domingo, 4 de setembro de 2011

O valioso tempo dos maduros


Contei meus anos e  descobri que terei menos tempo para viver  daqui para a frente do que já vivi  até agora.

Tenho muito mais passado  do que futuro.

Sinto-me como aquele menino  que ganhou uma bacia de jabuticabas.

As primeiras, ele chupou  displicente, mas percebendo que faltam poucas,  rói o caroço.

Já não tenho tempo  para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.

Inquieto-me com invejosos  tentando destruir quem eles admiram, cobiçando  seus lugares, talentos e
sorte.

Já não tenho tempo  para conversas intermináveis, para discutir  assuntos inúteis sobre vidas alheias que  nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação  de desafetos que brigaram pelo majestoso  cargo de secretário geral do coral.

As pessoas não debatem  conteúdos, apenas os rótulos.

Meu tempo tornou-se escasso  para debater rótulos, quero a essência,  minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas  na bacia, quero viver ao lado de  gente humana, muito humana, que sabe rir  de seus tropeços, não se encanta com  triunfos, não se considera eleita antes  da hora, não foge de sua mortalidade...

Só há que caminhar  perto de coisas e pessoas de verdade.

O essencial faz a  vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial!

Mário  de Andrade



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