O Paraguai é um dos países que mais concentra terras no mundo.
Grandes latifúndios de soja compõe cada vez mais o cenário do campo
naquele país. Como se isso não bastasse – e para o capital nunca basta,
porque sua sede de exploração não tem limites nem controle – o processo
de grilagem segue ocorrendo com todo o apoio do Estado, enquanto que a
verdadeira reforma agrária não é sequer cogitada, nem pelo presidente
Lugo, que decepciona cada vez mais fortemente o povo paraguaio.
O crescimento da resistência popular diante deste cenário não
instaura nenhum violência, apenas transforma em conflito claro e aberto
aquilo que já existia como conflito velado e, por isso mesmo, ainda mais
cruel. O episódio de sexta-feira, 15 de junho, foi uma consequência
desta situação histórica. Aproximadamente 16 pessoas saíram mortas, além
de 80 feridos, do conflito entre camponeses organizados e a polícia. O
massacre se deu a 250km de Assunção, na cidade de Curuguaty.
Segundo informes das organizações populares e do Partido Comunista
Paraguaio as terras eram fruto de grilagem efetivada no interior do
Poder Judiciário, e "pertenciam" ao ex-senador e empresário Blas N.
Riquelme. O poder executivo, por sua vez, nomeou – após o massacre – um
novo Ministro do Interior, nada mais nada menos do que o antigo membro
do "Grupo de Acción Anticomunista" (GAA), Rubén Candia Amarilla. Sua
primeira medida já foi a suspensão da possibilidade de diálogo em
conflitos análogos, que pipocam por todo o país.
A ausência histórica da reforma agrária no Paraguai só agrava ainda
mais a miséria do povo. Desta miséria se nutre o sistema do capital. A
luta por reforma agrária em qualquer país da América Latina nos dias de
hoje deve estar ligada à luta pelo socialismo, caso contrário seguiremos
limitados às mesmas possibilidades ilusórias que o pseudorreformismo de
governos como Lugo e Lula/Dilma vêm nos impondo. As amarras que ligam
os latifundiários e a burguesia ao imperialismo e o capital monopolista
foram seladas de modo que sua ruptura significaria o colapso do sistema.
Enfrentar esta tríade (latifúndio, monopólios e imperialismo),
apontando para uma nova alternativa societária, é a tarefa que nos é
exigida em nosso tempo. A luta dos camponeses Paraguaios cumpre um papel
fundamental nesse enfrentamento. Nos solidarizamos profundamente com
essa luta. Fazemos coro aos gritos de repúdio do povo paraguaio à
nomeação de Amarilla para Ministro do Interior. Repudiamos qualquer ação
de criminalização de movimentos que, longe de serem ilegais, estão
tentando reparar uma injustiça histórica.
Convocamos à todos os lutadores a se somar e se manifestar a favor do povo paraguaio e de sua luta tão justa e aguerrida!
Viva o povo paraguaio!