A fim de assistir,
em representação do Comitê Brasileiro
pela Libertação do 5, ao VII Colóquio pela
Libertação dos 5 Herois Cubanos e
Contra o Terrorismo, que
teve lugar em Holguin, na província oriental de
Holguin, Cuba, neste mês de novembro,
passei 10 dias na Ilha, metade dos
quais na mencionada cidade e a outra
em Havana.
Defensor dos princípios que
nortearam e norteiam a Revolução Cubana,
antes ainda do triunfo
da guerra revolucionária comandada por Fidel Castro e seus companheiros, sempre que a
visito – foi a minha 12ª estada – procuro inteirar-me da situação social
e econômica do país, buscando conversar
com as pessoas comuns e
com quadros mais
responsáveis.
Como foi a primeira visita
depois da aprovação pelo parlamento cubano das Linhas Gerais da
Política Econômica e Social do Partido e da Revolução meu
interesse se centrou em como estão
evoluindo as medidas adotadas e as
reações das pessoas.
Cuba enfrenta dificuldades na obtenção de investimentos em
larga escala para a construção de obras
cruciais para
o desenvolvimento acelerado de
seu potencial econômico e de infra-estrutura, embora esteja em
pleno andamento uma delas: a construção do novo porto de Mariel e seu
complexo rodo-ferroviário com financiamento brasileiro. O país
necessita seriamente de novas e
adicionais fontes de energia. O foco
principal está voltado para o incremento da
produção agrícola. Terras foram cedidas em comodato de longa duração
para dezenas
de milhares de agricultores. Se alcançar a
esperada produção alimentar destinada ao consumo popular
e à rede hoteleira em
expansão – esse ano
são esperados 2,7 milhões de turistas – haverá uma economia na importação de perto de 2 bilhões em
moeda forte que
poderão ser destinados a outros setores.
Viajando pela província de Holguin, que é essencialmente agrícola, pudemos observar
áreas planas sem
cultivo, uma rareada presença de gado
vacum e em alguns
casos a utilização de arado rudimentar puxado por
parelha de bois.
E a reação popular?
Em grande medida é
mais de esperança do que
ceticismo. As novas medidas
que vêm sendo implementadas são recebidas favoravelmente. Setores ligados ao turismo: hotelaria, locomoção, transporte, atividades artísticas, restaurantes e cafeterias, mostram-se mais animados.
‘Habana Vieja’, por exemplo, a par
da reconstrução acelerada de
seus edifícios, vê
nascer um
quantidade de restaurantes, cafeterias e lojas mais
modernas. A queixa generalizada,
porém, é quanto ao baixo
poder aquisitivo do peso cubano mais
ainda do que um
certo ressentimento quanto aos que
ganham total ou parcialmente
em Cucs, moeda cubana equivalente ao dólar. Mas as pessoas
têm consciência dos serviços oferecidos gratuitamente – saúde, educação,
lazer – ou altamente
subsidiados – alimentação, transporte, cultura. E mais
consciência ainda de que o
problema salarial só será paulatinamente enfrentado com o crescimento da produção e da
produtividade agrícola e industrial.
Enfim as observações acima suscitadas são temas
amplamente discutidos em todas as esferas de decisão e entre
a população em geral. Os amigos de Cuba e
da Revolução esperam que os enormes
obstáculos sejam superados nos próximos
anos. O povo cubano já
mostrou em outras cruciais oportunidades sua resistência,
persistência e
tenacidade.
Gostaria, por fim, de
ressaltar três
aspectos pontuais da visita:
O Colóquio pela
Libertação dos 5 recebeu a participação
de 413 representantes de 50 países, numa
demonstração eloqüente de que
mais e mais gente
em todo o mundo
passa a conhecer a enorme
injustiça que se pratica contra os cinco
lutadores antiterroristas. Foram jornadas de reflexão, de combate, de
reclamação por justiça e de denúncia ao terrorismo e à injustiça. Depois de 13 anos de injusta
prisão, a situação dos 5 continua sendo crítica. René González cumpriu até o último segundo, em 7 de
outubro, sua condenação,
porém em vez de
ser devolvido a Cuba, recebeu um
novo castigo:
obrigá-lo a permanecer em território
dos Estados Unidos por mais 3
anos sob liberdade
supervisionada, sem poder receber a visita de sua
esposa Olga Salanueva, a quem até
hoje o governo de Washington nega o
direito de visitá-lo, expondo-o aos
grupos terroristas com
sede em Miami, pondo sua vida
em risco.
A situação de Gerardo
Hernández continua sendo a mais
grave dos 5, condenado que está a duas prisões perpétuas mais
15 anos, e a quem lhe negam
sistematicamente a visita de
sua esposa, Adriana Perez. As condenações de Ramón Labañino, Antonio Guerrero e
Fernando González, mesmo após as comutações, somam coletivamente 70 anos de prisão.
Ainda se espera a resposta dos
recursos de Habeas Corpus, porém há
consciência do esgotamento das
vias legais. O caso
deixou o terreno judicial para entrar no campo
político. Soluções aventadas no Colóquio vão
desde a troca de prisioneiros, ação a ser tramitada entre os
governos de Cuba e dos Estados Unidos até um
indulto que poderia
ser firmado pelo
presidente Obama, submetido à
forte pressão
internacional. Enquanto os antiterroristas guardam injusta prisão, Luis Posada
Carriles, responsável pela
morte de centenas de seres inocentes,
passeia livremente pelas ruas de Miami, sob proteção de
Washington, celebrando seus crimes, sem o
menor arrependimento, propondo novos atentados
terroristas contra Cuba,
seu povo e seus
dirigentes.
O povo trabalhador
cubano continua oferecendo forte apoio à Revolução e às
lideranças do país. Na visita
que parte dos participantes do colóquio fez a uma cooperativa de produção de
arroz, sob assistência
técnica do Vietnã, no município de Calixto Garcia, zona rural de Holguin,
pude verificar no contacto direto com
camponeses, que eles mantém firme sua
confiança nos
destinos da Revolução e nas medidas para fazer avançar o processo. Estão dispostos a trabalhar
duro para
aumentar a produção
agrícola. Esperam receber mais
equipamentos com o fim de
mecanizar o plantio e a
colheita. Imaginam que este
mesmo sentimento é o de milhares de camponeses e cidadãos que se
estão incorporando ao trabalho na terra.
Holguin é uma
província de cerca de 1,1 milhão de habitantes. Sua
capital possui 130 mil habitantes.
Pudemos, no decurso do colóquio, atestar
pessoalmente a notável atividade artística dessa pequena cidade.
Há pouco inauguraram um moderno e
bem equipado
teatro para
876 espectadores, o Teatro Eddy Suñol, destinado a espetáculos teatrais, musicais e balé. Nele exibiram durante o colóquio uma emocionante apresentação de
um elenco infantil contando a
história de Cuba e um
belo espetáculo musical de canções e dança.
Pessoalmente, entrei em contacto com
artistas do Teatro Lírico de
Holguin Rodrigo Prats e, ao assistir a um longo
ensaio, facilitado pelo Secretário de
Cultura da província, Alexis Triana, constatei o alto nível artístico de cantores como
Jose Tauler, Liudmila Perez, Maria Dolores Rodriguez e Yuri Hernandez,
que brilhariam em qualquer
palco lírico do mundo,
além da pianista Rosário
Aguilera que tocou o Odeon de Ernesto
Nazareth, de uma partitura que lhe havia
enviado há tempos, com a
qualidade dos melhores pianistas brasileiros. É de impressionar a quantidade e
qualidade do material humano
artístico de uma localidade distante de centros como
Havana e Santiago, apesar dos parcos recursos
materiais de que dispõem.
Max
Altman
25 de novembro de 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário