29/3/2011, Felicity Arbuthnot, Palestine Chronicle
http://www.palestinechronicle.com/view_article_details.php?id=16730
“Se você quer uma imagem de como será o futuro,
imagine um coturno militar esmagando a cabeça de um homem – para sempre.”
-- George Orwell.
A Líbia começará [começou] a ser atacada no dia, ou quase no dia, que marca o 8º aniversário do início da destruição do Iraque, 20 de março, pelo calendário europeu. E, como o Iraque, a Líbia também será destruída – escolas, sistema educacional, sistema de água, a infraestrutura, os hospitais, os prédios públicos. Haverá quantidade enorme de “trágicos erros”, “danos colaterais”, pais, mães, crianças, filhos, irmãos, bebês, avós, avôs perdidos, e serão inauguradas escolas para mutilados, para cegos, para surdos e o rol completo das ações humanitárias, que sempre vêm depois que os países são destruídos, arrasados. E, com o tempo, a história da Líbia, como aconteceu no Iraque e no Afeganistão, será apagada da memória humana.
A infraestrutura nacional destruída e com as sanções e embargo vigentes, nenhuma reconstrução será possível sem a participação dos “libertadores” ocidentais. EUA, Grã-Bretanha e França se reunirão e decidirão que o país tem de ser “estabilizado” antes de ser “reconstruído”: a destruição da Líbia, como a destruição do Iraque não tem história; é como se não tivesse acontecido. Em seguida, os mesmos EUA-França-Grã-Bretanha se (re)instalarão na Líbia, neossenhores dos campos de petróleo, das refinarias, da água. O povo líbio será apenas uma inconveniência, um incômodo; bem rapidamente, com a ajuda dos jornais e televisões, o povo líbio passará a ser chamado de “o inimigo”. Então haverá “insurgentes”, “terroristas”, e o povo líbio será morto a tiros, ou em antros de tortura – e EUA-França-Grã-Bretanha instalarão na Síria um governo-fantoche seu aliado.
Os invasores e ocupantes invadem e ocupam com exércitos, mas também com suas empresas, e algumas daquelas empresas serão premiadas com contratos “de reconstrução”. O dinheiro – como o dinheiro líbio que já foi confiscado e está congelado em bancos também invasores e ocupantes – como que desaparecerá sem deixar rastros. E a ação humanitária de EUA-França-Grã-Bretanha na Líbia deixará sobre a terra exclusivamente seu rastro de ruínas, roubos e mortes.
E as televisões e rádios em toda a Europa e nos EUA festejarão a “ação humanitária do ocidente” e da “coalizão internacional”, como aconteceu no Iraque. Europeus e norte-americanos voltarão para casa, certos de que não lhes choverão bombas sobre o telhado, que os bebês não terão surtos de tremores incontroláveis, que não acordarão no meio da noite, aos gritos, em pânico, ao mais remoto sinal de som de algum avião que cruze o céu.
Estamos assistindo à operação “Choque e pavor” versão Líbia. Vergonha. Só vergonha cobre hoje os EUA, a França, a Grã-Bretanha e a ONU. É mentira que tenham sequer tentado “salvar do horror da guerra sucessivas gerações”.
Cada viúva, cada criança morta ou mutilada para sempre, na Líbia, como no Iraque, terão esses nomes – EUA, França, Grã-Bretanha, ONU – gravados a fogo na própria carne, para sempre. Para toda uma geração de árabes, de fato, em todo o mundo, EUA, França, Grã-Bretanha e ONU já são sinônimos de morte.
E a imprensa divulgará os ataques que o ocidente move contra povos soberanos, ataques de guerra, gestos assassinos – como se fossem gestos de amizade, para levar democracia, para libertar a Líbia do “novo Hitler”, do “açougueiro de Bengazi”.
Os mesmos países que se associaram em gangue, dessa vez, para derrubar o governo soberano da Líbia, pode-se dizer, repetem os crimes que já foram julgados e condenados em Nuremberg: “Supremo crime internacional, que só difere de outros crimes de guerra porque carrega em si o mal acumulado de todos os crimes contra todos os povos”. De diferente que, dessa vez, embora os criminosos sejam os mesmos de sempre, a vítima é outra. O governo da Líbia é governo soberano. Nenhuma falsa “legalidade” que esconde o próprio crime por trás de uma ‘resolução’ arrancada à ONU por chantagem enganará todos, por muito tempo. O mundo já viu o que agora apenas se repete.
No que tenha a ver com os salvadores ocidentais de povos árabes e portadores de ‘democracia’ à ponta de sabres, muito cuidado com o que se pede a Deus. Em seis meses, a maioria dos líbios, e por pior que tenha sido a história dos últimos 40 anos, estarão maldizendo o dia em que entregaram seu país aos invasores, ocupantes, assaltantes de sempre.
Criada em Goiás associação de solidariedade a Cuba
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*Thaís Falone, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) |
Foto:Vinícius Schmidt Santos *
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