46 anos batalhando por uma nova Colômbia
Bogotá, 27 de maio - Lançando uma das mais duras ofensivas deste ano, as FARC-EP comemoram 46 anos de existência e luta insurgente. Em comunicado enviado à redação da ABP Notícias, as FARC evocam as causas que deram origem a seu surgimento, seu compromisso histórico com a paz e com bem-estar para o povo; apresentam o balanço de seu crescimento como força insurgente em contraste com a violenta precipitação de um governo que sob promessa de extermínio, cometeu os mais terríveis crimes contra o povo. Sobre o atual debate eleitoral as FARC-EP afirmam: "(...)está marcado pela intolerância e pela belicidade que impôs a autocracia Uribista".
Viva Bolívar! Viva Manuel!
“Há quarenta e seis anos que a oligarquia mais reacionária, sanguinária, terrorista e submissa à estratégia imperialista dos Estados Unidos na Colômbia, decidiu empurrar a nação ao terrível caminho da guerra, fazendo ouvidos surdos às milhares de vozes que clamavam pelo imperativo do diálogo e das saídas políticas ao invés das agressões militares contra os camponeses de Marquetalia. O poder da violência e do terror foram agitados na colérica e provocadora palavra do senador Álvaro Gómez Hurtado, que nunca foi à guerra ainda que, deslumbrado pelo terror das falanges franquistas na Espanha, preparou o terreno, sobre mentiras, para justificar o novo ciclo de violência como metodologia para arrasar a oposição política.
A demência do poder decretou poucas semanas para arrasar a resistência encabeçada pelo maior e mais firme comandante guerrilheiro de todos os tempos, Manuel Marulanda Vélez e seu nascente Estado Maior com Jacobo Arenas, Isaías Pardo, Hernando Gonzales, Joselo Lozada, Ciro Trujillo, Miguel Pascuas, Fernando Bustos e Jaime Guaracas que, junto aos demais corajosos camponeses que não ultrapassavam 46 vontades, enfrentaram o terror bipartidário representado no excludente pacto da Frente Nacional, que engendrou esta guerra que já dura meio século.
Desde o início da campanha oligárquica e militarista, auspiciada e planejada pelo imperialismo para justificar o terror contra o movimento agrário de Marquetalia e Riochiquito, até o dia que iniciaram a agressão, nossa voz, junto à de muitas organizações e personalidades nacionais e internacionais, vibrou de sensatez propondo saídas incruentas e construtoras de democracia, de desenvolvimento humano, de fortalecimento da produção alimentária, de equilíbrio ambiental, de reconhecimento à cosmovisão das comunidades indígenas e negras e de participação equitativa na produção e distribuição da riqueza. Mas a cegueira do poder da oligarquia criolla e sua postura de joelhos ante as migalhas do amo imperial, desqualificou e silenciou essas vozes. Seu conto tem sido o enriquecimento, a qualquer preço, a base do terror e do roubo.
As FARC-EP, nascemos empurradas pela intolerância, exclusão e perseguição violenta das castas que ostentam o poder e estabelecem os governos; “temos sido vítimas da fúria latifundiária e militar, porque aqui, nesta parte de Colômbia, predominam os interesses dos grandes senhores da terra e os interesses acorrentadores da reação mais retrógrada do país. Por isso nos tocou sofrer na carne e no espírito, todas as bestialidades de um regime podre que brota da dominação dos monopólios financeiros entroncados ao imperialismo.” manifestamos no Programa Agrário. Não inventamos esta guerra, nem fomos a ela como aventura para homologar epopeias redentoras da pobreza; assumimos com dignidade e seriedade o destino político que lhe impôs o abominável poder oligárquico à nação, como destacamos naquela época no Programa Agrário: "somos revolucionários que lutamos por uma mudança de regime. Mas queríamos e lutávamos por essa mudança usando a via menos dolorosa para nosso povo: a via pacífica, a via democrática de massas. Essa via nos foi fechada violentamente com o pretexto fascista oficial de combater supostas 'Repúblicas Independentes' e como somos revolucionários que de uma ou outra maneira jogaremos o papel histórico que nos corresponde, nos tocou buscar a outra via: a via revolucionária armada para a luta pelo poder".
Assim foi que os potentados do terror nos transformaram em combatentes de resistência que a sabedoria do povo tem nutrido neste quase meio século de ação pela dignidade, a paz e a soberania. Crescemos ao calor da batalha político-militar, aferrados ao legado histórico que nos deixaram as comunidades indígenas na resistência contra o invasor espanhol; as lutas contra esse mesmo poder por negros e cimarrões; o levantamento guerrilheiro dos comuneiros com José Antonio Galã, Lorenzo Alcantuz e Manuela Beltrán; os forjadores das mobilizações pela primeira independência do colonianismo Espanhol há duzentos anos com Dom Antonio Nariño; e ao fogo patriótico e soberano que nos irradia o pensamento e o exemplo do libertador Simón Bolívar. Florescemos na experiência dos guerrilheiros dos mil dias, já nos novecentos, contra o “regenerador” Rafael Núñez. Reafirmamos a luta contra a barbárie, agitando como bandeira a memória dos assassinados pelo exército oficial a serviço do imperialismo no massacre das bananeiras no dia 6 de dezembro de 1928 em Ciénaga, estado de Magdalena e na comprometida lembrança com todos os lutadores vitimizados pelo Estado e suas estruturas paralelas para o terror. Mas também crescemos com a crítica, o reconhecimento, o abraço, o amor e a ternura de uma importante multidão de compatriotas que nos alentam com seu próprio sacrifício na luta por transformar o modelo econômico e os costumes políticos implantados.
Nestes 46 anos de árdua luta, crescemos em razões e em nosso compromisso de luta com cada vez mais camponeses sem terra por deslocamento forçado, que já ultrapassam a infame cifra dos 4 milhões de refugiados internos devido ao terror paraestatal; com os milhões de sem teto e com os mais de 20 milhões de pobres que se esforçam para romper o império da desigualdade; com os mais de 20 milhões de desempregados condenados ao “jeitinho”; e compromisso com os milhões de jovens que não têm acesso à educação; com a memória de todas as vítimas do terrorismo de Estado em todos estes anos de terror e que dia a dia clamam justiça, assim como os mais de 2.500 assassinados pela força pública e apresentados baixo o eufemismo de “falsos positivos” neste governo de Uribe Vélez; com as mulheres que tecem esperanças de igualdade ante uma violência que lhes oprime e nega possibilidades de vida digna. Crescemos no fragor do combate e na experiência organizativa ante cada arremetida militarista e ante cada ciclo por desqualificar-nos e exterminar-nos. O Plano Colômbia não tem diminuído nossa fortaleza, nem nossa moral; fracassou ante as inocultáveis razões do levantamento e pelo violento autoritarismo que sustenta a política de segurança desse governo que termina; estatelou-se pela mentira, o crime e a corrupção que constituem sua verdadeira natureza.
A escalada militar imperialista em nossa pátria também fracassará ante a capacidade de luta e resistência da insurgência e a mobilização de nosso povo. A defesa da soberania pátria é um imperativo neste tempo de reverência oligárquica ante os interesses do governo estadunidense.
Nossa disposição a construir caminhos de paz é um compromisso de sempre: pela saída política nos lançamos com seriedade, com ponderação, sem ilusões às maiorias nacionais, sem politicagens, sem malícia em todos os cenários. Assim foi com o governo de Belisario Betancur e Virgilio Barco na Casa Verde, ou em Caracas e Tlaxcala com Cessar Gaviria, ou na última tentativa em Caguan com Andrés Pastrana. Mas a excludente minoria de políticos, empresários, latifundiários e narcotraficantes que ostentam o poder, têm armado carapuças para posicionar seus interesses, só têm procurado abrir espaço para recompor suas estruturas de repressão estatal sob ordens e financiamento do império; como a implementação do fracassado Plano Colômbia para impossibilitar qualquer avanço da paz democrática e impor a linguagem do terror e a chantagem para desqualificar os movimentos de resistência e libertação nacional, bem como desestabilizar a região diante dos ventos de mudança e soberania que acompanham o continente.
O governo que agoniza, prometeu o aniquilamento das FARC-EP, como uma irrefutável estratégia de manipulação mediática da opinião, para manter-se de todas as formas no poder. E com seu extravagante autoritarismo ocultar seus crimes, seus vínculos com o narcotráfico e o paramilitarismo, bem como a corrupção que fervilha por todos os cantos do palácio presidencial. Jamais se apagará da história colombiana este período escuro e letal do fátuo potentado que culmina seu governo com uma profunda crise estrutural e com mais de 100 membros de sua bancada parlamentar comprometidos com a parapolítica, a iídiche-política e a feira dos cartórios. Isso além dos escândalos fraudulentos como Carimagua, Agroingreso Seguro; os decretos de emergência social; as zonas francas para incrementar o patrimônio familiar; as perseguições e grampos ilegais do DAS a opositores, sindicalistas e ativistas de direitos humanos; a perseguição às cortes; as reuniões palacianas com narcotraficantes; a obsessão cega por impor um promotor de bolso; a agressão ao território dos países irmãos violando todas as normas do direito internacional; a ameaça a jornalistas independentes; os “falsos positivos” e a entrega do território nacional para a operação de forças militares de ocupação norte-americanas.
O debate eleitoral que culmina seu primeiro turno neste 30 de maio, está marcado pela intolerância e a pugnacidade que impôs a autocracia Uribista. As propostas, programas e compromissos com a nação têm sido substituídos pelo ataque grotesco e vulgar, pela propaganda obscura em um esforço desmedido por apresentar a um ou outro dos candidatos como uma opção mais reacionária e autoritária que a caracterizada pelo mandatário que sai. Todos se esforçam para demonstrar submissão ante o império, assumindo posições chauvinistas contra os vizinhos e com o joelho no chão frente ao império do norte, como afirmou Gaitán. Ninguém tem proposto debater os temas vitais que mantêm a nação no profundo abismo das desigualdades e do terror. Todos em coro prometem mais despesa militar e mais guerra. É escuro o horizonte que traçam estes aspirantes e por estas razões estamos convocando à abstenção, convencidos que só a força da mobilização de todos os colombianos poderá impor um destino verdadeiro de paz e de justiça que devolva os prisioneiros de guerra a seus lares, que libere os guerrilheiros e os milhares de presos políticos que apodrecem nas prisões do Estado, reconcilie e reconstrua a Colômbia. Só a luta organizada das maiorias levantadas há duzentos anos, para lançar o segundo grito por nossa definitiva independência, devolverá a terra para produção camponesa, resolverá a crise ambiental que gera constantes desastres naturais a mudança de estação e a crise alimentária que mata a nação. E solucionará definitivamente o drama dos refugiados, garantirá o acesso à educação em todos os níveis, à saúde integral, à moradia digna, ao emprego bem remunerado e asseguraria o exercício pleno e integral dos direitos humanos. Só a unidade de todos os revolucionários e democratas da pátria, mobilizados junto às grandes maiorias, nos permitirá tirá-la da horrível noite em que a deixou abatida o Uribismo e eximir a geração do bicentenário.
Neste 46º aniversário, ratificamos nosso compromisso com a pátria grande e o socialismo, com a paz democrática como condição essencial para a reconstrução e reconciliação de todos os colombianos. Com a memória viva de todos os lutadores por uma nova Colômbia, com a força moral do pensamento de Bolívar, Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Arenas, Raúl Reis, Iván Rios, e Efraín Guzmán, as FARC-EP dedicamos todos nossos recursos humanos pelo acordo humanitário e a paz da Colômbia.
Compatriotas.
Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Publicado por:
Círculos Bolivarianos.
REDE PÚBLICA de discussão e debate do MORENA
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