da Universidade de Tel Aviv sobre o assunto. Esse é o fenômeno do agrupamento das tribos para o qual Maffesoli tanto chama a atenção em seus trabalhos - nas comunidades virtuais, os participantes têm a sensação de pertencimento, de fazer parte de determinado grupo.

No campo da cultura, as comunidades virtuais vão além desse agrupamento de pessoas com interesses em comum. Elas discutem determinado segmento artístico, informam seus desdobramentos, debatem as políticas públicas e chegam a promover certos artistas. É o caso do site Canal Contemporâneo (canalcontemporaneo.art.br). Em sua descrição, divulgada na página principal, a página é definida acertadamente como "uma comunidade digital focada na arte contemporânea brasileira para promover sociabilidade, informação, participação política e senso de pertencimento, com o objetivo de provocar transformações no seu contexto". Já no Idança (idanca.net), site ligado à dança contemporânea, a conexão com a política está mais do que aberta. "É também uma atitude política de juntar pessoas, habilidades e conhecimentos para tornar possível a troca de ideias. Foi esta convicção na democratização da informação e na profissionalização que nos juntou neste projeto", afirma o texto de apresentação do site.

E é justamente para esse novo conceito de democracia que apontam os especialistas. Não se trata de algo que se aplica apenas a uma forma de governo, e sim a todas as esferas da vida. "Todos os processos decisionais serão colaborativos, desde políticos, artísticos, empresariais. O centro das decisões passou a ser a opinião pública", diz Massimo Di Felice. Seria o caminho mais curto para uma sociedade aberta, do povo, como tanto queriam os hippies da década de 1970 ou os anarquistas do início do século passado? Ainda não se sabe. Quem quiser fazer parte da nova contracultura poderá escrever o final desta história.

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