quarta-feira, 13 de março de 2013

Manoel Alves Ribeiro - Mimo: 110 anos


 

Há 110 anos, em 13 de março de 1903, nascia em Imaruí, pequena cidade do sul do estado de Santa Catarina, o camarada Manoel Alves Ribeiro, o Mimo, como era conhecido, militante comunista desde os anos 30 do século passado até o seu falecimento em 29 de setembro de 1994. Foram décadas de dedicação à luta do nosso povo.
  
Autodidata, não cursou mais que os primeiros anos de escola, Mimo era dotado de uma inteligência, habilidade e perspicácia incomuns. Quem o conheceu, quem o viu falar em público, foi testemunha de verdadeiras aulas de oratória. Tinha uma capacidade própria de se dirigir ao público. Cativava e entretinha a platéia com um misto de coerência, convicção revolucionária e bom humor.
Desde muito cedo, Mimo, teve que se virar para ganhar a vida. Trabalhou em mina de carvão, na construção da ponte Hercílio Luz, símbolo da cidade de Florianópolis. Nessa cidade viveu a maioria de sua vida. Nessa cidade se elegeu vereador. Mimo foi militante do PCB – Partido Comunista Brasileiro, desde os anos 30
do século passado até o rompimento com a política da direção do partido liderada por Luiz Carlos Prestes. Seus últimos anos de militância foram dedicados ao embrião do ue hoje se chama CCLCP (Corrente Comunista Luiz Carlos Prestes) e também dedicados ao ICASP (Instituto Cultural de Amizade e Solidariedade aos Povos), fundado em 1985, entidade da qual era presidente de honra e que desenvolvia um trabalho de solidariedade aos povos da América Central e Caribe. Mimo se orgulhava muito da profissão que abraçou, e quando perguntavam qual era sua profissão, dizia com orgulho: “sou operário eletricista”. Um dos seus ensinamentos é que nós temos que buscar ser os melhores no que fazemos, fazer as coisas da melhor forma, com conhecimento científico e garra.
  
Entre muitas de suas qualidades, pude testemunhar sua disciplina férrea, sua convicção profunda na causa do socialismo, sua intransigência na defesa do campo socialista liderado pela URSS (União da Repúblicas Socialistas Soviéticas), sua ternura no trato com os amigos e camaradas.
  
Mimo visitou a União Soviética, como militante do PCB, a convite do PCUS (Partido Comunista da União Soviética). Testemunhou a construção da sociedade socialista soviética, sua ascensão e nos últimos anos de sua vida a desintegração do campo socialista do leste europeu e da URSS. Queda esta testemunhada com muito pesar. Ao contrário de alguns que renegaram o exemplo da URSS e dos demais países socialistas, e renegaram inclusive a luta pelo socialismo, Mimo até os últimos dias de sua vida manteve firme sua convicção revolucionária, tanto em relação aos ideais pelos quais lutou quanto na convicção de que um dia a URSS retomará seu caminho socialista. Jamais proferiu qualquer palavra contra esta grande experiência revolucionária levada a cabo pelo povo soviético. Ao contrário sempre fez questão de citar a imensa contribuição soviética para com a luta dos povos em todos os continentes, notadamente na Europa onde liderou a luta contra o nazismo e venceu, na contribuição às lutas dos povos da Ásia, África e América Latina – Coréia, Vietnam, Guiné Bissau, Moçambique, Angola, Etiópia, Cuba, etc.
  
Mimo deixou para nós, além de seu exemplo de vida e de militância, um relato autobiográfico intitulado “Caminho”, livro publicado em meados dos anos 80, repleto de histórias, pleno de sua experiência de vida. Em parte deste depoimento, Mimo teve que omitir nomes, pois eram pessoas ainda vivas e, como manda a boa tradição não se pode dar informações para não comprometer pessoas e estruturas. Este livro é leitura
obrigatória para todos que querem conhecer um período muito importante da história brasileira. Leitura tão necessária quanto os clássicos da literatura revolucionária.
  
Apesar de uma vida repleta de agruras e dificuldades, devido à sua militância, às suas convicções e sua conduta, jamais escutei dele qualquer queixa, amargura ou ressentimento. Muito pelo contrário, dele só escutava palavras de incentivo, de firmeza, de convicção revolucionária, de coerência, de carinho e de necessidade de caminharmos sempre adiante na luta pelo progresso social e pelo socialismo.
  
Mimo, também, deixou três filhos – Glorinha, Telmo e Luiz Carlos, este em nome em homenagem a um dos maiores revolucionários brasileiros, Luiz Carlos Prestes.
  
Mimo foi um dirigente ativo do PCB. Participou de congressos do partido. Conheceu dirigentes do quilate de Luiz Carlos Prestes, Gregório Bezerra e Carlos Marighella. Admirava profundamente estas três grandes figuras de nossa história, como também admirava gente da estirpe de Carlos Lamarca. Ao contrário de alguns militantes do PCB da época valorizava profundamente os militantes comunistas que pegaram em armas nos anos 60 e 70 para lutar contra a ditadura militar. Sobre Marighella, Mimo ressaltava a sua coerência, devoção e entrega à causa. Admirava profundamente sua figura sempre consonante o seu discurso com a sua prática, as suas idéias com suas ações, apesar de que dentro do PCB, Mimo sempre seguiu as posições de Prestes.
  
Guardo um grande orgulho e agradeço muito por ter convivido com o Velho Mimo, na última década de sua vida. Agradeço-lhe muito pelas palavras e pelo seu carinho, pelo exemplo de vida, por sua conduta, disciplina e firmeza. As pequenas atitudes formam parte de um todo e, dele sempre vi atitudes positivas, de confiança no futuro, de confiança na luta dos povos, de certeza que a humanidade se libertará do jugo imperialista e da exploração capitalista, e que nós temos que contribuir para isso e não esperar que isso caia do céu ou que os outros façam.
  
Jamais esquecerei as palavras da escritora catarinense Zuleika Lenzi durante o velório do seu Mimo, que disse mais ou menos o seguinte: “Vocês que não viram este homem discursar em praça pública, perderam a oportunidade de se encantar, como eu me encantei quando via o Mimo pegar um engradado, subir em cima dele e se dirigir ao povo com uma singeleza e uma ternura muito próprias, com palavras justas, sábias e de confiança no nosso povo e na necessidade de lutarmos”.
  
O exemplo do Velho Mimo segue presente. Manoel Alves Ribeiro, presente!

Maurício Tomasoni, dirigente estadual da CCLCP (texto atualizado e publicado originalmente em 2011, quando comemorou-se 108 anos de nascimento)

Assista a entrevista de Manoel Alves Ribeiro para o Curso de Jornalismo da UFSC em agosto de 1989:


Parte 1:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=jAn4Bp0MybI
Parte 2:
http://www.youtube.com/watch?v=h53Ps70Nd7U
Parte 3:
http://www.youtube.com/watch?v=fVqW2njYggA


--
Corrente Comunista Luiz Carlos Prestes (CCLCP)
www.cclcp.org
imprensa@cclcp.org
YouTube - Vídeos desse e-mail

XXI CONVENÇÃO NACIONAL DE SOLIDARIEDADE A CUBA


Política em Cuba é coisa do povo!



Por aqui se ouve muito dizer, pela mídia, ou por pessoas-que-conhecem-pessoas-que-foram-para-Cuba, que o país vive sob uma cruel ditadura. Dizem que lá a política é coisa exclusiva para os altos membros do Partido Comunista Cubano, que para os demais resta o silêncio e o conformismo. Dizem que as pessoas têm medo de falar sobre o regime por temerem represálias… Dizem muitas coisas. Vou dizer também. Mas não o que ouvi, vou dizer o que vi da política em Cuba.

Comitês de Defesa da Revolução

Foto: Alexandre Haubrich 

Os Comitês de Defesa da Revolução (CDR’s) são o que o nome já diz. No entanto, engana-se quem possa pensar que os CDR’s são organizações militares de defesa armada da Revolução, não que eles não estejam prontos e dispostos a fazer isso se for preciso. Os Comitês de Defesa da Revolução são, na verdade, organizações políticas onde a defesa da revolução acontece no campo das ideias e da participação.
Precisamente, os CDR’s são organizações que estão em cada quarteirão de cada bairro de cada município de cada província do país, e dele fazem parte todos os moradores da quadra que tenham mais de 14 anos e que desejem participar. É função do CDR, por exemplo, deliberar sobre as necessidades da comunidade, vigiar para que não haja crianças sem estudar ou adultos sem trabalhar, escolher o candidato que vai representar a comunidade nas eleições.

Foto: Alexandre Haubrich

Os CDR’s são a instância do sistema político cubano onde a população participa diretamente e, de fato, existe uma grande participação. Andando por Havana, diversas vezes pude presenciar reuniões desses Comitês, na rua mesmo, em frente à casa do presidente do CDR. Existe a consciência de que o poder está nas mãos do povo, e o povo usa o poder que tem. Nas reuniões por que passei havia sempre cerca de 30, 40 pessoas, desde jovens até idosos. Esse é o número de pessoas que estavam participando da reunião do CDR da sua quadra, agora, imagine a expressividade da participação popular se multiplicarmos isso pelo número de quarteirões de Cuba…

Eleições

Sim, existe eleição em Cuba. E eu tive o privilégio de acompanhar o pleito do dia 03 de fevereiro, quando foram eleitos os 612 membros da Assembleia Nacional do Poder Popular e os mais de 1200 membros das Assembleias Provinciais.

IMG_4977 

O processo eleitoral cubano é realmente muito diferente do que acontece no Brasil, a começar pelo lançamento das candidaturas. Uma pessoa não pode se autoproclamar candidata, ela deve receber tal indicação da sua comunidade. São os membros dos CDR’s, portanto, que escolhem os candidatos que, mais tarde, serão votados nas eleições.  Um detalhe muito importante é que não é preciso ser membro do Partido Comunista Cubano para ser aclamado candidato, basta ser maior de 16 anos e que essa seja a vontade de seus vizinhos; logo, se a oposição não consegue ter candidatos não é porque não possa, mas porque os opositores do regime, que de fato existem, são uma minoria e não são escolhidos como candidatos pela maioria revolucionária do povo.

IMG_4956 

Outro ponto fundamental é a campanha eleitoral. Ela é simplesmente a mesma para todos os candidatos. Não existem cavaletes nas ruas, santinhos no chão, propaganda em rádio e TV… O que existe é o currículo dos candidatos, meramente. O que importa não é o candidato com a campanha mais cara, mais bonita, com as promessas mais mirabolantes, importa quem é o candidato. Por isso, ficam espalhados pela cidade, em prédios públicos, escolas, mercados, CDR’s, murais com o perfil de todos os candidatos, com: nome, idade, escolaridade (a grande maioria com nível superior), ocupação e um pequeno histórico pessoal e político. Simples, assim, é a campanha eleitoral.

IMG_5089 

Quanto às eleições que acompanhei, visitei três colégios eleitorais, dois em Caimito e um em Guayabal de Caimito. Nos três locais foi tudo muito tranquilo, chegamos, nos identificamos (estávamos em um grupo de quatro brasileiros), perguntamos sobre como funcionavam as eleições, quais eram os cargos em disputa… Acompanhamos as eleições sem nenhuma burocracia, nos explicaram o processo, nos mostraram as cédulas, os locais fechados aonde os eleitores vão para anotar seu voto, as urnas.

IMG_5097 

Nessas cédulas estão os nomes de todos os candidatos, e os votantes optam por um ou por todos. Nas eleições de 03 de fevereiro, como havia dois cargos em disputa, eram duas cédulas, cada uma depositada em uma urna diferente. As urnas são guardadas por crianças do primeiro ao nono ano, chamadas de Pioneiros de José Martí, que participam das eleições de forma voluntária. Além disso, os colégios eleitorais são responsáveis por buscar os votos de idosos e pessoas com dificuldades de locomoção. Os candidatos são eleitos mediante a maioria dos votos e podem ter seus mandatos revogados pelo povo a qualquer momento.

mural 

A política é realmente uma constante na vida dos cubanos, e ela está presente nas ruas: através de murais, cartazes, prédios pintados com temáticas e lemas da Revolução. Fora isso, além dos CDR’s, existe muitas outras organizações populares de que eles podem fazer parte, como é o caso da UJC, União de Jovens Comunistas; CTC, Central de Trabalhadores de Cuba e a FMC, Federação de Mulheres Cubanas.

*
 

Bruna Andrade

Estive em Cuba entre janeiro e fevereiro deste ano, agora, de volta ao Brasil, escrevo este blog para compartilhar a experiência de conhecer a realidade da ilha socialista. Escrevo, sobretudo, para romper com o bloqueio midiático sofrido pelo país, para falar sobre a verdadeira Cuba, que eu, desde já, asseguro ser muito diferente daquela pintada pelos grandes jornais.