sexta-feira, 11 de junho de 2010

A arte negra da "administração de notícias"

Artigo

John Pilger

"Os mestres do ilusionismo, que concebem a propaganda negra e arranjam falsos pretextos para a chicana política e para guerras e atrocidades, tais como o Iraque e o assalto israelense à flotilha da paz de Gaza. Como começam as guerras? Com um "ilusionista mestre", segundo Ralph McGehee, um dos pioneiros da CIA em "propaganda negra", hoje conhecida como "administração de notícias". Em 1983, ele descreveu-me como a CIA havia forjado um "incidente" que se tornou a "prova conclusiva da agressão do Vietnã do Norte". Isto se seguia a uma afirmação, também forjada, de que navios com torpedos haviam atacado um vaso de guerra americano no Golfo de Tonquim em Agosto de 1964.

"A CIA", disse ele, "carregou um junco, um junco norte-vietnamita, com armas comunistas – a Agência mantém arsenais comunistas nos Estados Unidos e por todo o mundo. Eles rebocaram este junco ao longo da costa do Vietnã central. Então dispararam sobre ele e fizeram aparentar que tinha havido um incêndio, e levaram isto à imprensa americana. Com base nesta evidência, duas equipes de Marines aterraram em Danang e uma semana depois disso a força aérea americana começou o bombardeio regular do Vietnã do Norte". Uma invasão que ia custar três milhões de vida estava a iniciar.

Os israelenses têm jogado este jogo assassino desde 1948. O massacre de ativistas da paz em águas internacionais a 31 de Maio foi uma "pirueta" para o público israelense durante a semana passada, preparando-o para ainda mais assassínios por parte do seu governo, com a flotilha desarmada de trabalhadores humanitários a serem descritos como terroristas ou enganados por terroristas. A BBC ficou tão intimidada que relatou a atrocidade basicamente como um "potencial desastre de relações públicas para Israel", a perspectiva dos assassinos, e uma desgraça para o jornalismo.

Um ilusionismo semelhante preocupa atualmente os governos asiáticos. Em 20 de Maio a Coréia do Sul anunciou que tinha "prova esmagadora" de que um dos seus navios de guerra, o Cheonan, fora afundado em Março por um torpedo disparado por um submarino norte-coreano com a perda de 46 marinheiros. Os Estados Unidos mantêm 28 mil soldados na Coréia do Sul, onde o sentimento popular há muito apóia uma distensão com Pyongyang.

A 26 de Maio, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, foi a Seul e afirmou que a "comunidade internacional deve responder" ao "ultraje da Coréia do Norte". Ela viajou a seguir ao Japão, onde a nova "ameaça" da Coréia Norte convenientemente eclipsou a breve política externa independente do primeiro-ministro japonês Yukio Hatoyama, eleito no ano passado com a popular oposição à ocupação militar permanente do Japão pelos Estados Unidos. A "prova esmagadora" é uma hélice de torpedo que "tem estado a corroer-se durante pelo menos vários meses", informou o Korea Times. Em Abril, o diretor da inteligência nacional da Coréia do Sul, Won See-hoon, disse a um comitê parlamentar que não havia prova ligando o afundamento do Cheonan à Coréia do Norte. O ministro da Defesa concordou. O chefe de operações militares da marinha da Coréia do Sul disse: "Nenhum vaso de guerra norte coreano foi detectado nas águas em que o acidente se verificou". A referência a "acidente" sugere que o navio abalroou um recife e partiu-se em dois.

Para os media americanos, a culpa da Coréia da Norte é indubitável, assim como não havia dúvida da culpa do Vietnã do Norte, nem de que Saddam Hussein dispunha de armas de destruição em massa, nem de que Israel pode aterrorizar com impunidade. Contudo, ao contrário do Vietnã e do Iraque, a Coréia do Norte tem armas nucleares, as quais ajudam a explicar porque não foi atacada, ainda não: uma lição saudável para outros países, tais como o Irão, atualmente no centro das atenções.

Na Grã-Bretanha, temos os nossos próprios ilusionistas mestres. Imagine alguém no estado apanhado a beneficiar-se de £40 mil [€45,4 mil] de dinheiro dos contribuintes numa fraude com uma segunda casa. Seguir-se-ia quase certamente uma sentença de prisão. David Laws, secretário chefe do Tesouro, fez o mesmo e é assim descrito:

"Sempre admirei a sua inteligência, seu sentido do dever público e sua integridade pessoal" (Nick Clegg, vice-primeiro-ministro). "O Sr. é um homem bom e honrado. Estou certo de que foi sempre motivado pelo desejo de proteger a sua privacidade ao invés de qualquer outra coisa". (David Cameron, primeiro-ministro). Laws é "um homem de nobreza bastante excepcional" (Julian Grover, Guardian ). Uma "mente brilhante" (BBC).

O Clube Oxbridge e seus membros associados à política e aos media tentaram ligar o "erro de julgamento" e a "ingenuidade" de Laws ao seu "direito à privacidade" como gay, uma irrelevância. A "mente brilhante" é um rico banqueiro de investimento cultivado em Cambridge e corretor de ouro dedicado à nobre tarefa de cortar os serviços públicos da maior parte das pessoas pobres e honestas.

Agora imagine outro responsável público, um dos grandes criminosos e mentirosos de guerra. Este responsável "articulou" a invasão ilegal de um país indefeso que resultou na morte de pelo menos um milhão de pessoas e o despojamento de muitos mais: com efeito, o esmagamento de uma sociedade humana. Se isto fosse nos Bálcãs na África, ele muito provavelmente teria sido processado pelo Tribunal Penal Internacional.

Mas o crime compensa para os membros do clube. Em sintonia com o caso Laws, esta verdade foi demonstrada pela contínua celebração de Alastair Campbell, cujas freqüentes aparições na mídia proporcionam uma emoção indireta para a inteligência liberal. Para o Guardian, Campbell é "obstinado, por vezes mal direcionado, mas sem medo de pressionar onde outros podiam ter hesitado". O interesse imediato do Guardian é a publicação "exclusiva" dos diários "politicamente explosivos" e "não censurados" de Campbell. Aqui está uma amostra: "Sábado 14 de Maio. Telefonei a Peter [Mandelson] e perguntei por que ele não respondeu aos meus telefonemas de ontem. 'Você sabe por que'. "Não, não sei'. Ele disse que estava em brasa com a minha entrevista ao Newsnight".

Numa entrevista promocional ao Guardian, Campbell dispensou deste incesto datado, referindo-se assim ao banho de sangue de que foi o principal apologista: "Fez-nos o Iraque perder apoio em 2005?", perguntou retoricamente. "Sem dúvida..." Portanto, uma tragédia criminosa de escala igual à do genocídio de Rwanda foi minimizada como uma "perda" para o New Labour: um ilusionista mestre de notável brutalidade.

03/Junho/2010

O original encontra-se em http://www.johnpilger.com/page.asp?partid=578



Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Fidel Castro: No limiar da tragédia

9 de Junho de 2010 - 9h16



Desde o dia 26 de março, nem Obama nem o Presidente da Coreia do Sul têm podido explicar o que realmente aconteceu com o navio insígnia da Marinha de Guerra sul-coreana - o moderníssimo caça-submarino Cheonan, que participava de uma manobra com a Armada dos Estados Unidos ao oeste da Península da Coreia, próximo aos limites das duas Repúblicas -, deixando 46 mortos e dezenas de feridos.



Por Fidel Castro, em Portal Cuba



O embaraçoso para o império é que seu aliado conheça, de fontes fidedignas, que o navio foi afundado pelos Estados Unidos. Não existe maneira de eludir esse fato que os acompanhará como uma sombra.


Em outra parte do mundo, as circunstâncias se ajustam igualmente a fatos muito mais perigosos que os do Leste da Ásia e que não podem deixar de acontecer sem que a superpotência imperial consiga formas de evitá-los.


Israel não se absteria de ativar e usar, com total independência, o considerável poder nuclear criado nesse país pelos Estados Unidos. Pensar de outra maneira é ignorar a realidade.

Outro assunto muito grave é que as Nações Unidas tampouco têm alguma maneira de mudar o curso dos acontecimentos e muito em breve os ultra-reacionários que governam Israel se chocarão com a indomável resistência do Irã, uma nação de mais de 70 milhões de habitantes e de conhecidas tradições religiosas que não aceitará as ameaças insolentes de nenhum adversário.


Em duas palavras: o Irã não cederá perante as ameaças de Israel.


Os habitantes do mundo, logicamente, desfrutam cada vez mais dos grandes acontecimentos esportivos, aqueles relacionados com o divertimento, a cultura e outros que ocupam seus limitados espaços de lazer, no meio dos deveres que lhes ocupam grande parte de seu tempo dedicado aos afazeres cotidianos.

Nos próximos dias, o Campeonato Mundial de Futebol que acontecerá na África do Sul lhes arrebatará todas as horas livres de seu tempo. Com crescente emoção, acompanharão as vicissitudes das personagens mais conhecidas. Observarão cada passo de Maradona e não deixarão de lembrar o instante do espetacular gol que decidiu a vitória da Argentina num dos clássicos.


Novamente outro argentino vem surgindo espetacularmente, de estatura baixa, mas veloz, que aparece como raio e, com as pernas ou a cabeça, dispara a bola à velocidade insólita. Seu sobrenome: Messi, de origem italiana, já é bem conhecido e mencionado por todos os fanáticos.

A imaginação deles é levada até o delírio quando chegam as imagens dos numerosos estádios onde ocorrerão as competições. Os projetistas e arquitetos criaram obras jamais sonhadas pelo público.


Aos governos que sempre estão reunidos para cumprir as obrigações que a nova época impôs sobre seus ombros, o tempo é curto para conhecerem a imensa quantidade de notícias que a televisão, o rádio e a imprensa escrita divulgam constantemente.

Quase tudo depende exclusivamente da informação que recebem dos seus assessores. Alguns dos mais poderosos e importantes Chefes de Estado, que tomam as decisões fundamentais, costumam usar os telefones celulares para se comunicar diariamente entre eles várias vezes.

Um número crescente de milhões de pessoas no mundo vive apegado a esses pequenos aparelhos sem que ninguém saiba qual o efeito que terão na saúde humana. Dilui-se a inveja que deveríamos sentir por não ter desfrutado dessas possibilidades em nossa época, que se afasta pela sua vez velozmente em muito poucos anos e quase sem dar-nos conta.

Ontem, em meio à voragem, foi publicado que possivelmente hoje Conselho da Segurança das Nações Unidas poderia votar uma resolução pendente para decidir se é imposta uma quarta rodada de sanções ao Irā, por negar-se a parar o enriquecimento do urânio.


O irônico desta situação é que se fosse Israel, os Estados Unidos da América e seus aliados mais próximos diriam logo que Israel não assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear e vetariam a resolução.


No entanto, se o Irã é acusado simplesmente de produzir urânio enriquecido até 20%, é solicitada imediatamente a aplicação de sanções econômicas para asfixiá-lo e é óbvio que Israel atuaria como sempre, com fanatismo fascista, igual como fizeram com os soldados das tropas de elite lançados de helicópteros, em horas da madrugada, sobre os que viajavam na flotilha solidária, que transportava alimentos para a população sitiada em Gaza, matando várias pessoas e ferindo dezenas que foram depois presas juntamente com os tripulantes das embarcações.


Logicamente tentarão destruir as instalações onde o Irã enriquece uma parte do urânio que produz. Também é lógico que o Irã não se conformará com esse tratamento desigual.


As conseqüências dos enredos imperiais dos Estados Unidos poderiam ser catastróficas e afetariam a todos os habitantes do planeta, ainda mais do que todas as crises econômicas juntas.


Fidel Castro

8 de Junho de 2010

O MOVIMENTO AVANÇANDO SINDICAL (MAS) REPUDIA O OPORTUNISMO E A IRRESPONSABILIDADE RECORRENTE DO PSTU

A REPETIÇÃO DE MÉTODOS IMPOSTOS POR MAIORIAS ARTIFICIAIS SÓ EVIDENCIA QUEM NÃO TEM COMPROMISSO COM A CONSTRUÇÃO DA CENTRAL CLASSISTA.


A realização do Congresso da Classe Trabalhadora – CONCLAT, na cidade de Santos-SP, nos dias 5 e 6 de junho, tinha tudo para ser um evento repleto de êxito, não fosse a falta de bom senso por parte da maioria Conlutas, hegemonizada pelo PSTU. A partir do momento em que o PSTU tentou, contando com uma maioria eventual, impor a sua forma de organização ao conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras que ali estavam na condição de delegados e delegadas eleitos pela base, acabou por interditar, talvez de forma irremediável, mais de cinco anos de acúmulo com vistas à construção de uma Central das Classes Trabalhadoras.



Militantes da Conlutas; da Intersindical; do Movimento Avançando Sindical – MAS; do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade – MTL; do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST; da Pastoral Operária - PO Metropolitana de São Paulo, e de várias outras organizações, têm feito esforços sobre-humanos para construir uma Central combativa, classista, autônoma com relação aos patrões, ao estado e aos governos; independente com relação aos partidos políticos e aos credos religiosos; que reúna trabalhadores do campo e da cidade, com ou sem carteira assinada, com ou sem emprego, mas que queiram se organizar como integrantes da imensa massa de explorados e oprimidos de nosso país; uma Central que refugue para a lata de lixo da história o sindicalismo de cartório, oficialesco, subordinado aos ditames do estado autocrático burguês; uma Central que respeite e apóie todas as lutas econômicas e imediatas dos trabalhadores e trabalhadoras, que oriente o conjunto destas lutas com bandeiras mais elevadas para a emancipação do trabalho diante da exploração e a opressão capitalista, sendo ela própria uma escola para a construção do socialismo; uma Central democrática, que respeite o conjunto de seus integrantes, que esteja submetida à vontade das bases, que saiba incluir as minorias sem abdicar da condição de Central Classista; uma Central que não pretenda submeter nenhum outro setor oprimido à sua própria natureza e caráter, com cifras burocráticas de participação que engessam a própria Central Classista, e que destroem a autonomia dos outros setores.



Sem qualquer dúvida, essa era a vontade mais profunda da imensa maioria das delegadas e dos delegados participantes do CONCLAT de Santos. Mas o centralismo imposto pelo PSTU à maioria dos integrantes da Conlutas, em um congresso desta, realizado exatamente na véspera do CONCLAT, impossibilitou o debate franco e fraterno que garantisse a produção de novos conceitos e a construção conjunta de concepções que pudessem representar minimamente a vontade de todos os setores construtores e participantes do CONCLAT. Prevaleceu, lamentavelmente, a imposição das vontades, as palavras de ordem sem conexão com uma reflexão de conteúdo, o sectarismo ao invés do diálogo apto a aceitar o argumento das outras partes. No fundo dos argumentos dos defensores das teses do PSTU, a acusação velada de que os outros são homofóbicos, racistas, machistas, elitistas e anti-estudantis. Como se estudantes trabalhadores, mulheres trabalhadoras, negros e negras trabalhadoras, homossexuais trabalhadores e trabalhadoras tivessem alguma rejeição dos opositores às teses do PSTU. Nada mais falso, mais oportunista e mais enganador! Defendemos que estudantes, negros, homossexuais, mulheres, desde que integrantes da classe trabalhadora, participem dos sindicatos, associações e movimentos de suas respectivas categorias de trabalhadores, e, portanto, estejam aptas e aptos a fazer parte da direção da Central Classista que queremos construir. Isto não significa que somos contra a existência de movimentos organizados pela condição de gênero, étnica e de opção sexual, pelo contrário, defendemos inclusive que estes movimentos façam parte de um Fórum ou Coordenação de lutas que reúnam todas as formas de lutas. Contudo, somos absolutamente contrários que isto seja um impedimento para a construção de uma central classista, pois a superação do capitalismo passa pela vitória das classes trabalhadoras sobre a burguesia, pela sua condição de classe produtora do próprio capital. Portanto, a sua organicidade enquanto classe em e para si é central! E é claro, que a Central Classista terá a tarefa de combater todas as formas de preconceitos, de formular políticas para a defesa de todos os oprimidos, e o vigor revolucionário da Central estará justamente na capacidade de construir programas neste sentido e de garantir a sua efetivação. Se uma Central que se pretenda classista, constituir-se por outras motivações que não a motivação de classe, até mesmo sua democracia interna estará prejudicada, pois estará garantida, em estatuto, a possibilidade de dupla e até de tripla representação, ou seja, se o militante não sai como delegado às instâncias da Central pelo seu sindicato, sai por outros movimentos, de opressão, gênero, etc. distorcendo a democracia interna.



Para nós do Movimento Avançando Sindical – MAS, a deliberação mais grave foi justamente a que resolveu manter, para a possível nova Central, o mesmo caráter existente na Conlutas, de outras formas de representação que não a vinculada à condição de classe trabalhadora do militante. Nós do MAS, assim como o MTL, já saímos há um ano e meio da Conlutas, também por isso. Os companheiros e companheiras da composição “Unidos para Lutar”, afirmam que não voltam mais para a Conlutas também por causa desta questão. Tantas outras entidades ou militantes de oposição nunca foram para a Conlutas por este motivo. Mas o PSTU insiste nesse ponto, e, conhecendo sua posição obreirista histórica, não nos sobra avaliação a não ser a certeza de que estão defendendo isso justamente para perpetuar sua hegemonia no interior deste movimento, pois é a fórmula que garante a todos os seus militantes serem delegados para qualquer instância da Central. E isso ficou claro em uma votação logo em seguida à votação do caráter da central, quando decidiram que os estudantes poderiam participar já da primeira diretoria da Central, mesmo que no caso deste CONCLAT nenhum era delegado pela condição estudantil, a menos que os critérios tenham sido burlados.



Quando foi votado o caráter da Central o PSTU alcançou seu objetivo principal, e nós, todos os outros, já tivemos a derrota principal, a de princípio. Mas o PSTU achou pouco, e fez aprovar o nome da Central que significa justamente a continuidade da fórmula Conlutas de ser. Além disso, ao impor o nome “Conlutas/Intersindical”, mesmo com a desautorização formalizada pela Intersindical, o PSTU humilhou todos os outros setores, todas as outras forças convocantes do CONCLAT e todos os setores que não foram para a Conlutas justamente por não concordarem com essa fórmula. Esta foi a razão pela qual a base se retirou do plenário.



E não venha o dirigente mor do PSTU afirmar que os que saíram não respeitam a “democracia operária” e que poderão voltar quando respeitarem a “democracia operária”. Não fosse irritante, essa seria uma piada de mau gosto! Atropelar de forma insensata e oportunista o conceito de classe trabalhadora e vir falar em “democracia operária” só mesmo numa situação em que o oportunismo suplantou qualquer noção de realidade. Da nossa parte, não temos nenhuma intenção de voltar se os métodos e os conceitos forem os mesmos, justamente pelo respeito que temos ao proletariado em geral e, especialmente, à classe operária.



Continuaremos defendendo os mesmos princípios apresentados em nossas teses e minimamente expostos no segundo parágrafo desta nota, assim como os métodos mencionados neste conjunto. Por falar em método, eles são importantes e expressam um conteúdo. Das questões mais específicas às mais abrangentes, os métodos são fundamentais. Quando a Conlutas e a Intersindical dirigiram todas as mesas do CONCLAT que não terminou (com exceção da última mesa, que foi dirigida pela Conlutas e por uma companheira do MTL, curiosamente que defendeu, em tudo, a mesma posição do PSTU), e a mesma dinâmica foi extensiva aos trabalhos de grupo, as outras forças convocantes do CONCLAT foram desrespeitadas, diminuídas em seus esforços para a construção de todo o processo. Isso precisa mudar para existir a continuidade de qualquer processo de construção de uma Central das Classes Trabalhadoras. É preciso mudar também a confusão na relação entre trabalho sindical e trabalho partidário. Se o CONCLAT que não terminou não teve tempo para discutir bandeiras de luta, táticas, política internacional, programa de sociedade, combate ao racismo, à homofobia, à opressão de gênero, não faltou tempo para verdadeiras pré-convenções partidárias, especialmente por parte do PSTU. Felizmente, Plínio de Arruda Sampaio não foi até lá, pois isso o colocaria no mesmo patamar do dirigente mor do PSTU neste aspecto!



Queremos construir uma Central das Classes Trabalhadoras – CECLAT, com este ou com outro nome, mas que mantenha os princípios e os métodos de Central Classista. Queremos discutir isso com todos os setores que defendem a autonomia da classe frente aos patrões, ao estado e aos governos, e sua independência organizativa quanto aos partidos políticos. Os partidos de formação social proletária são bem vindos, para fortalecer o debate da classe, trazendo subsídios, programas, instrumentos de luta; jamais para se apropriar do esforço de militantes proletários que não são de nenhum partido e, em hipótese alguma para sugar recursos financeiros dos trabalhadores e trabalhadoras para construção partidária ou para objetivos eleitorais. Apenas se um Congresso da Classe decidir, por consenso, apoiar uma determinada candidatura é que podemos admitir esta hipótese, e sem o uso de recursos financeiros das entidades de massa.



Para nós do MAS, organização convocante, o CONCLAT não terminou. Três das seis organizações convocantes e mais a “Unidos Pra Lutar” que também reivindica o processo de reorganização, se retiraram do plenário. Nós não reconhecemos, portanto, qualquer encaminhamento ou deliberação. A Conlutas, diante de uma eventual maioria, utilizou os mesmos métodos da Articulação (PT) na CUT para impor sua posição. Subverteu a democracia operária impondo na prática uma tese guia e votando tudo o que lhe interessasse. Não ouviu os apelos da metade do plenário. Não dialogou, não respeitou o fato da INTERSINDICAL ter desautorizado o uso do seu nome na central que se pretendia criar e não respeitou o fato da INERSINDICAL levar às últimas conseqüências a unidade a ponto de rachar o seu último encontro. Quem tirou a esperança da unidade foi a Conlutas. Deixemos, portanto, eles sentirem o reflexo da sua irresponsabilidade.



Continuaremos dedicando nossos esforços para construir a Central que a nossa classe tanto precisa, e queremos fazer isso com todos que estejam à altura de compreender este desafio e suas dificuldades, mas que estejam prédispostos a respeitar efetivamente todos os setores legítimos organizados na base da classe. Intersindical, Unidos para Lutar, MTL, MTST, PO, Refundação Comunista já estão no campo que reúnem os princípios básicos de Central que defendemos. Vários outros setores podem vir, e consideramos importante que venham, como os camaradas do PCB, a parte da Intersindical que não esteve até agora nesta tentativa de construção, setores independentes, militantes de base que buscam ansiosos um instrumento nacional de luta. Também conclamamos o MST para este debate, é fundamental que este setor tão importante esteja neste esforço. Com certeza a nossa classe é maior que a inconseqüência e a irresponsabilidade de pretensas vanguardas exclusivistas e excludentes. Mesmo que inicialmente com pouca expressão (o que não é dificuldade somente nossa na atual conjuntura brasileira), com certeza estes setores, aglutinados em um organismo nacional capaz de entender o momento histórico e suas vicissitudes, poderão crescer bastante em poucos anos. Defendemos a reabertura e a continuidade dos trabalhos para a construção de uma Central das Classes Trabalhadoras, classista, generosa e fraterna, desde já, sem postergação e sem ingenuidade em relação a companheiros que já mostraram, mais de uma vez, a intenção de manter a hegemonia, mesmo atropelando princípios e métodos.





São Paulo, 8 de junho de 2010.





Saudações Classistas e Fraternas!







Movimento Avançando Sindical - MAS

Criminosa Hipocrisia do Parlamento Europeu

Azalea Robles*



27.Mai.10

Quanto mais evidente se torna a fase senil do capitalismo, maior é a pressão e o recurso à mentira e à falsidade dos meios de comunicação do sistema contra Cuba e todos os que se opõem coerentemente ao sistema.



Num comunicado contra Cuba empapado de mentiras até à medula e assinado por “intelectuais” a circular nos blogs criados pela CIA refere-se que Zapata Tamayo foi “brutalmente torturado” o que, sendo uma mentira crassa, nos deve fazer recordar a quem talvez não o saiba o que é isso de ser “brutalmente torturado”.

Diomedes Meneses, brutalmente torturado pelo Estado colombiano: os militares do Estado colombiano tiraram-lhe um olho com uma navalha, deixando-o em cadeira de rodas e agora o estabelecimento prisional continua a tortura deixando a gangrena minar-lhe uma perna e negando-lhe assistência médica enquanto o corpo literalmente apodrece e lhe devora a vida (1).

Isso é tortura. É criminoso que os signatários contra Cuba aceitem tanta falsidade e disfarcem as suas acções anticubanas como “humanitarismo”, quando na verdade pouco lhes importa a humanidade.

A oligarquia mundial desencadeou nestes últimos dias um ataque do seu ódio contra Cuba: um ataque mediático, diplomático e económico. A oligarquia mundial mantém contra Cuba um ódio inabalável e visceralmente marcado pelos interesses próprios. É bem normal que a oligarquia odeie de morte Cuba e, em particular, o sistema social de que a ilha beneficia, pois em Cuba conseguiu-se consolidar a única revolução contemporânea da América Latina.

Quer dizer, é o único pais que conseguiu, graças à valentia do seu povo e também por factores circunstanciais, históricos e contextuais, uma independência real na América Latina. Os outros países latinoamericanos continuam a viver com estruturas estatais que obedecem a uma ordem mundial claramente neocolonial e num regime capitalista no qual são considerados “países-taberna”, quer dizer, destinados ao saque arrasador e ao consequente empobrecimento. Alguns países gozam de governos progressistas, inspirados por ideias bolivarianas e socialistas, mas em substância as estruturas de um sistema de exclusão como o capitalismo não mudaram ainda. Cuba continua a ser o único país emancipado da América Latina, depois de uma revolução vitoriosa consolidada após anos de resistência aos ataques dos EUA, da UE e do autodenominado “mundo livre” na sua globalidade.

E não é por falta de povos corajosos, nem por falta de apreço, nem por falta de sacrifício, que os outros povos não conseguiram a revolução que Cuba conseguiu, é porque as oligarquias locais e a sistemática ingerência estrangeira mantiveram o despotismo dos Estados repressores na América Latina à custa de massacres e terrorismo de Estado. Qualquer veleidade de reivindicação social dos povos tem sido criminosamente atacada. São muitos os casos.

A revolução nicaraguense foi assassinada à nascença, um assassinato perpretado por aqueles que temiam uma revolução em terras do continente e cujos interesses económicos e hegemónicos se veriam afectados pela consolidação da emancipação do povo da Nicarágua: bombardearam o país durante 5 anos e introduziram os Contra (paramilitares) financiados pela CIA com dinheiro do narcotráfico (caso Irão- Contra).

Da mesma forma que hoje financia as operações secretas e genocidas contra todos os povos que tentam libertar-se, a CIA aguenta o criminoso Estado colombiano (através de planos sistemáticos de extermínio da oposição, como o plano “LASO” ou o plano “Baile Rojo”), a olgarquia colombiana e as multinacionais têm este Estado como instrumento de viabilização do saque, esmagando resistências e reivindicações sociais, e o dinheiro do narcotráfico gerido em conjunto pela oligarquia paramilitar da Colômbia e pela CIA financia os massacres contra a população colombiana (além do dinheiro público dos impostos, fazem falta quantias rápidas em certas operações de terrorismo de Estado, e a gestão do narco fornece-as).

A CIA por sua vez usa o dinheiro do narcotráfico para financiar as suas operações secretas contra os povos que procurem libertar-se: golpes de Estado (o caso mais recente das Honduras), desestabilização e financiamento dos paramilitares contra o processo de emancipação da Venezuela, paramilitares contra a resistência nas Honduras, reactivação do terror paramiltar no Perú (particularmente nas zonas de maior interesse para as empresas mineiras), injecção de Maras (Mara = gang criminoso com origem em Los Angeles disseminado na América Central – N.T.) e de estruturas destinadas à desintegração social na América Central coordenadas na Guatemala pelas sanguinárias PAC de Rios Montt (2), etc.

A gestão do narcotráfico é claramente um assunto da CIA e, tanto na Colômbia, como no México, os rendimentos respectivos são geridos por máfias locais estreitamente relacionadas com os próprios governos (quando não por eles implantadas) e cujo fim é neutralizar a reivindicação social através do terror e garantir militarmente o controle dos recursos para o grande capital, sendo os rendimentos do narcotráfico parte do seu prémio, assim como combustível para o terrorismo de Estado local e para a exportação do paramilitarismo sob os auspícios da agência terrorista número um no mundo, com sede em Washington. Assim, tudo o que se passa, se instala ou se desenvolve em qualquer região latino-americana, tem efeito directo noutra região.

No meio do saque perpretado pelas multinacionais e pela oligarquias locais, e com todo o criminoso empobrecimento provocado por esse saque, é normal que ter-se um exemplo claro de que outro sistema social é possível seja visto com ódio pelos saqueadores. Cuba é o “mau exemplo”. Os saqueadores sabem que a existência da Cuba revolucionária é uma vitamina de esperança para todos os povos da América e do mundo.



A miséria na América Latina humilha todos os povos saqueados e empobrecidos. Cuba, por dispor de um sistema diferente, não sofre destes males.

No autoproclamado “mundo livre” (o mundo sob o sistema capitalista), em cada 7 segundos morre de fome uma criança com menos de dez anos. Nenhuma delas é cubana.

De acordo com a FAO, 842 milhões de pessoas sofrem de malnutrição crónica. Nenhuma delas é cubana.

No “mundo livre”, 200 milhões de crianças vivem e dormem nas ruas. Nenhuma delas é cubana.

Na América Latina e nas Caraíbas, há 228 milhões de pobres, 102 milhões deles em completa indigência, ou seja 42% da população na pobreza e 20% em total indigência. Nenhum delas em Cuba. (CEPAL. Fontes actualizadas com o último relatório CEPAL e com as previsões da OCDE para 2010, nas quais se prevê que mais 39 milhões de pessoas caiam na pobreza durante este ano (3)).

Cada dia, morrem no mundo de causas completamente evitáveis cerca de 35.000 crianças (UNICEF, relatório “Estado Mundial da Infância 2009”). Cuba, apesar de país bloqueado, possui índices de saúde iguais aos do “primeiro mundo” (“taxa de mortalidade infantil de 4,7 por mil nascimentos vivos, apresentando 26 dos 169 municípios cubanos uma mortalidade zero” (UNICEF), isto porque existe vontade e decisão política e sobretudo porque o sistema cubano não permite a liberdade de acumular e capitalizar em grandes monopólios. É esta capitalização que exclui às maiorias o acesso ao suprimento das suas necessidades mais vitais, como acontece no “mundo livre”.

Na América Latina, morrem dezenas de milhar de pessoas todos os anos por falta de cuidados médicos, excepto em Cuba. Cuba é o país que tem o mais elevado número de médicos por habitante e a medicina em Cuba não é um negócio, é um direito humano.

Morrem actualmente quase dois milhões de crianças no mundo só por falta de água potável e saneamento adequado. Nenhuma criança morre em Cuba por estas causas. (4)

No entanto, as fábricas de opinião tratam sem cessar de desprestigiar e destruir o sistema cubano, mentindo sistematicamente e ocultando evidentemente os números aquí expostos, os quais no entanto organismos como a UNICEF tiveram que reconhecer.

De Cuba, os meios de comunicação falam-nos de uns supostos “presos políticos”. Olhemos em detalhe: a lista dos pretensos “presos políticos”, a mais inflacionada de todas, não chega a 50, entre os quais encontramos nem mais nem menos que pessoas que recebiam salário da CIA para fomentar a desintegração social, delinquentes comuns que bateram em mulheres e pessoas que estão presas por terem colocado bombas em hotéis.

É impressionante como o “mundo livre” fala sem cessar dos “presos cubanos”, enquanto torna totalmente invisíveis os milhares de presos políticos mexicanos, peruanos, nigerianos, colombianos, porque todos eles são presos dos quais os media preferem não falar. Este tratamento criminoso dos media contra os presos políticos é uma parte da guerra mediática: procura-se esconder que nos países cujos regimes são favoráveis ao saque multinacional há milhares e milhares de presos políticos.

Nos regimes amigos dos EUA e da UE, que são tratados pelos media como “democracias exemplares”, todos os que se opõem ao espólio são encarcerados, quando não feitos desaparecer. E enquanto o sofrimento de milhares de presos políticos é ocultado nos regimes verdadeiramente ditatoriais e torturadores como o nigeriano ou o colombiano, amplifica-se e deturpa-se a situação de 50 pessoas presas em Cuba por delito comum, ou pior, por terem recebido dinheiro da CIA e terem cometido atentados provocando vítimas em Cuba.

José Manzaneda, coordenador de “Cuba Información”, resume assim: “Os governos dos países mais poderosos e ricos do mundo apoiam-se neste “argumento” para pressionar o governo cubano e tratar de forçar mudanças na ilha de acordo com os seus interesses políticos e económicos. Há que recordar que nenhum dos chamados “dissidentes” foi condenado por delitos de opinião, mas sim pela sua colaboração directa com o governo dos EUA (…). Os denominados “dissidentes” cubanos receberiam penas muito superiores pelos seus delitos em qualquer dos países citados (5) (…). Para todos ficou provada a recepção directa ou indirecta de fundos do governo dos EUA e a colaboração com a política de guerra contra o país. (…) Os delitos dos chamados “dissidentes” não têm portanto nada que ver com a liberdade de expressão, mas antes com a colaboração com uma potência estrangeira inimiga.”

Os presos políticos silenciados: não sofrem? não são humanos? porque os tornam invisíveis?

7500 presos políticos na Colômbia (6) são tornados completamente invisíveis pelos media. São sindicalistas, estudantes, professores, camponeses, ecologistas, todos do povo, encarcerados na sua maioria depois de toscas montagens judiciais e condenados por “terrorismo”. A quantidade de presos políticos na Colômbia é escandalosa e as suas condições de vida são infra-humanas, uma vez que o Estado colombiano é um dos principais Estados torturadores do mundo (OMCT). Mas a subvalorização mediática destes milhares de presos políticos domesticou inclusivamente as mentes de pessoas de “esquerda”, que não os reclamam como deviam.

O terrorismo de Estado na Colômbia fez desaparecer mais de 50.000 pessoas (7). O terror estatal deslocou das suas terras mais de 4 milhões e meio de pessoas, através dos militares e dos seus intrumentos paramilitares, oferecendo assim as terras sem habitantes, nem reivindicações às multinacionais e ao poder agro-industrial.

Um “cadáver útil” para reactivar a campanha de ódio contra Cuba, ódio à equidade num mundo em que 2000 milhões de pessoas vivem abaixo do limiar de pobreza

De acordo com a ONU, a pobreza atingiu em 2009 limites insuspeitados, abrangendo 2000 milhões de pessoas vivendo abaixo do limiar de pobreza. Mesmo nos países mais ricos como os EUA e a UE, o sistema de exclusão também gera milhões de pobres, já que segundo o estudo 35 milhões de cidadãos dos EUA vivem na pobreza e mais de 60 milhões de pessoas estão abaixo da linha de pobreza na Europa. No mundo, sofrem de fome todos os dias 1200 milhões de pessoas, entre as quais 350 milhões de crianças. Tudo isto é devido à injusta repartição da riqueza, já que este planeta tem suficientes recursos para abastecer o mundo inteiro.

Os 2% de pessoas mais ricas acumulam mais de metade da riqueza total do planeta, enquanto o conjunto dos mais pobres da população adulta do mundo dispõe apenas de 1% da riqueza para o seu sustento. Segundo um relatório do Instituto Mundial para Investigação do Desenvolvimento Económico da UNU (UNU-WIDER), “a riqueza está muito concentrada na América do Norte, na Europa e nos países de rendimentos elevados na área Ásia-Pacífico (Austrália e Japão)”. “A população destes países possui 90% da riqueza total mundial.” (8).

A morte de Orlando Zapata Tamayo (9) em Cuba, ofereceu à propaganda anticubana o pretexto sonhado para uma intensificação do ataque permanente de agressões económicas, diplomáticas e mediáticas qua a ilha sofre. Agora, depois de 50 anos à procura de um mártir que nunca encontraram porque a Cuba revolucionária respeita os direitos humanos (ao contrário dos governos repressores da região que são cinicamente denominados “democracias”), têm finalmente o seu “cadáver útil”. O grémio anticubano e a CIA, com a sua desinformação e lavagem ao cérebro sistemáticos, empurraram para a morte o preso comum Orlando Zapata Tamayo, a fim de terem um cadáver para converter em “cadáver de um dissidente” e com o qual armar a guerra mediática, económica e diplomática contra Cuba.

A morte é sempre triste e o mais triste de tudo é que Orlando Zapata Tamayo foi empurrado para a morte pelos mesmos que agora lucram com ela.

Provavelmente, o homem, manipulado e sacrificado, não se deu conta da iminente realidade da sua morte, nem que a sua morte ia ser utilizada da forma tão vil como está sendo, convertendo-o no “mártir” dos que o assassinaram por indução. Numa gravação telefónica, apanha-se a cínica conversa entre dois cabecilhas do mercenário cubano de Miami que opera em Cuba, pago pela CIA. Na conversa entre Yaniset Rivero, membro da organização contra-revolucionária “Directorio Democrático Cubano” com sede em Miami, e Juan Carlos González Leiva, seu agente em Cuba, torna-se evidente que a vida de Orlando Zapata Tamayo não os preocupa e que o seu verdadeiro interesse não é que a mãe acompanhe o seu filho, mas antes poder utilizá-la para uma conferência de imprensa, mostrando-se a conversa arrepiante e digna de ser escutada (10).

A CIA e o grémio da mafia cubana de Miami viam Zapata como um “descartável”, alguém que lhes era mais útil morto do que vivo, uma vez que morto constitui o ambicionado “mártir”. Em 50 anos, os anti-revolucionários do mundo não tinham conseguido obter uma morte em circunstâncias de greve de fome em Cuba (não como em Espanha, na Colômbia, nos Estados Unidos, no Perú, etc.) e agora esta morte parece “enchê-los”, porque podem basear as suas falácias contra Cuba num morto real, ainda que este morto tenha perecido em circunstâncias muito diferentes das que difundem os media (mas a verdade é um “pormenor”, a desinformação tratará de revestir a sua morte das características desejadas pela guerra mediática contra Cuba).

José Manzaneda resume o lamentável caso: “Ao contrário do afirmado pelos media, Zapata não formava parte do grupo de 75 pessoas detidas em Havana em Março de 2003 por ligações ao governo dos EUA. Este governo não incluíu o seu nome na lista dos supostos ‘prisioneiros políticos’ apresentada à Comissão de Direitos Humanos da ONU. Foi na prisão que foi aliciado por Oswaldo Payá e Marta Beatriz Roque, representantes da contra-revolução cubana mais fiel a Washington. A família começou então a receber dinheiro de organizações da mafia de Miami, como a Fundación Nacional Cubano Americana, financiada pelo governo americano e responsável pela morte de inúmeros civis devido a acções terroristas em Cuba (…). Incitaram-no a fazer esta greve da fome com base em petições impossíveis (telefone e cozinha na cela), que começou a 18 de Dezembro de 2009. Ainda que se tenha negado sempre a receber assitência médica, foi tratado e atendido contra sua vontade em vários hospitais do país. Um ano antes, em Março de 2009, tinha sido operado a um tumor cerebral.

As mentiras surgidas nos meios de comunicação são imensas, mas é especialmente escandalosa a versão de que faleceu pela recusa do director da prisão de lhe dar água durante 18 dias. A causa final da sua morte no passado dia 23 de Fevereiro de 2010 foi uma pneumonia que afectou ambos os pulmões. Desta forma, a autodenominada “dissidência” cubana, desprezada pela imensa maioria do povo de Cuba pela sua natureza mercenária, conseguiu uma cumplicidade mediática e diplomática sem precedentes e um mártir sobre o qual apoiar a sua estratégia de sobrevivência” (11).

Este assunto revela a ignomínia destes grupúsculos coordenados pela CIA, cujo membro terrorista mais famoso é sem dúvida Posada Carriles, que assassinou 73 pessoas no atentado contra o avião cubano em 1976 em Barbados. A nova campanha de propaganda de calúnias contra o sistema social e contra o governo cubano goza de espaço infindável nos media. Todos dedicam ao assunto um tempo que é proporcioal aos interesses económicos que beneficiam com a calúnia contra Cuba, o único país realmente independente da América Latina.

Assim, os meios de comunicação vão ungindo tergiversações e fingindo humanismo no seu ataque de desinformação contra Cuba, o mesmo humanismo que negam aos milhares de presos políticos, torturados e assassinados nos outros países do mundo. Como parte desta agressão orquestrada pela CIA, criaram-e e multiplicaram-se múltiplos blogs para manipular a opinião pública contra Cuba.



O Parlamento Europeu e a sua duplicidade de condenar Cuba e apoiar as “democracias” mais genocidas do planeta

O próprio governo e presidente espanhóis participaram activamente no ataque: “E daqui exigimos ao governo cubano que devolva a liberdade aos presos de consciência e que respeite os direitos humanos” (discurso de Zapatero).

Os media repetem incansavelmente: “O Parlamento Europeu aprovou uma resolução que condena a morte do dissidente cubano Orlando Zapata, onde o texto de consenso entre os dois grandes grupos, popular e socialista, critica a deterioração dos direitos humanos da ilha” (TV espanhola). E os títulos fazem-se eco da sempre eterna desinformação acatada pela Eurocâmara, que em nenhum momento verificou quais as exigências de Tamayo na sua greve de fome: telefone e cozinha na cela, exigências que não são de carácter social ou humanista, nem procuram incidir em benefício das maiorias, mas reivindicações egoístas e além disso não concedidas a nenhum preso, em qualquer parte do mundo. Acontecendo que o governo cubano tenha negado esses caprichos, isso constitui “tortura”, ao passo que a tortura real não é mencionada como tortura pelos media por ser produzida nas prisões de outros lugares do mundo.

Alguns “intelectuais e artistas” espanhóis, inclusivamente, assinaram um comunicado, cujo texto é aberrante de falsidade contra Cuba. Reproduzo aquí uma parte da carta impossível de assinar por conter tanta mentira (assinalo-as):

“Pela libertação imediata e incondicional de todos os presos políticos nas prisões cubanas; pelo respeito ao exercício, promoção e defesa dos direitos humanos em qualquer parte do mundo; pela decência e valor de Orlando Zapata Tamayo, injustamente encarcerado e brutalmente torturado nas prisões castristas, morto em greve de fome denunciando estes crimes e a falta de direitos e democracia no seu país; pelo respeito pela vida de quem corre o risco de morrer como ele para impedir que o governo de Fidel e Raúl Castro continue a eliminar fisicamente os críticos e opositores pacíficos, condenando-os a penas de até 28 anos de cadeia por “delitos” de opinião; pelo respeito pela integridade física e moral de cada pessoa, assinamos esta carta e exortamos a assiná-la todos os que escolheram defender a sua liberdade e a liberdade dos outros.” (12)

No seu comunicado contra Cuba, empapado em mentiras até à medula e assinado por “intelectuais, referem-se a que Tamayo foi “brutalmente torturado”, o que é uma mentira completa, mas talvez não saibam o que é ser “brutalmente torturado” e devamos recordá-lo. A simples comparação entre Cuba e a “democracia” mais apreciada por Espanha e pelos EUA, aquela que efectivamente tortura milhares de presos políticos como parte do seu plano de “pacificação” e salvaguarda dos interesses das multinacionais, o Estado colombiano, essa comparação lança luz sobre a hipocrisia cúmplice.

A todos os que pretendem humanismo, se realmente tiverem uma ponta de humanidade nas suas motivações e realmente acreditarem fazer algo “contra a tortura” enlameando e mentindo acerca de Cuba, é preciso dizer-lhes que, se o que querem é actuar contra a tortura, que o façam contra a tortura real e não seguindo a falsidade macabra dos media. Podiam por exemplo mobilizar-se em massa a favor de Diomedes Meneses, brutalmente torturado pelo Estado colombiano: os militares do Estado colombiano tiraram-lhe um olho com uma navalha, deixando-o depois em cadeira de rodas e agora o estabelecimento prisional continua a torturá-lo, deixando a gangrena devorar-lhe uma perna e negando-lhe assistência médica enquanto o corpo literalmente apodrece e lhe devora a vida. Isto sim é tortura (13). É criminoso que estes subscritores contra Cuba acatem tanta falsidade dos media.

Também poderiam mobilizar-se por este outro caso de tortura com sevícias: o preso político colombiano Carlos Iván Peña Orjuela está a ser torturado através do desaparecimento e assassinato de membros da sua família, sem dúvida a tortura mais atroz jamais imaginável. O preso político colombiano Carlos Iván Peña foi sujeito a pressões por parte de funcionários da polícia judicial da SIJIN para que testemunhe contra camponeses inocentes da região de Magdalena Medio e, perante a sua recusa, a polícia fez desaparecer e assassinou o seu irmão mais novo, prendeu a sua companheira e ameaçou assassinar o seu filho de 6 anos (14). O desaparecimento forçado e o homicídio de Omar Daniel Rodriguez Orjuela de 25 anos de idade, irmão mais novo do preso político Carlos Iván Peña Orjuela, teve lugar a partir de 29 de Janeiro de 2010 na cidade de Bogotá. Duas semanas depois, a 15 de Fevereiro de 2010, foi presa a senhora Yolanda Cañón, também familiar do preso político e quem cuidava do filho de Carlos Iván Peña, criança de apenas seis anos de idade. O agente da SIJIN Juan Carlos Celis Torres avisou o preso político, depois do desaparecimento e assassínio de seu irmão e depois da prisão da sua companheira, que se insistisse na recusa em “colaborar” continuariam as prisões e agressões contra a sua família. Em palavras textuais: “Disse-lhe para colaborar e você não quiz colaborar e então (…) calhou a minha vez de ir prendê-la e além disso tenho por aí outros assuntos…”.

O preso político Carlos Iván Peña Orjuela manifesta com bastante tristeza que tanto o seu irmão assassinado, como Yolanda Cañón eram as únicas pessoas que o visitavam na cadeia e agora teme principalmente pela vida de seu filho.

A humanidade de Diomedes tornada invisível: torturado pelo Estado colombiano, que lhe extirpou um olho com navalha e o degolou

Indigna que Ana Belén, Victor Manuel, Almodóvar e outros subscritores da calúnia contra Cuba não mexam um dedo pelos presos políticos torturados na Colômbia e venham agora com essa falsa história de que Zapata Tamayo “foi torturado”. É desumana tanta mentira. Vejamos se se mobilizam por Diómedes Meneses, antes que lhe amputem outra parte do corpo, ou por Carlos Iván Peña, para evitar que agora seja assassinado o seu pequeno filho de 6 anos, ou pelos milhares de presas políticas na Colômbia, mães de crianças que se vêem na completa indigência.

Ou, por acaso, não é tortura os soldados e polícias do regime colombiano tirarem a Diómedes Meneses um olho com uma navalha (aí sim, a palavra apropriada é “regime”)? Ou, por acaso, Diómedes não é humano? Ou, por acaso, não interessa salvar e reivindicar a favor de Diómedes Meneses, porque ao torná-lo visível se daria a ver a cloaca que é a ditadura colombiana, que em Espanha é apresentada como “democracia”, enquanto se insulta e mente sem parar sobre Cuba?

7 Corporações controlam 70% dos media no mundo

O nível de impacto e controle dos media é muito mais importante e sério do que vulgarmente se pensa. Os media definem a nossa ideologia, comportamento e sistema de valores, sendo a indústria cultural a parte mais importante da superstrutura destinada à manutenção do sistema capitalista. Jerry Mander, presidente do forum internacional da globalização, dá-nos alguns dados: “7 corporações controlam 70% dos meios de comunicação de massas do mundo, quer dizer, 7 empresas privadas controlam a televisão, os satélites, as agências de informação, as redes de cabo, as revistas, a rádio, os jornais , os editoriais, a produção cinematográfica, as ligações à internet, a distribuição de filmes, todos os meios de comunicação e difusão. Esta é a maior concentração de propriedade de todas as indústrias e esta indústria não negoceia com coisas, mas com consciências, o seu objectivo é meter coisas na cabeça das pessoas. E esta é a maneira como as pessoas obtêm muitas das ideias com que vive (…) As 7 corporações que monopolizam a indústria cultural mundial são a Fox News, a Time Warner, a Disney, a Sony, a Bertelsmann, a VIACOM e a General Electric” (15).

Esta concentração de propriedade da indústria cultural explica a uniformização do pensamento e a adopção de valores que normalizam a aceitação do sistema capitalista com todas as suas aberrações excludentes e evidentemente o monopólio da indústria cultural explica o facto sistemático da agressão contra Cuba. Cuba em si veicula valores contrários aos valores que sustêm o capitalismo e só a sua existência é já a constatação de que é possível outro sistema, um sistema socialista cujos valores giram à volta do ser social e não da acumulação de capital. Este “humanitarismo” que serve de disfarce para a guerra contra Cuba deve ser denunciado, assim como a mediatização da falsidade dos media contra Cuba e o silêncio sistemático das realidades ignominiosas noutras partes do mundo lançam luz sobre a sua imensa hipocrisia.

Eis aqui duas realidades importantíssimas que se produziram numa altura coincidente com o caso Zapata Tamayo e que foram completamente obliteradas pelos media.: o assassínio e desaparecimento sistemáticos de dirigentes sociais, professores e sindicalistas nas Honduras, depois do golpe de Estado e da instauração da ditadura no dia 27 de Junho de 2009, liderada primeiro por Micheletti e a seguir por Porfírio Lobo. Ocorreram mais de uma centena de assassinatos, dezenas de desaparecimentos forçados e inúmeros casos de tortura. Claudia Larissa Brizuela, membro da Frente Nacional de Resistencia Popular (FNRP) oposta ao golpe de Estado, foi assassinada a 24 de Fevereiro de 2010, um dia depois do falecimento de Zapata. Não houve nem uma palabra a esse respeito nos media (16).

Outro caso escandaloso que ilustra a duplicidade e cumplicidade dos media na ocultação das situações de genocídio são as sistemáticas violações de direitos humanos na Colômbia, entre as quais se incluem, no período contemporâneo do caso Zapata, bombardeamentos com assassínio de crianças (17), a confissão de 30.470 assassinatos por parte dos paramilitares (18), assim como a confissão dos vínculos militares com vários políticos e vários assassinatos políticos e desaparecimentos, o mais recente dos quais sendo o de Johnny Hurtado, destacado líder social e defensor dos direitos humanos do Bajo Ariari (Meta), que denunciara em fins de Dezembro de 2009 graves violações dos direitos humanos na região (19). Cabe salientar que o nosso companheiro, que em várias ocasiões foi delegado pela comunidade para encarar as denúncias no tema dos direitos humanos e na recente visita ao Município de Macarena de pessoas da organização “Justicia por Colombia”, parlamentares, sindicalistas e outras personalidades inglesas, fez parte da delegação de camponeses, líderes comunais e defensores dos direitos humanos que deram a conhecer atentados a esses direitos humanos na região”, precisa o comunicado emitido pela organização camponesa de direitos humanos do Bajo Ariari.

Johnny Hurtado tinha denunciado o achado macabro da maior vala comum do continente americano. Esta vala, que tinha também sido silenciada pelos media, contém os restos de pelo menos 2.000 pessoas e está em La Macarena, departamento de Meta. Desde 2005 que o exército instalado na zona tem ido enterrando ali milhares de pessoas, sepultadas anónimas. Consolidar o silêncio sobre genocídios é tarefa combinada entre o silêncio mediático e o assassínio dos que ousam levantar a voz contra a barbárie.

Querem fazer silêncio sobre este achado, apenas comparável em dimensão às valas nazis. Os media fazem obedientemente silêncio e, para consolidar o silêncio, as pessoam que ousem denunciar são assassinadas, como aconteceu a Johnny Hurtado. A população da região, alertada pelas emanações putrefactas dos cadáveres para as águas potáveis e atingida pelos desaparecimentos, já tinha denunciado a existência da vala em várias ocasiões durante 2009, mas em vão, pois a fiscalização não tratava de investigar. Foi graças à perseverança dos familiares dos desaparecidos e à visita de uma delegação de sindicalistas e deputados britânicos que investigava a situação dos direitos humanos na Colômbia em Dezembro de 2009 que se conseguiu revelar este horrível crime perpetrado pelo exército.

O jurista Jairo Ramirez, secretário do Comité Permanente para a Defesa dos Direitos Humanos na Colômbia, descreveu a espantosa cena: “O que vimos foi arrepiante. Uma infinidade de cadáveres e na superfície centenas de placas de madeira brancas com a inscrição NN e com datas desde 2005 até hoje. O comandante do Exército disse-nos que eram “guerrilheiros caídos em combate”, mas as pessoas da região falam-nos de uma quantidade de líderes sociais, camponeses e defensores comunitários que desapareceram”. (20) A delegação asturiana denunciou uma ostensiva intenção de alterar a cena do crime: “Ninguém está protegendo o lugar. Ninguém impede que se possam baralhar as provas, que um tractor possa entrar e voltar a misturar cadáveres anónimos, pegar neles e levá-los para outro lugar.” (21) “Solicitamos às instituições responsáveis do Estado colombiano que implementem as medidas cautelares necessárias para assegurar as informações já registadas nos documentos oficiais, que tomem as medidas cautelares necessárias com o fim de proteger o perímetro e que previna a modificação do sítio, a exumação ilegal dos cadáveres e a destruição do material probatório que ali está (…) sendo fundamental a criação de um Centro de Identificação Forense de La Macarena com o fim de lograr a individualização e plena identificação dos cadáveres NN ali sepultados.” (22)

O achado desta vala descomunal, que é a imagem de um Estado criminoso, foi quase totalmente obliterado pelos media… Os interesses económicos na Colômbia “exigem a perpetuação de um regime criminoso que abafe as reivindicações sociais e portanto o silêncio mediático acerca do genocídio impõe-se. “ (23)

Aos media, à União Europeia e aos EUA pouco lhes importa a morte e sofrimento, na verdade o que lhes importa são os negócios, e as suas preocupações dirigem-se em acordo com os seus interesses económicos… O carácter humanitário é um disfarce: pouco lhes importa Zapata Tamayo, como pouco lhes importam os torturados Diómedes Meneses e Carlos Iván Peña Orjuela e os mortos hondurenhos e colombianos. Zapata Tamayo apenas é funcional na guerra mediática contra Cuba. Procuram aniquilar o sistema cubano, os seus valores, e a esperança que a sua revolução irradia no coração de outros povos.

No entanto, frente a todas as artimanhas urdidas pela CIA contra Cuba (pagando a mercenários em Cuba para fomentar a desestabilização, como as “damas de branco”), o povo cubano responde, como se pode observar neste video que obviamente não foi difundido pelo monopólio dos media a nível mundial. Vejam como o povo cubano reprova as mercenárias “damas de branco” e defende a sua revolução: http://www.youtube.com/watch?v=Flsj3-w7wjo&feature=player_embeddedY . Neste outro video, o leitor poderá comparar o que os media chamam a “repressão em Cuba” com a verdadeira repressão, que os media nunca denunciam como “repressão brutal” (imagens de repressão na Europa, nem sequer no México ou na Colômbia), que resultam brutais comparadas com as imagens apresentadas como a “repressão em Cuba”: http://www.youtube.com/watch?v=BHQvyifbRfw&feature=player_embedded#

NOTAS:

(1)Torturas a Diomedes Meneses, e campanha: http://www.comitedesolidaridad.com/index.php?option=com_content&task=view&id=273&Itemid=1 http://colombia.indymedia.org/uploads/2009/03/campa_a_libertad_diomedes_internet.pdf

(2) PAC: “Patrulhas de Autodefesa Civil”, os nomes no paramilitarismo obedecem à sua função, perpetrar o terrorismo de Estado de forma encoberta, e como parte do encobrimento são adoptados nomes com palavras como “defesa”, “autodefesa”, “pacificadores”, “paz”, etc. Vemos que PAC e AUC (“Autodefesas Unidas da Colômbia”, paramilitares da Colômbia), obedecem a um padrão muito semelhante, ditado a partir dos gabinetes militares dos Estados Unidos (Escola das Américas, CIA, etc.). Como cúmulo do cinismo, hoje na Guatemala o Estado premeia as PAC pelos massacres cometidos que deixaram um saldo de 200.000 desaparecidos e assassinados. Mais sobre as PAC em http://alainet.org/active/2213〈=es- . Em 2002, o gabinete económico da Guatemala criou um novo imposto para a “indemnização” (!) aos ex-PAC. Trata-se de pagar aos assassinos paramilitares pelo seu silêncio. Os fortes protestos de sectores sociais e dos Direitos Humanos atrasaram estes “pagamentos”, mas as PAC mantêm a Guatemala em alerta vermelho aos reclamá-los, ainda que os seus rendimentos obtidos com assassinatos continuem a ser suculentos (as PAC coordenam junto com a polícia as Maras e seus lucros).

http://business.highbeam.com/6111/article-1G1-90465361/compensan-los-victimarios-guatemala-entidades-defensoras

(3) A América Latina e Caraíbas é a região mais desigual do mundo em termos da distribuição de rendimento e de activos, como terra, capital, saúde, educação e tecnologia. Assim o dizia Alícia Bárcena, secretária executiva da CEPAL em Outubro de 2009: “Há no entanto níveis inaceitáveis de desigualdade social e de segmentação na nossa região. E contudo existem 181 milhões de latinoamericanos pobres e mais de 70 milhões de indigentes” http://www.oei.es/noticias/spip.php?article5743 . Segundo o relatóriod a CEPAL “Panorama social da América Latina, 2009”, na América Latina há um total de 189 milhões de latinoamericanos que vivem na pobreza, uns 34% do total da população de 550 milhões. E prevê-se que “mais 39 milhões de pessoas cairão abaixo do nível de pobreza da América Latina nos finais de 2010”, indicou a OCDE no seu relatório ‘Panorama Económico’, publicado em Portugal durante a cimeira Iberoamericana de 2009. http://www.eleconomista.es/mercados-cotizaciones/noticias/1737831/11/09/Treinta-y-nueve-millones-de-nuevos-pobres-en-America-Latina-en-2010.html . As estimativas de pobreza na América Latina atingiriam os 228 milhões de pobres e mais de 70 milhões de indigentes, números estes esmagadores, detrás dos quais se escondem as tragédias humanas que diariamente sofrem milhões de pessoas: morte por desnutrição, malformações congénitas por desnutrição, por poluição das águas, por fumigações, por violência intrafamiliar, homicídios, violações, galopante prostituição adulta e infantil, moderna escravatura, trabalho infantil, violações sistemáticas dos mais básicos direitos humanos de alimentação, habitação, educação, sanidade, salubridade e vida digna, enquanto umas poucas corporações e famílias oligárquicas monopolizam ganhos e destroem culturas e florestas.

(4) morrem actualmente quase dois milhões de crianças por ano por falta de água potável e saneamento adequado, relatório do PNUD 2009.

http://www.undp.org/spanish/publicaciones/annualreport2009/pdf/SP_FINAL.pdf

(5)http://www.cubainformacion.tv/index.php?option=com_content&view=article&id=14151%3Aiaplicamos-la-legislacion-de-otros-paises-a-los-qdisidentesq-cubanos&catid=39&Itemid=86 . O código penal dos EUA prevê uma pena de 20 anos para quem preconize o derrubamento do governo ou da ordem estabelecida, 10 anos de prisão para quem emita “falsas declarações” com o objectivo de atentar contra os interesses dos EUA e 3 anos para quem “mantenha (…) correspondência ou relações com um governo estrangeiro”. O código penal espanhol castiga com pena de 4 a 8 anos a quem “mantiver relações de espionagem ou relações de qualquer género com governos estrangeiros (…) com o fim de prejudicar a autoridade do Estado ou comprometer a dignidade ou os interesses vitais da Espanha” e pena de 10 a 15 anos aos culpados de tentar destituir ou suprimir faculdades do rei de Espanha. A França castiga com pena até 30 anos e 450.000 euros de multa “o facto de manter relações de espionagem com uma potência estrangeira”. Os denominados “dissidentes” cubanos receberiam penas muito superiores pelos seus delitos se os cometessem em quaisquer dos citados países e noutros aqui não mencionados.

(6) Campanha pela libertação dos presos políticos na Colômbia: http://www.arlac.be/A2009/2009/Tlaxcala.htm . Foi lançada em Bruxelas na Bélgica a campanha europeia 2009-2011 pela libertação dos presos políticos da Colômbia. São 7.500, na sua maioria presos por delitos de opinião e activistas sociais, ou operários, camponeses, indígenas e estudantes que lutam por uma Colômbia digna, com paz e justiça social. As associações e pessoas do mundo que quiserem apoiar a campanha pela libertação dos presos políticos na Colômbia são benvindas. Para subscrever clicar aquí: http://www.tlaxcala.es/detail_campagne.asp?lg=es&ref_campagne=14 http://www.kaosenlared.net/noticia/campana-liberacion-presos-politicos-colombia

(7) Terrorismo de Estado, 50.000 desaparecidos na Colômbia: http://justiciaypazcolombia.com/50-000-personas-desaparecidas-en

(8) Revela um estudo que 2 % de milionários possui metade da riqueza mundial: http://update.unu.edu/esp/archive/issue44_22.htm(

(9) Sobre Zapara Tamayo: http://www.cubadebate.cu/noticias/2010/03/02/orlando-zapata-tamayo-un-caso-de-manipulacion-politica-video/ http://www.rebelion.org/noticia.php?id=101143 y http://www.kaosenlared.net/noticia/cuba-medios-occidentales-suicidio-orlando-zapata-tamayo

(10) Orlando Zapata Tamayo, vítima da manipulação política. A cínica conversa entre 2 mercenários http://www.youtube.com/watch?v=gN6Sr78TDM0&feature=player_embedded#

(11) José Manzaneda: “As mentiras surgidas nos media são inúmeras, mas é particularmente escandalosa a versão de que faleceu pela recusa em lhe darem água durante 18 días por ordem do director da prisão” http://www.kaosenlared.net/noticia/orlando-zapata-delincuente-convertido-martir-estrategas-guerra-contra-

(12) O comunicado que circula nos blogs postos en marcha pela CIA: http://www.kaosenlared.net/noticia/artistas-del-psoe-contra-cuba

(13) Para aderir à campanha pela vida e contra la tortura de Diomedes Meneses: fcsppsantander@gmail.com http://colombia.indymedia.org/uploads/2009/03/campa_a_libertad_diomedes_internet.pdf , ou escrever para fcsppsantander@gmail.com

(14) O preso político colombiano Carlos Iván Peña Orjuela está sendo torturado através do desaparecimento e assassinato de membros da su familia: http://www.kaosenlared.net/noticia/desaparicion-familiares-tortura-contra-presos-politicos-alto-estado-ge

(15) 7 corporações controlam 70% dos media no mundo: http://www.youtube.com/watch?v=cObHaBvi-aU&feature=player_embedded# http://www.kaosenlared.net/noticia/video-sobre-control-informacion-mundo-poder-mediatico-corporaciones-je

(16) Àcerca das Honduras, da resistência popular e da arremetida genocida de assassinatos e desaparecimentos desencadeada desde a ditadura, com emprego do paramilitarismo, recomendo o jornalista Dick Emanuelsson, cuja cobertura é constante, investigadora e próxima das comunidades populares das Honduras: http://dickema24.blogspot.com/ Àcerca de Claudia Larissa Brizuela: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=101209

(17) Bombardeamentos para despejar zonas de elevado interesse económico para as multinacionaiss Muriel Mining, Anglo Gold e Glencore: http://justiciaypazcolombia.com/Muere-bebe-de-20-dias-de-nacido http://www.kaosenlared.net/noticia/uribe-bombardea-indigenas-colombianos-objetivo-entregarle-tierras-mult http://www.kaosenlared.net/noticia/video-bombardeo-pueblo-originario-alto-guayabal-colombia

(18) Relatório de 16.02.2010 “Paramilitares confessam 30.470 assassinatos”: http://www.telesurtv.net/noticias/secciones/nota/66984-NN/ex-paramilitares-colombianos-reconocen-haber-cometido-cerca-de–30-mil-500-asesinatos/

(19) Assassinato de Jhonny Hurtado: http://prensarural.org/spip/spip.php?article3738

(20) Antonio Albiñana, «Aparece na Colombia uma vala comum com 2.000 cadáveres», Público.es, 26 de Janeiro de 2010.

(21) http://www.pachakuti.org/textos/hemeroteca/2010_1/fosas-poco-comunes.html

(22) http://www.rebelion.org/noticia.php?id=100450&titular=”europa-no-puede-firmar-un-tlc-con-un-estado-violador-de-los-derechos-humanos”-

(23) http://www.kaosenlared.net/noticia/alerta-medios-ocultan-mayor-fosa-comun-america-mientras-estado-colombia . Mais sobre a vala comum e o terror estatal na Colômbia: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=99507&titular=destapan-la-mayor-fosa-común-del-continente:-colombia-en-el-paroxismo-del-horror-clama-solidaridad-



* Jornalista, historiadora

Este texto foi publicado em www.rebelion.org

Tradução: Jorge Vasconcelos

Entrevista com Aleka Papariga

KKE e o Povo Grego Contra


As Políticas Liberais da União Europeia

Francesco Maringiò*

09.Jun.10

“O KKE deu um contributo decisivo à organização da resistência e da luta popular. Mas nós medimos a eficácia da nossa luta de um modo diferente dos outros, não nos concentramos só nos resultados que saem das urnas. Naturalmente, com isto não quero dizer que não nos interessem as eleições. Mas deve-se ter presente que na Grécia a consciência do movimento popular está muito mais avançada do que a da maior parte dos países europeus e, embora ainda não se reflita completamente na ação, irá verificar-se no futuro. Isto depende em grande parte do decisivo, se não determinante, contributo do nosso partido.”



Contactámos Aleka Papariga nos dias quentes das greves e das mobilizações sociais, que encontram no KKE o principal eixo organizativo e político. Há poucas horas os comunistas gregos colocaram uma faixa nas paredes do Parténon, convidando os povos de toda a Europa a rebelar-se.

Francesco Maringiò (FM): - A Grécia está no centro das atenções por parte de todos os outros países europeus devido à crise que atravessa. O Governo Papandreu prometeu tirar o país desta crise e por isso aplicou um duro plano econômico. Qual é a tua opinião a este respeito? E qual é o objetivo da luta?

Aleka Papariga (AP): - Estas opções postas em ação pelo governo são um verdadeiro perigo para a vida do povo, pelo que o objetivo é ganhar tempo, para se poder bloquear as medidas e, sobretudo, criar as condições para que estas políticas sejam derrubadas. Nós lutamos para alterar as relações de forças e fazer que se determinem as condições para dar vida a um diferente modelo de desenvolvimento.

FM: - Achas que o povo grego está amadurecido para tomar como seu este objectivo?

AP: - As medidas tomadas são absolutamente injustas para os trabalhadores. Não há outras saídas: o povo tem de conseguir impor um modelo de desenvolvimento diferente, alternativo ao actual, para dar vida a um curso completamente diferente, em que prevaleça um projecto que tutele os interesses populares, e não os da burguesia. Se assim não acontecer, determinar-se-á uma situação em que a saída da crise – que decerto não será eterna – para a Grécia, se fará à custa dos interesses populares, que por conseqüência serão atingidos e redimensionados durante muito tempo. E então será muito difícil remediar esta situação.

FM: - E o que deverá fazer o movimento de luta na Grécia, qual o papel dos comunistas dentro dele?

AP: - Não pode haver nenhuma convergência de interesses entre o capital e o trabalho. Chegou a hora de todos assumirem as suas responsabilidades. Pelo nosso lado, consideramos que o que se começou em 17 de Dezembro passado, com as greves e as mobilizações, tem de avançar e de se alargar. O que julgavam, que o povo aceitaria este ataque aos seus direitos sem opor resistência? Nós não o permitimos. O movimento popular e dos trabalhadores, quanto mais capaz for de adquirir consciência do facto de que a propaganda sobre os sacrifícios para evitar a bancarrota é falsa e funcional ao cancelamento dos direitos, mais forte e melhor para todos será. Se uma parte dos cidadãos há uns tempos tivesse prestado mais atenção às solicitações feitas pelo KKE a respeito da natureza do Tratado de Maastricht e à entrada da Grécia na União Europeia, apresentada como uma opção obrigatória, hoje haveria uma situação muito melhor. Se nos tivessem dado ouvidos quanto às previsões que tínhamos feito já antes das eleições, quando dizíamos que iriam surgir fortes ataques às condições de vida e de trabalho da população e afirmávamos que estas medidas seriam tomadas indistintamente, tanto pelo Pasok como pela Nova Democracia, como depois sucedeu, hoje todos os trabalhadores estariam seguramente numa posição mais forte para poderem enfrentar a situação.

FM: - Qual é a resposta aos apelos de luta e mobilização que o KKE e o PAME estão a fazer aos trabalhadores gregos? Encontram eco as vossas propostas?

AP: - As lutas animadas pelo PAME, que tem desempenhado uma acção de vanguarda importante, bem como as manifestações de massas que se têm verificado em todo o País, demonstram que as pessoas estão dispostas a lutar. Vieram dizer, arrogantes e em tom de propaganda, que as pessoas estão de acordo com os procedimentos e as medidas pretendidas pelo Governo. Assim fazendo estão só a abrir caminho para que a luta tenha uma escalada. Hoje em dia regista-se um importante aumento da consciência de classe do povo. Estes sinais falam-nos de indignação e confusão, mas a gente comum está cada vez mais disposta a tomar parte nas lutas. Falta ver se esta evolução irá levar a uma maior radicalização da consciência política conduzindo amplos sectores populares a convergir nas propostas de alternativa avançadas pelo KKE sobre temas como as alianças e a tomada do poder, ou se o sistema conseguirá mantê-los sob controlo, impedindo o arranque de uma política de alternativa.

FM: - E consideras tudo isso possível?

AP: - Decididamente. Tanto o passado como o presente mostram-nos que o capitalismo na sua fase monopolista assume caracteres cada vez mais reaccionários e parasitários. Durante uma fase de crise, como é óbvio, o capital é muito mais agressivo, mas na fase de desenvolvimento também continua a sua violência contra os interesses populares. E em geral observamos que todos os refluxos em termos de direitos e liberdades dos trabalhadores nunca provêm de baixo, acolhendo instâncias nascidas do descontentamento. Começam por cima, empregando como instrumento repressivo as clássicas campanhas assentes nos partidos que tutelam os interesses burgueses.

FM: - Que gênero de políticas são adotadas por estes partidos?

AP: - As atuais medidas anti-sociais aplicadas são literalmente bárbaras. Empurram as famílias trabalhadoras para o desespero. O capitalismo aposta em fazer pagar a crise aos trabalhadores e em consolidar por esta via os seus próprios lucros. Isto vemo-lo bem aqui entre nós onde o capital grego tenta conservar uma forte presença na região. O capitalismo hoje precisa de tomar estas medidas. As políticas dos liberais e dos social-democratas, como todas as que têm sido aqui tomadas até agora, têm como verdadeiro objectivo a satisfação das necessidades do capital. De resto, as medidas impostas ao povo grego são as mesmas que se têm vindo a adoptar em todos os países da União Europeia com variados pretextos. Estas medidas já foram decididas há tempos e põem em evidência o impasse do desenvolvimento capitalista.

FM: - Mas donde nasce esse “buraco” nos orçamentos do Estado?

AP: - O défice público e as dívidas foram criados pelo facto de o financiamento estatal ter ido todo parar aos cofres dos monopólios: dinheiro em catadupas para os capitalistas, uma verdadeira provocação. É este o motivo por que hoje é desferido um ataque sem precedentes aos direitos dos trabalhadores e se pede dinheiro em empréstimos porque assim se continuam a manter os lucros dos do costume com o dinheiro do Estado. A verdadeira questão na ordem do dia torna-se portanto: o que irá entrar em crise, a vontade do povo ou o sistema plutocrático?

FM: - Portanto é culpa do sistema capitalista?

AP: - O capitalismo é um sistema injusto porque por um lado acumula crescente pobreza e miséria e, por outro, riquezas fabulosas. É um sistema que gera parasitismo e corrupção e leva sempre à crise. Por este motivo precisamos de mudanças radicais. O capitalismo nunca foi uma via de sentido único, uma etapa obrigatória da história. Mas para inverter a marcha é preciso um forte movimento popular, com uma clara conotação de classe e um decidido perfil político, que se bata contra os monopólios e as campanhas anticomunistas: só um movimento assim radical é capaz de garantir progressos para a população.

FM: - E de que há necessidade, em alternativa?

AP: - Hoje em dia é necessária uma sociedade socialista, que representa a única possibilidade de o povo gozar dos frutos do seu trabalho e para que as modernas conquistas da ciência e da cultura sejam utilizadas a favor dos interesses de todos e não do lucro. E tudo isto, naturalmente, requer a construção de uma sociedade socialista. Precisamos de ter “aulas de desenho”, para assim podermos traçar esta nova sociedade.

FM: - Na TV italiana tem-se falado muito de acções violentas ocorridas durante as manifestações. O KKE e o PAME condenam estes actos? Quem é o responsável? E quais são as vossas propostas para combater e mobilizar as pessoas?

AP: - Nós propomos continuamente mobilizações, mas se as pessoas não estiverem convictas as lutas não podem ter lugar. O que é necessário é um movimento organizado, dotado de um projecto, com forte sentido de responsabilidade, que não se deixe envolver em agitações improvisadas e protestos cegos. Hoje o KKE, deste ponto de vista, constitui uma garantia para que se desenvolva um movimento amadurecido, cuja existência nós ao mesmo tempo reclamamos e defendemos.

FM: - Portanto distanciam-se dos actos de guerrilha urbana que puseram Atenas a ferro e fogo?

AP: - Certamente. O KKE condena com veemência a trágica morte de três pessoas durante o assalto ao banco. O Governo contudo não tem o direito de se servir destas mortes para tentar bloquear a resistência popular e dar livre curso a uma ofensiva antipopular que, por agora, se reflecte nas medidas promovidas no sistema da segurança social, mas que se destina a reaparecer ao fim de cada três, seis ou nove meses. E isto de acordo com as vontades da troika (os principais partidos – ndt ) ou a do Governo e da União Europeia.

FM: - Mas quem é que tira vantagens desses choques?

AP: - Na base de provas e factos concretos já denunciámos várias vezes o desenrolar de uma verdadeira estratégia da tensão e da provocação. Como se demonstrou, o Laos, o partido nacionalista, não se limitou, com o seu presidente à cabeça, a utilizar a posteriori a notícia dos incidentes mas, de certo modo, esperou que acontecessem para poder assim tentar fazer recair as culpas sobre o KKE. Esta é uma estratégia claramente destinada a envolver tanto o KKE como o PAME numa provocação ad hoc.

FM: - E porque é que se dá tudo isto, na tua opinião?

AP: - Porque estão preocupados com a actividade realizada pelo partido e pelo movimento de classe. E depois todos sabem que, além dos membros, dos amigos e dos simpatizantes do partido, na luta participam também os trabalhadores com diferentes orientações políticas.

FM: - E como conseguem repelir as tentativas de provocação?

AP: - Vou contar o que fizemos e que nos permitiu mantê-los à distância. Não é nenhuma coincidência. Nós nutrimos fortes suspeitas em relação a eles e portanto preparámo-nos para os expulsar. Com efeito, durante o desfile montámos um poderoso serviço de ordem, com todos os camaradas a marchar de braços cruzados um no outro e assim conseguimos dar vida a um desfile do PAME sem precedentes e a manter afastados os poucos provocadores que continuavam a gritar os seus slogans e tentavam alcançar o seu objectivo.

FM: - O que me dizes do Governo Papandreu? São os únicos a criticá-lo?

AP: - Syriza censura o Pasok e o primeiro-ministro por não respeitarem o seu programa eleitoral. Nós nunca faremos este género de críticas porque na realidade o que Papandreu está a fazer é exactamente dar curso ao seu programa político. Ao contrário de Syriza, que pensa que há diferença entre o Pasok e ND, nós consideramos que as políticas de fundo destes partidos não são diferentes, como se vê quanto às receitas para a crise, e isto porque ambos os partidos são expressão dos interesses do grande capital e não podem pôr em campo políticas diferentes.

E depois nós não acusamos o primeiro-ministro de dar o flanco “às pressões vindas do mercado”. Pelo contrário, nós afirmamos que o problema de Papandreu, exactamente como o seu antecessor, não é o de prestar demasiada atenção a estes interesses, mas sim de agir conscientemente a seu favor. Por estas razões consideramos esta política perigosa. De resto as mentiras do governo e as das campanhas anticomunistas estão ligadas ao facto de nós termos sempre posto em evidência que em qualquer dos casos se tomariam essas medidas, independentemente de qual partido estivesse no governo. A posição e a acção do KKE obrigam-nos a não levar a cabo os seus planos.

FM: - O que esperam?

AP: - Sabemos que o sistema tentará desencadear toda a sua força contra o KKE. Mas não temos medo. O povo grego tem de se manter livre dos apelos propagandísticos sobre a dívida e o défice e pensar na verdadeira dívida que os governos do Pasok e de ND têm representado para o povo grego. Estes literalmente saquearam os cidadãos através das regalias dadas aos capitalistas. Seja como for, devem pedir-lhes conta de tudo isto, não se deve baixar a cabeça, e deve-se trabalhar duramente para recuperar todo o dinheiro que lhe foi subtraído, dinheiro que é fruto do seu duro trabalho.

O sistema observa com atenção como cresce o movimento na Grécia e começa efectivamente a ter medo. Consideramos que a resistência do povo grego contra as medidas do governo está directamente ligada ao empenho e ao papel desempenhado no movimento pelo KKE. Graças à acção, ao impacto e à aceitação de muitas posições do KKE por parte de uma grande faixa do povo grego – o que não implica a total adesão a todos os pontos do programa político do KKE – até os dirigentes amarelos dos sindicatos Gsee e Adedy são obrigados a marcar greves.

FM: - Que papel desempenhou e continua a ter o KKE nesta fase da luta para a Grécia?

AP: - Se o KKE tivesse tido um comportamento diferente, semelhante ao dos outros partidos e se esse comportamento se reflectisse nas organizações de massas, acham que teria havido na mesma esta resposta popular e esta resistência? Pela minha parte digo que as medidas passariam sem nenhuma reacção.

O KKE deu um contributo decisivo à organização da resistência e da luta popular. Mas nós medimos a eficácia da nossa luta de um modo diferente dos outros, não nos concentramos só nos resultados que saem das urnas. Naturalmente com isto não quero dizer que não nos interessem as eleições. Mas deve-se ter presente que na Grécia a consciência do movimento popular está muito mais avançada do que a da maior parte dos países europeus e, embora ainda não se reflicta completamente na acção, irá verificar-se no futuro. Isto depende em grande parte do decisivo, se não determinante, contributo do nosso partido.

FM: - O que é preciso fazer hoje na Europa?

AP: - Consideramos que este elemento é um património importante para todos. O movimento comunista internacional hoje tem de afinar uma estratégia comum contra o imperialismo, mas ao mesmo tempo deve ter a força de lançar outro modelo de desenvolvimento e portanto afirmar a actualidade e a centralidade do socialismo.

O movimento comunista tem de se reforçar em toda a Europa. Nuns países será uma torrente, noutros um regato. O movimento, obviamente, desenvolve-se sobretudo a nível nacional mas, ao mesmo tempo, tem de se reforçar a nível internacional. Mas se se consolidar num país fraco poderá ter uma força de influência mais ampla e reforçar-se em toda a Europa.

Todo este radicalismo das pessoas tem de crescer e evoluir para uma opção política consciente capaz de apontar uma via alternativa ao capitalismo, outro percurso e outro modelo de desenvolvimento, e portanto em última análise outro sistema político. Caso contrário, a raiva e a indignação populares correm o risco de ser reabsorvidas pelo sistema de modo que venham a ser compatíveis com ele.

* Aleka Papariga é secretária-geral do partido Comunista da Grécia (KKE)

Esta entrevista foi publicada na revista comunista italiana Ernesto

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Florianópolis / Mostra traz antologia inédita de curtas de escola cubana

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Oscuros rinocerontes enjaulados, muy a la modaUma seleção de 12 dos melhores curtas-metragens produzidos nos últimos 23 anos da famosa Escuela Internacional de Cine y Televisión de San António de Los Baños, Cuba, será exibida na Mostra Outros Olhares: Antologia EICTV durante o FAM2010. Pepi Gonçalves, coordenadora da cátedra de produção da escola, estará presente para apresentar os filmes. Criada em 1986, a escola tem como fundadores e padrinhos personalidades como Gabriel Garcia Marquez, Francis Ford Coppola e Robert Redford.

A seleção dessa mostra foi realizada em 2009, sob coordenação da suíça Christa Saredi, responsável pelos festivais internacionais da EICTV. Uma equipe de críticos, cineastas e professores deu uma pontuação a quase 2 mil filmes, segundo seu valor artístico, originalidade e qualidade. No FAM estarão os primeiros colocados nessa seleção, filmes premiados diversas vezes em mostras e festivais cubanos e internacionais.

A mostra é inédita no Brasil, e foi apresentada somente no Centro Cultural da Espanha, em Montevidéu, Uruguai, em fevereiro deste ano. Predominam filmes cubanos e há duas produções dirigidas por brasileiros. O número 1 na classificação, cubano Oscuros rinocerontes enjaulados, muy a la moda, ficção dirigida por Cremata Juan Carlos, é um filme em preto e branco locado numa repartição burocrática, num clima surreal, com o detalhe de que foi pintado a mão diretamente sobre a perlícula.



Lista dos filmes

Oscuros rinocerontes enjaulados, muy a la moda, de Cremata Juan Carlos, Ficção, 18´, 1990, Cuba

La maldita circunstancia, de Eduardo Eimil Mederos, Ficção, 11´, 2002, Cuba

Barrio Belén, de Marité Ugás, Documentário, 16´, 1988, Cuba

Model town, de Laimir Fano Villaescusa, Documentário, 15´, 2006, Cuba

El año del cerdo, de Claudia Calderón Pacheco, Ficção, 10´, 2007, Porto Rico-Cuba

La Cura, de Rodrigo Alves de Melo, Ficção, 4´, 2007, Brasil-Cuba

Al otro lado del mar, de Ortega Patricia, Ficção, 12´, 2005, Venezuela-Cuba

Oda a la piña, de Laimir Fano Villaescusa, Ficção, 10´, 2008, Cuba

Los que se quedaron, de Benito Zambrano Tejera, Documentário, 26´, 1993, Espanha

Filiberto, de Amanda García Saldaña, Ficção, 10´, 2008, México-Cuba

La Chirola, de Diego Mondaca Gutierrez, 26´, Documentário, 2008, Bolívia-Cuba

El invasor marciano: 36 años después, de Wolney Oliveira, Documentário, 1988, 24´, Brasil.



http://www.audiovisualmercosul.com.br/



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terça-feira, 8 de junho de 2010

Uma nova agenda para a solidariedade a Cuba?

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Beto Almeida (*)

Já cabe uma nova agenda para a solidariedade: partir do novo patamar existente, concreto, para impulsionar a celebração de convênios de cooperação da Telesur com emissoras públicas brasileiras, a começar pela TV Brasil, que possui a acordos com a Reuter, a Radio França Internacional, mas, inexplicavelmente, não os possui com a Telesur. Mesmo quando a integração latino-americana é pauta prioritária na política externa brasileira, a TV Brasil não aproveita a programação da Telesur, mas sim de veículos comereciais! Eis aí um novo capítulo da agenda da solidariedade que brotou na XVIII Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, realizada em Porto Alegre. O artigo é de Beto Almeida, publicado na Carta Maior.

Com uma aula pública de salsa no Bric da Redenção, em Porto Alegre, foi encerrada neste domingo a XVIII Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba. Centenas de portoalegrenses, crianças, jovens e os de juventude acumulada, dançaram a linda canção Iolanda, de Pablo Milanez, e a versão salsera com dançarinos cubanos. Talvez pela generosidade da pauta em debate, a solidariedade, o sol espantou o frio e trouxe um brilho que, apesar do boicote anti-jornalístico da mídia local, fez reluzir enormes possibilidades para novas e mais amplas ações cooperativas e coordenadas entre Cuba e Brasil, permitindo expandir e dar visibilidade às ações solidárias que a pequena ilha caribenha já vem oferecendo à humanidade, espalhando médicos, professores e cientistas por todos os lados.


Talvez seja esta a grande diferença que o movimento da solidariedade brasileira a Cuba esteja incorporando às suas ações, fazendo surgir uma nova e renovada agenda de ações e de lutas. Sem deixar de fazer as imprescindíveis denúncias ao ilegal bloqueio estadunidense, que deve ser extinto, e exigindo a libertação imediata dos 5 cidadãos cubanos ilegalmente presos nos EUA, a agenda pode ser enriquecida em razão do avanço do um processo de integração latino-americano impulsionado por governo populares, o que permite que muitas outras iniciativas criativas e de cooperação sejam incorporadas à esta agenda.

Desde que as relações entre Brasil e Cuba foram reatadas, em 1986, no governo Sarney, elas vieram mantendo um rítmo talvez marcado por uma certa timidez, com alcance e volume muito inferiores ao potencial que os dois países, face a inúmeras compatibilidades e possibilidades de cooperação, vinham de fato experimentando. Esta realidade muda qualitativamente com a chegada de Lula à presidência da República. Basta lembrar a presença de Fidel Castro em sua posse e participação do comandante na posse do ministro da Educação, Cristovam Buarque, o que sinalizava claramente que todo o avanço educacional cubano poderia ser útil para alavancar um forte salto na educação brasileira. O recado era claro. Agora estão presentes as condições para que todos os empecilhos a uma cooperação com toda força seja implementada. Isto, certamente, compõe uma nova agenda para a solidariedade, pois esta vê repentinamente com enormes possibilidades de tomar novas iniciativas, a partir do fato de ter um presidente que defende mundialmente a Revolução Cubana.


Memória

O interessante é que esta solidariedade entre os dois países inclui a recuperação da memória. Este foi o tema de um dos painéis na Convenção, pois garimpar, recuperar e preservar a memória é tarefa de enorme importância. A começar por dar consciência ao povo brasileiro e ao mundo que esta solidariedade brasileiro-cubana começa com a presença de dois brasileiros, cariocas, mulatos, que lutaram no exército de José Marti e lá morreram, transformando-se em semente poderosa que revela a generosidade dos povos, capazes de se irmanar nos momentos cruciais. Assim foi também com a incorporação do General Abreu e Lima no Exército Libertador de Simon Bolívar, tornando um dos heróis da Gran-Colômbia! Brasileiros também lutaram contra Franco na Guerra Civil Espanhola!


Foi registrado e isto está sendo compilado para publicação, que na década de 50, exilados cubanos chegaram a colocar uma faixa “Cuba Libre!” no Pão de Açúcar. E logo após o martírio de Vargas, sua Carta Testamento, que circulou o mundo, foi lida com grande atenção e sensibilidade pelos revolucionários do Movimento 26 de Julho que estavam nas tenebrosas prisões de Fulgênio Batista. Tomaram aquele documento com toda sua dimensão histórica e como uma mensagem antiimperialista lançada ao mundo!


Após a chegada do Exército Rebelde ao poder em Havana, uma das primeiras medidas da Revolução foi a Campanha de Alfabetização, que contou com a participação de vários brasileiros. A solidariedade passava para um nível superior. Mais tarde, brasileiros com grande experiência em educação e que tinham trabalhado com Paulo Freire no Brasil, ao serem expulsos do país pelo golpe de 64, incorporam-se aos esforços da profunda revolução educacional que Cuba promoveu. É o caso da pedagoga Josina Godoy, autora do livro “Viver em Cuba”, que mais tarde vai também prestar solidariedade na África junto com educadores cubanos, emprestando sua experiência à tarefa de eliminar o analfabetismo em Moçambique. Esta solidariedade tem um longo caminho. Agregue-se a isto a experiência vivida pelo médico Davi Lerer, exilado brasileiro em Angola e que prestou também sua solidariedade no atendimento de soldados cubanos que estavam na pátria de Agostinho Neto em armas contra o regime nazista do Apartheid, apoiado pelo imperialismo dos EUA.

Guerra midiática

A Convenção debateu também a incessante campanha de destruição da imagem de Cuba, praticada pelos veículos de comunicação comerciais, sem que lhe seja permitida qualquer possibilidade de oferecer uma outra versão sobre os acontecimentos. Isto não é jornalismo, é campanha.


É exatamente neste terreno onde surgem algumas possibilidades para que o movimento da solidariedade a Cuba tome novas iniciativas e apresente propostas de cooperação, que podem sim ser implementadas, já que a nova realidade latino-americana registra uma relação de forças e um desenho geopolítico que permite ir mais além do que as justas e necessárias denúncias.


Telesur: “O nosso norte é o sul”

Com o advento da Revolução Bolivariana na Venezuela, nasce a Telesur, televisão multi-estatal com a finalidade de promover a integração latino-americana e dos povos do sul por meio da ação informativo-cultural. Prestes a cumprir seus 5 anos de vida, a Telesur já pode ser sintonizada por parabólicas do Alasca à Patagônia, no norte da África e alguns países europeus. Possui convênios de cooperação com emissoras públicas na Bolívia, Argentina, Equador, Nicarágua, Uruguai, e, aqui no Brasil, com a TVE do Paraná, que exibe diariamente o Jornal da Telesur, de 30 minutos, em português, oferecendo aos telespectadores a possibilidade de ver uma América Latina em profunda transformação social. Onde é que se divulga que Venezuela, Equador e Bolívia já erradicaram o analfabetismo, e com a ajuda de educadores cubanos? Na Telesur! E o sinal da TVE do Paraná pode ser captado por antena parabólica em todo o Brasil, bem como em toda América do Sul. Cabe à solidariedade divulgar e lutar para expandir o alcance do sinal.

Por isso é que já cabe uma nova agenda para a solidariedade: partir do novo patamar existente, concreto, para impulsionar a celebração de convênios de cooperação da Telesur com emissoras públicas brasileiras, a começar pela TV Brasil, que possui a acordos com a Reuter, a Radio França Internacional, mas, inexplicavelmente, não os possui com a Telesur. Mesmo quando a integração latino-americana é pauta prioritária na política externa brasileira, a TV Brasil não aproveita a programação da Telesur, mas sim de veículos comereciais! Eis aí um novo capítulo da agenda da solidariedade que brota nesta convenção de Porto Alegre.


Outra tarefa é encorajar a Empresa Brasil Comunicação, a EBC, a firmar acordos com a Agência Prensa Latina, que tem jornalistas em centenas de países de todo o mundo e difunde diariamente 45 matérias em português. Inexplicavelmente não aproveitadas pela empresa pública brasileira, apesar das reiteradas declarações de Lula em favor de uma maior cooperação com Cuba. A Convenção e Solidariedade aprovou a gestão de esforços para que a TV Brasil tenha sucursal em Havana, para que as TVs educativas de cada estado onde for democraticamente possível firmem convênios de cooperação com a Telesur, com a TV Cubana, com a Prensa Latina, iniciativa que deve se estender às TVs comunitárias que também podem transmitir alguns programas latino-americanos, com o respaldo da Constituição, assim como já o fazem as TVs comunitárias de Brasília, Rio de Janeiro, Florianópolis e Recife. Cabe à solidariedade fazer as gestões junto a governos, tvs educativas, universitárias e comunitárias em cada estado.

Estas modalidades de cooperação ajudariam enormemente a contrabalançar o cerco midiático contra Cuba, além de oferecer ao povo brasileiro a oportunidade de conhecer a realidade cubana e latino-americana, hoje escondidas pela matriz informativa de Hollywood que nos é imposta.


Telenovelas, filmes e livros

O povo cubano conhece telenovelas brasileiras, mas o povo brasileiro não conhece telenovelas cubanas. Praticamente todos os filmes brasileiros mais importantes já foram exibidos em Cuba, em escala de massa, pois há enorme quantidade de salas de cinema, o ingresso é baratíssimo, sendo o contrário do que ocorre aqui no Brasil onde apenas 8 por cento dos município tem salas de cinema, o ingresso é caríssimo e as salas estão sendo confinadas nos shoppings, num processo de apartheid cinematográfico. O mesmo ocorre com a literatura: grandes escritores brasileiros já tiveram em Cuba gigantescas tiragens, valendo citar Jorge Amado, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Érico Veríssimo, Raquel de Queiroz, Artur da Távola, cujas edições contavam-se, cada uma, em mais de 100 mil exemplares, vendidas a preços de um sorvete da Copélia, que todos podem comprar. Uma verdadeira democratização da literatura universal.


Só para registrar, a tiragem padrão de livros no Brasil, com quase 200 milhões de habitantes, é de irrisórios 3 mil exemplares. Em 1984, Cuba foi agraciada com um comenda da UNESCO por ter impresso, num só ano, e para apenas 10 milhões de habitantes, 480 milhões de exemplares de livros. Em Cuba e Nicarágua houve uma radio-novela sobre a Coluna Prestes....Cultural e informativamente, os bloqueados somos nós.


Pensando em termos práticos, a Convenção de Porto Alegre aprovou a realização de convênios entre os Ministérios da Cultura de Cuba e do Brasil para que sejam legendados e exibidos pela TV Brasil os principais filmes da cinematografia cubana, que nós ainda desconhecemos, embora sejamos obrigados a engolir qualquer porcaria de Hollywood. Aprovou-se trabalhar para um convênio que preveja a tradução dos clássicos da literatura cubana para o português, a serem publicados em massa como Cuba fez com os mestres da nossa literatura, e que sejam distribuídos por todas as bibliotecas públicas brasileiras.


Os convencionais também se propuseram a trabalhar para que as Faculdades de Comunicação Pública do Brasil realizem cooperação com o Instituto Internacional de Periodismo José Marti, sobretudo para o desenvolvimento de novos conceitos para elaborar um jornalismo de integração, já que aquilo que está ocorrendo na energia, na educação, no comércio, no surgimento da Unasur requer também uma concepção informativa que favoreça o cumprimento do dispositivo Constitucional que prevê a formação de uma Federação de Países Latino-Americanos. É claro que a comunicação comercial aposta e pratica um tenebroso e anti-civilizador jornalismo da desintegração entre os povos. Telesur vem para unir, integrar, enfim, para enamorar os povos.


Saúde, ciência e educação

O avanço da cooperação que os governos do Brasil e de Cuba já operam colocam enormes possibilidades para o movimento de solidariedade atuar em níveis muito mais audaciosos e criativos. Mesmo havendo entraves e obstáculos ainda não superados, como os que adiam e adiam os acordos com a Telesur, com a Prensa Latina, mas também para a revalidação dos diplomas dos médicos brasileiros formados, gratuitamente, pela ELAM, Escola Latino Americana de Medicina. Em 11 anos de existência, dezenas de milhares de jovens de países pobres de Centro-América, da África e até da Ásia, tiveram a oportunidade de estudar medicina, chance que provavelmente não teriam em seus respectivos países. Há ainda 500 jovens pobres e negros dos EUA, do Harlem e do Brooklin, lá estudando. Um jovem estadunidense testemunhou:"se continuasse no Harlem, provavelmente teria sido capturado pelo narcotráfico como meus amigos. Aqui em Cuba estudo medicina, e gratuitamente!”


A solidariedade está mobilizada para impulsionar uma solução legal, com o apoio do governo, para a revalidação dos diplomas dos 800 médicos brasileiros lá formados e que ainda estão impedidos do livre exercício da profissão tão necessária ao povo brasileiro. Espantoso, em 2004, 120 médicos cubanos que estavam atuando em paupérrimas cidades de Tocantins, com taxas de mortalidade infantil semelhantes a uma pena de morte, foram obrigados a deixar o Brasil em razão de ação judicial interposta pelo Conselho Federal de Medicina. Certos segmentos de profissionais brasileiros nem vão os lugares mais inóspitos, nem aceitam que médicos cubanos lá estejam. Isto nos leva a refletir sobre como há várias leituras do juramento de Hipócrates.


Há projetos de lei em curso para solucionar a questão, mas os rítmos do parlamento são complexos, enquanto a vida dos pobres é de dolorosa urgência em matéria de saúde. Fico a imaginar se estes 800 médicos já pudessem praticar a medicina solidária que aprenderam em Cuba em todos os assentamentos da reforma agrária e na comunidades pobres do país......


Timor Leste, Brasil e Cuba juntos

Em viagem ao Timor Leste, país que também é alvo de solidariedade concreta do Brasil, a solidariedade doou uma rádio comunitária para divulgar música e cultura brasileira, capacitar em rádio-jornalismo e aprimorar a prática do português, um dos idiomas oficiais da nação maubere. Para nossa surpresa, lá encontramos 400 médicos cubanos trabalhando em solidariedade àquele povo que foi vitima do maior genocídio do século, com apoio irrestrito dos EUA. Pois o presidente timorense, Ramos-Horta, revelou que o embaixador dos EUA lá no Timor pressionou-o para que não recebesse os médicos cubanos. O diálogo é revelador da desumanidade do governo estadunidense: “Embaixador, quantos médicos os EUA tem aqui no Timor?” Relutante, o gringo respondeu: “Temos um, que atende os funcionários da nossa embaixada”. “Pois então, embaixador - disse Ramos - nós vamos receber sim os médicos cubanos e sua generosa solidariedade!” Os EUA mandaram matar e agora querem proibir os timorenses recebam ajuda dos médicos cubanos!!!!


Foi nesta oportunidade que soubemos de um convênio de Cooperação entre Cuba,Brasil e Timor pelo qual, os 600 jovens timorenses que estão na Ilha hoje, quando se formarem, antes de regressar ao Timor, farão um estágio no admirável Instituto Oswaldo Cruz, como parte da integração do Brasil a esta ação solidária de Cuba com o Timor. É por estas e outras que a agenda da solidariedade brasileira pode avançar, ter mais audácia, apresentando propostas concretas ao governo para ir mais além. Se Cuba, um país pequeno, tem capacidade de repartir seus recursos materiais e humanos com mais de 70 países, por que não o Brasil?


Unila e Universidade da África

É claro que quando Lula decreta a criação da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, a Unila, com sede em Foz do Iguaçu, e a Universidade da África, com sede em Redenção, no Ceará – primeira cidade a abolir o escravagismo no país - está demonstrando o quanto o Brasil quer e pode pagar a dívida histórica que tem para com os povos africanos e também com nossos irmãos latino-americanos. Acordos podem ser feitos com Elam para que profissionais e alunos intercambiem experiências, para que haja uma cooperação cada vez mais aprofundada, já que aí não haverá qualquer hipótese de colonialismo, como pode ocorrer quando o convênio é com uma universidade de país imperialista.


Haiti, Cuba e Brasil também juntos

Forte exemplo vem no acordo firmado entre Cuba-Brasil-Haiti, pelo qual cubanos e brasileiros vão reestruturar, conjuntamente, o demolido sistema de saúde do Haiti, com os brasileiros doando todos os equipamentos, realizando as construções e enviando pessoal. Cuba já tem lá a maior brigada médica, inclusive com brasileiros que estudaram na ELAM. Estes acordos indicam que podemos ir mais além. Por exemplo, selando convênios entre a Academia de Ciências de Cuba e a SBPC para que os principais trabalhos de cientistas cubanos possam ser apresentados anualmente das reuniões dos cientistas brasileiros, uma forma concreta de integração e ao mesmo tempo democratização do saber. Quanto não será possível fazer na área da produção de medicamentos, na qual Cuba tem larga experiência com vacinas, tendo o Brasil, além do Instituto Osvaldo Cruz, uma expressiva base industrial de grande escala, com capacidade de produzir para toda a África, onde já estão instaladas instituições estatais brasileiras. E Cuba, lembremos, já enviou vacinas ao Brasil quando do surto de meningite anos atrás....


Não é hora de timidez

Enfim, não se pretende esgotar todo o potencial a ser explorado. O que sim é possível, a partir da nova realidade política progressista latino-americana e expandir, aprofundar, consolidar e qualificar ainda mais a justa agenda da solidariedade brasileira com Cuba. Porém, partindo já de uma nova base, pois, representando o povo brasileiro Lula defendeu claramente o fim do bloqueio a Cuba e defendeu aquela nação frente à campanha midiática imperialista que tentou transformar a morte de um preso comum em fato político. Lula não caiu na esparrela. Ele sabe quantos jovens morrem degolados e esquartejados ainda nos presídios brasileiros, sabe quantos negros e pobres morrem a cada ano nas chacinas promovidas por grupos de extermínio completamente fora de controle, sabe que apesar de seu compromisso com os direitos humanos ainda se mata religiosos, sem-terras, sindicalistas. Ele próprio viveu na pele a perda da esposa e do filho em razão de um sistema de saúde que não dá, ainda, a atenção devida aos mais necessitados. Ele sabe quantos morrem nas filas, no trãnsito, nos acidentes de trabalho que matam impressionantemente, mortes evitáveis na maioria dos casos. Tudo isto ainda é desafio a ser superado.


Mas Lula sabe, sobretudo, que em Cuba as crianças estão todas nas escolas, que as crianças não trabalham como ele foi obrigado a trabalhar, que a mortalidade infantil é inferior à dos EUA, que a mortalidade materna está praticamente controlada....E sabe que há prisioneiros, delinqüentes, que se lançam para derrubar este sistema de justiça social mediante remuneração do exterior, dos mesmos que fizeram tantos atentados contra a vida de cidadãos cubanos, inclusive guerra bacteriológica, propagando artificialmente, por aviões, a dengue hemorrágica que matou mais de 300 crianças.


Solidário com o povo cubano, Lula declarou também que o Brasil será o principal parceiro de Cuba. Lá já estão a Petrobrás, a Embrapa, empresas construindo o Porto de Mariel. É uma solidariedade concreta. Os movimentos de solidariedade podem partir deste nível criado por Lula para ir muito mais além. Com a mesma coragem, desprendimento e determinação que tiveram aqueles dois soldados cariocas que lutaram no Exército de Marti. Em solo cubano libertário está o sagrado sangue brasileiro solidário. Não conheceram Sílvio Rodriguez, mas talvez cantassem ao seu modo, com o seu gesto, “Por quíen merece amor”


(*) Diretor da Telesur