27 Set 2011
Se nosso
Prêmio Nobel se auto-engana, alguma coisa que está por provar, isso tal vez
explique as incríveis contradições de seus raciocínios e a confusão plantada
entre seus ouvintes.
Não há um
ápice de ética, e nem sequer de política, em sua tentativa de justificar sua
anunciada decisão de vetar qualquer resolução a favor do reconhecimento da
Palestina como Estado independente e membro das Nações Unidas. Até políticos,
que em nada partilham um pensamento socialista e chefiam partidos que foram
íntimos aliados de Augusto Pinochet, proclamam o direito da Palestina a ser membro
da ONU.
As
palavras de Barack Obama sobre o assunto principal que hoje se discute na
Assembléia-Geral dessa organização, só podem ser aplaudidas pelos canhões, os
mísseis e os bombardeiros da NATO.
O resto
de seu discurso são palavras vazias, carentes de autoridade moral e de sentido.
Observemos por exemplo quão órfãs de idéias foram, quando no mundo esfomeado e
pilhado pelas transnacionais e pelo consumismo dos países capitalistas
desenvolvidos Obama proclama:
“Para
vencer as doenças é preciso melhorar os sistemas de saúde. Continuaremos
lutando contra o AIDS, a tuberculose e o paludismo; focar-nos-emos na saúde dos
adultos e das crianças, e é preciso detectar e lutar contra qualquer perigo
biológico como o H1N1, ou uma ameaça terrorista ou uma enfermidade.”
“As ações
no relativo à mudança climática: Devemos utilizar os recursos escassos, e
continuar o trabalho para construir, na base do que se fez em Copenhague e
Cancún, para que as grandes economias continuem com seu compromisso. Juntos
devemos trabalhar para transformar a energia que é o motor das economias e
apoiar outros que avançam em suas economias. Esse é o compromisso para as
próximas gerações, e para garantir que as sociedades consigam suas
potencialidades devemos permitir que os cidadãos também alcancem suas
potencialidades”
Todo o
mundo sabe que os Estados Unidos não assinaram o Protocolo de Quioto e tem
sabotado todos os esforços por preservar a humanidade das terríveis
conseqüências da mudança climática, apesar de ser o país que consome uma parte
considerável e desproporcionada do combustível e dos recursos mundiais.
Deixemos
constância das palavras idílicas com que pretendia seduzir os homens de Estado
ali reunidos:
“Não há
nem uma linha reta, nem um só caminho rumo ao sucesso, viemos de diferentes
culturas e temos diferentes histórias; mas não podemos esquecer que quando nos
reunimos aqui como chefes de diferentes governos, representamos cidadãos que
partilham as aspirações básicas, as mesmas: viver em dignidade e em liberdade;
ter educação e alcançar as oportunidades; amar suas famílias, e amar e venerar
seus deuses; viver numa paz que faz com que a vida valha a pena ser vivida; a
natureza de um mundo imperfeito faz com que tenhamos aprendido estas lições
cada dia.”
“…porque
os que vieram antes do que nós acreditavam que a paz é melhor do que a guerra,
e a paz é melhor do que a repressão, e que a prosperidade é melhor do que a
pobreza. Essa é a mensagem que vem, não das capitais, mas dos povos, da gente,
e quando o alicerce desta instituição foi fundado, Truman veio e disse: As
Nações Unidas basicamente é a expressão da natureza moral das aspirações do ser
humano. Vivemos em um mundo que muda a uma grande velocidade, esta é uma lição
que nunca devemos esquecer. A paz é difícil, mas sabemos que é possível, por
isso é que juntos devemos decidir-nos para que isto seja definido pelas
esperanças e não os temores. Juntos devemos atingir a paz, uma paz que seja
duradoira.
“Muitíssimo
obrigado.”
Escutá-las
até o final merece algo mais do que gratidão; merece um prêmio.
Como já
disse, nas primeiras horas da tarde coube o uso da palavra a Evo Morales Ayma,
presidente do Estado Plurinacional da Bolívia, quem entrou rapidamente nos
temas essenciais.
“…há uma
clara diferença sobre a cultura da vida frente à cultura da morte; há uma clara
diferença sobre a verdade frente à falsidade, uma profunda diferença da paz
frente à guerra.”
“…sinto
que será difícil entender-nos com políticas econômicas que concentram o capital
em poucas mãos. Os dados demonstram que 1% da população no mundo concentra 50%
das riquezas. Se existem essas profundas diferenças, como poderia a pobreza
poderia ser resolvida? E se não acabarmos com a pobreza, como poderia ser
garantida uma paz duradoira?”
“De
criança me lembro perfeitamente que antes, quando havia uma rebelião dos povos
contra um sistema capitalista, contra os modelos econômicos de pilhagem
permanente dos nossos recursos naturais, os dirigentes sindicais, os líderes
políticos de tendência esquerdista eram acusados de comunistas para
apreendê-los; às forças sociais as atacavam militarmente: confinamentos,
exílios, chacinas, perseguições, encarceramentos, acusados de comunistas, de
socialistas, de maoístas, de marxistas-leninistas. Sinto que isso agora tem
terminado, agora já não nos acusam de marxistas-leninistas, mas agora têm
outros instrumentos como o narcotráfico e o terrorismo…”
“…preparam
intervenções quando seus presidentes, quando seus governos, quando os povos não
são pró-capitalistas nem pró-imperialistas.”
“…fala-se
duma paz duradoira. Como pode ter uma paz duradoira com bases militares
norte-americanas? Como pode ter paz duradoira com intervenções militares?”
“Para o
quê servem estas Nações Unidas, se aqui um grupo de países decidem
intervenções, chacinas?”
“Se
quiséssemos que esta organização, as Nações Unidas, tenha autoridade para fazer
respeitar as resoluções, então temos que começar a pensar em refundar as Nações
Unidas…”
“Cada ano
nas Nações Unidas decidem —quase cem por cento das nações, salvo os Estados
Unidos e o Israel— desbloquear, acabar com o bloqueio econômico contra Cuba, e
quem faz respeitar isso? É claro que o Conselho de Segurança jamais vai fazer
respeitar essa resolução das Nações Unidas […] Não posso entender como em uma
organização de todos os países do mundo suas resoluções não são respeitadas. O
quê são as Nações Unidas?”
“Desejo
dizer-lhes que a Bolívia não está de costas ao reconhecimento da Palestina nas
Nações Unidas. Nossa posição é que a Bolívia dá as boas-vindas à Palestina às
Nações Unidas.”
“Vocês
sabem, amáveis ouvintes, que eu procedo do Movimento Camponês Indígena, e
nossas famílias quando falam de uma empresa se pensa que a empresa tem muito
dinheiro, carrega muito dinheiro, são milionários, e não podiam entender como
uma empresa iria pedir ao Estado que lhe empreste dinheiro para o investimento
correspondente.
“Por isso
digo que estas entes financeiras internacionais são as que fazem negócio
mediante as empresas privadas; porém, quem têm que pagar isso? Justamente são
os povos, os Estados.”
“…Bolívia
junto do Chile, temos uma demanda histórica para retornar ao mar com soberania
ao Pacífico, com soberania. Por isso, a Bolívia tem tomado a decisão de
recorrer aos tribunais internacionais, para demandar uma saída útil soberana ao
oceano Pacífico.
“A
Resolução 37/10 da Assembléia-Geral da ONU, de 15 de novembro de 1982,
estabelece que ‘recorrer a um Tribunal Internacional de Justiça para resolver
litígios entre Estados não deve ser considerado como um ato inamistoso.’
“A
Bolívia se ampara no direito e na razão para recorrer a um Tribunal
Internacional, porque seu enclaustramento é devido a uma guerra injusta, uma
invasão. Demandar uma solução no âmbito internacional representa para a Bolívia
a reparação de uma injustiça histórica.
“A
Bolívia é um Estado pacifista que privilegia o diálogo com os países vizinhos,
e por isso mantém abertos os canais de negociação bilateral com o Chile, sem
que isso signifique renunciar a seu direito de recorrer a um Tribunal
Internacional…”
“Os povos
não são responsáveis do enclaustramento marítimo da Bolívia, os causantes são
as oligarquias, as transnacionais que como sempre se apoderam de seus recursos
naturais.
“O
Tratado de 1904 não contribuiu à paz nem à amizade, ocasionou que por mais de
um século a Bolívia não tivesse acesso a um porto soberano.”
“…na
região América se gesta outro movimento dos países da América latina com o
Caribe, eu diria uma nova OEA sem os Estados Unidos, para libertar-nos de
certas imposições, felizmente, com a pequena experiência que temos na UNASUL.
[…] já não precisamos, se houver algum conflito de países […] que venham desde
cima e de afora a pôr ordem.”
“Também
desejo aproveitar esta oportunidade para falar sobre um tema central: a luta
contra o narcotráfico. A luta contra o narcotráfico é usada pelo imperialismo
norte-americano com fins essencialmente políticos. A DEA dos Estados Unidos na
Bolívia não lutava contra o narcotráfico, controlava o narcotráfico com fins
políticos. Se havia algum dirigente sindical, ou havia algum dirigente político
antiimperialista, para isso estava a DEA: para implicá-lo. Muitos dirigentes,
muitos políticos nos salvamos desses trabalhos tão sujos desde o império para
implicar-nos no narcotráfico. Até agora, ainda continuam nessa tentativa.”
“Nas
semanas passadas diziam alguns meios de comunicação desde os Estados Unidos,
que o avião da presidência estava detido com vestígios de cocaína nos Estados
Unidos. Que falso!, tentam confundir à população, tentam fazer uma campanha
suja contra o governo, inclusive contra o Estado. Contudo, o quê fazem os
Estados Unidos? Tira a certificação à Bolívia e à Venezuela. Que autoridade
moral têm os Estados Unidos para certificar ou tirar a certificação aos países
na América do Sul ou na América Latina?, quando Estados Unidos é o primeiro
consumidor de drogas do mundo, quando Estados Unidos é um dos produtores de
maconha no mundo, primeiro produtor de maconha do mundo […] Com que autoridade
pode certificar ou tirar a certificação? É uma outra forma de como amedrontar
ou intimidar os países, tentar escarmentar os países. Todavia, a Bolívia, com
muita responsabilidade, vai lutando contra o narcotráfico.
“No mesmo
relatório dos Estados Unidos, isto é, do Departamento de Estado dos Estados
Unidos, é reconhecida uma redução líquida da cultura de coca, que tem melhorado
a interdição.
“Porém,
cadê o mercado? O mercado é a origem do narcotráfico e o mercado está aqui. E
quem tira a certificação aos Estados Unidos porque não tem diminuído o mercado?
“Hoje de
manhã, o presidente Calderón, do México, dizia que o mercado da droga continua
crescendo e porquê não há responsabilidades para erradicar o mercado. […]
Façamos uma luta sob uma co-responsabilidade partilhada. […] Na Bolívia não temos
medo, e é preciso acabar com o segredo bancário se quisermos fazer uma luta
frontal contra o narcotráfico.”
“…Uma das
crises, à margem da crise do capitalismo, é a crise alimentar. […] temos uma
pequena experiência na Bolívia: dá-se créditos aos produtores de arroz, milho,
trigo e soja, com zero por cento de juros, e inclusive eles podem pagar sua
dívida com seus produtos; trata-se de alimentos; ou créditos brandos para
fomentar a produção. Não obstante, as bancas internacionais nunca levam em
conta o pequeno produtor, nunca levam em contas as associações, as
cooperativas, que muito bem podem contribuir se tiverem a oportunidade. […]
Temos que terminar com o comércio chamado de competitividade.
“Em uma
competência, quem ganha?, o mais poderoso, o que tem mais vantagens, sempre as
transnacionais, e o quê acontece com o pequeno produtor?, o quê é dessa família
que deseja surgir com seu próprio esforço? […] Numa política de competitividade
com certeza nunca vamos resolver o tema da pobreza.
“Mas,
finalmente, para concluir esta intervenção desejo dizer-lhes que a crise do
capitalismo já é impagável. […] A crise econômica do capitalismo não apenas é
conjuntural, mas é estrutural, e o quê fazem os países capitalistas ou os
países imperialistas?, procuram qualquer pretexto para intervir em um país e
para recuperar seus recursos naturais.
“Esta
manhã o Presidente dos Estados Unidos dizia que o Iraque já se libertou, eles
próprios vão se governar. Os iraquianos poderão se governar, mas o petróleo dos
iraquianos nas mãos de quem está agora?
“Saudaram,
disseram que acabou a autocracia na Líbia, agora é a democracia; pode ter a
democracia, mas o petróleo da Líbia nas mãos de quem ficará agora? […] os
bombardeamentos não eram por causa do Khadaffi, por causa de uns rebeldes, mas
é procurando o petróleo da Líbia.”
“…Portanto,
sua crise, a crise do capitalismo, querem-na ultrapassar, querem-na emendar
recuperando nossos recursos naturais, na base do nosso petróleo, na base do
nosso gás, dos nossos recursos naturais.
“…temos
uma enorme responsabilidade: defender os direitos da Mãe Terra.”
“…a
melhor forma de defender os direitos humanos é agora defendendo os direitos da
Mãe Terra […] aqui temos uma enorme responsabilidade de aprovar os direitos da
Mãe Terra. Há apenas 60 anos aprovaram a Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Há apenas 60 anos atrás constataram nas Nações Unidas que também o ser
humano tem seus direitos. Depois dos direitos políticos, dos direitos
econômicos, dos direitos dos povos indígenas, agora temos a enorme
responsabilidade de como defender os direitos da Mãe Terra.
“Também
estamos convencidos de que o crescimento infinito num planeta finito é
insustentável e impossível, o limite do crescimento é a capacidade degenerativa
dos ecossistemas da Terra. […] fazemos um apelo a […] um novo decálogo de
reivindicações sociais: em sistemas financeiros, sobre os recursos naturais,
sobre os serviços básicos, sobre a produção, sobre a dignidade e a soberania, e
nessa base começar a refundar as Nações Unidas para que as Nações Unidas sejam
a máxima instância para a solução em temas de paz, em temas de pobreza, em
temas de dignidade e de soberania dos povos do mundo.”
“Esperamos
que esta experiência vivida como Presidente possa servir de alguma coisa para
todos nós, como também eu venho a aprender de muitos de vocês para continuar
trabalhando pela igualdade e pela dignidade do povo Boliviano.
“Muitíssimo
obrigado.”
Após os
medulares conceitos de Evo Morales, o Presidente da Autoridade Nacional
Palestina, Mahmud Abbas, ao que concederam o uso da palavra dois dias depois,
expôs os dramáticos sofrimentos dos habitantes da Palestina: “…a crassa
injustiça histórica perpetrada com nosso povo, por isso foi acordado o
estabelecimento do Estado da Palestina em só 22% do território da Palestina e,
sobre tudo, o território palestino que ocupou Israel em 1967. Tomar esse passo
histórico, que aplaudiram os Estados do mundo, permitiu condescender
sobremaneira para conseguir uma contemporização histórica, que permitiria que
fosse atingida a paz na terra da paz.”
“[…]
Nosso povo continuará com a resistência pacífica popular à ocupação do Israel,
seus assentamentos e sua política de apartheid, bem como a construção do muro
de anexação racista […] armado de sonhos, valor, esperança e de consignas
perante a face de tanques, gás lacrimogêneo, buldôzeres e balas.”
“…queremos
dar-lhes a mão ao governo e ao povo israelita para a imposição da paz, e lhes
digo: construamos juntos, de maneira urgente, um futuro para nossos filhos em
que possam gozar de liberdade, de segurança e de prosperidade. […] Construamos
relações de cooperação que estejam na base da paridade, da eqüidade e da
amizade entre dois Estados vizinhos, a Palestina e o Israel, em vez de políticas
de ocupação, assentamentos, guerra e eliminação do outro.”
Tem
decorrido quase meio século desde aquela brutal ocupação promovida e apoiada
pelos Estados Unidos. Contudo, apenas transcorre um dia sem que o muro seja
levantado, monstruosos equipamentos mecânicos destruam moradias palestinas e
algum jovem, e inclusive adolescente palestino, caia ferido ou morto.
Quão
profundas verdades continham as palavras de Evo!
Fidel
Castro Ruz
26 de setembro de 2011
22h32.
26 de setembro de 2011
22h32.
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