Maurício Tomasoni
A história e a composição das sociedades humanas não pode ser vista ao longe como uma simples equação matemática – um dois mais dois igual a quatro. Tal raciocínio serve para tentar se compreender o que está acontecendo presentemente nos países árabes do norte da África e no Oriente Médio. Não podemos achar que o mundo inteiro é luz e semelhança com o que vivemos em nosso país em termos de instituições, valores morais, etc. Há inúmeras particularidades regionais e nacionais. Há diferentes visões e diferentes formas de enfrentamento contra o imperialismo.
Hoje, 22 de fevereiro de 2010, há um esforço midiático muito forte e desestabilizar e discredibilizar o governo líbio e em especial o dirigente máximo da revolução líbia de 1969, Muammar Kadaffi. Neste mesmo esforço esta mídia que sempre encobriu o caráter de regimes lacaios aos interesses imperialistas como Marrocos, Egito, Jordânia, Arábia Saudita, hoje clama por democracia à moda ocidental em todo o mundo árabe. Inclusive lança impropérios dizendo que Kadaffi estaria exilado na Venezuela.
Antes de qualquer análise é preciso ter em conta duas questões básicas: 1) ter em conta para que lado joga a mídia; 2) conhecer mesmo que em pequenos traços características da história, cultura e economia destes países.
De todos os países que vem sofrendo convulsões há que separar dois em particular: Líbia e Argélia. Aliás, o segundo a mídia falou no começo da crise tunisiana que vinha sofrendo com manifestações, mas já não falam mais nada. Há um terceiro que fico em dúvida, o Iêmen (que até meados da década de 90 do século passado era dividido em dois países – o Iêmen do Norte pró-soviético e o Iêmen do Sul).
O que há em comum quando quase todos os países envolvidos nesta crise é que são em sua maioria velhas monarquias que assumiram governo destes países sob a tutela do imperialismo e no caso do Egito um governo a respaldar os interesses dos Estados Unidos e da União Européia na região.
Em relação à Líbia e à Argélia há que se ressaltar que são dois países que são fruto da luta revolucionária do seu povo contra os colonialismos italiano e francês. São dois regimes de caráter nacionalista e com a via socialista de desenvolvimento. Concordemos ou não com as concepções de socialismo destas direções políticas. Outro particular: são regimes que não se baseiam por uma orientação religiosa. Há mais um particular: não se pode confundir o Iran com isso tudo, pois este país tem inclusive um idioma e origem próprias.
Mas, neste momento, vou me deter mais na questão da Líbia. A revolução Líbia e seu “socialismo africano”, se baseia teoricamente no Livro Verde de Kadaffi, que facilmente pode ser encontrado e no qual uma série de concepções fecham com aquilo que pensamos: liberdade religiosa, questão da propriedade da terra e dos meios de produção, contra a exploração do homem pelo homem, etc. Este livro deve ser lido à luz do tempo histórico em que foi escrito e sem os preconceitos pequeno-burgueses que nos foram incutidos.
O governo líbio sempre foi estigmatizado como vinculado ao terrorismo. Em décadas da revolução líbia jamais vimos alguma postura internacional agressiva deste país, assim como jamais vimos seu governo assumir a postura de defender os interesses do imperialismo. Muito pelo contrário, sempre defenderam a política de paz no Oriente Médio e se posicionaram solidários às demandas dos povos. Me lembro da ajuda econômica enviada pelos líbios à Revolução Popular Sandinista da Nicarágua, acompanhada, é claro, do Livro Verde do Kadaffi, que os sandinistas colocavam ao lado.
Este não pretende ser uma tese de mestrado, nem obra definitiva. Busca apenas alertar a companheirada para não cairmos no “canto de sereia”. Talvez, se houver tempo, melhore um pouco estas linhas.
Na minha opinião compartilhada pelo mestre Fidel Castro, o que ocorre é uma sedição externa e interna, e indo um pouco mais adiante dele, financiada de fora para dentro, contando com uma diversidade de forças que vão desde os serviços secretos israelense, norte-americano e de outros países europeus, assim como mercenários recrutados em países da região como Egito e Tunísia, contando também com as forças reacionárias internas que foram derrubadas pela revolução líbia.
Espero que seja vitoriosa a revolução líbia e que prossiga seu caminho de independência nacional e progresso social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário