O desconforto que sinto
por Rafiqa Salam
setembro de 2011
A ANP inflama a todos com a
ida a ONU para o reconhecimento da Palestina como Estado. Um
reconhecimento que implica na mudança de status de observador da OLP
como entidade de representação dos palestinos na ONU (adquirido em 1974) para o de Estado Pleno.
O
que devemos analisar é que esta tática de reconhecimento na ONU não
significa um estado independente e soberano. Também não significa que os
palestinos poderão sair às ruas e ocuparem suas terras, que foram
usurpadas de forma agressiva e gradativa nestes 64 anos pelos sionistas.
Primeiro
a ANP inflama, mas depois reprime. Está preocupada em como controlar os
palestinos – que podem proclamar seu estado, mas não podem comemorar
livremente!
Saudar um novo estado, embora ele não exista de forma concreta!....... ou poderão os palestinos ocuparem os diversos assentamentos ilegais espalhados pela Cisjordânia?? Poderão quebrar o Muro da Vergonha, derrubá-lo e recuperar os quintais de suas casas?? E a colheita de oliveiras? acontecerão
sem repressão do exército israelense? Os palestinos poderão festejar o
novo estado - o 194º estado membro da ONU – pelas ruas da palestina sem
serem detidos e revistados nos check points?? Que ironia....194 o
número refere-se a posição que o Estado da Palestina
ocupará na ONU... e eu que pensei que era uma justa referência a
Resolução 194!! Ah, mas esse assunto a traidora ANP não teve tempo de
tratar... A Resolução 194 foi aprovada pela ONU, em 1948, e
reconhece aos refugiados palestinos o direito de regressarem aos seus
lares ou de serem indenizados, se assim o preferirem.
Tantas
perguntas, sem respostas........ como segurar as reações dos
palestinos, que querem ecoar seus gritos na Primavera Árabe! Espero
que não sejam as balas e a violenta repressão do exercito nazi-sionista
que detenham nossos irmãos palestinos....... Que a paz, que tanto é
propagada nessa campanha de reconhecimento na ONU, não seja a do cemitério......
Assisto
este processo sem me envolver – o que é um desconforto, uma tristeza,
vivo um paradoxo - mas não me sinto representada neste teatro dirigido
pela ANP. Não posso ter outra atitude, uma vez que não sou
neutra e defendo a Palestina Livre, com autonomia e soberania sobre
todo o seu território histórico, com Jerusalém (inteira!) como capital, com o direito de retorno dos refugiados e a libertação dos 11 mil presos políticos.
Desconfortável mesmo é assitir que o território do “novo estado palestino” é
menos de 8% dos 22% que sobrou depois da invasão sionista de
1967......... ou podemos ter a esperança que as áreas ocupadas por colônias
ilegais, pelo Muro da Vergonha, pelos Check Points e pelas Zonas de
Segurança serão liberadas e entregues aos árabes......
Deconfortável
é ver o adjetivo “direita” acrescentado ao lado das palavras sionistas,
judeus israelenses, colonos......como se possível fosse existir
sionistas de esquerda! Como se possível fosse ver os judeus israelenses
deixar de defender dois estados e proclamarem a Palestina Livre! Como se possível fosse ver os colonos entregarem suas
casas aos primos árabes!!! (Eu lembro da destruição das casas dos
assentamento em Gaza, tudo destruído, podendo ser utilizadas para acabar
com o déficit habitacional em Gaza, maior adensamento demográfico....
aliás, não só as casas em Gaza foram destruídas, mas o povo e as vilas foram bombardeadas).
“A
proposta da construção de um Estado Palestino da forma que está
colocada tira do Estado ocupante a responsabilidade por todas as
atrocidades que cometeu, comete, e ainda cometerá, diariamente, contra o
povo e sua terra; legitima a ocupação militar; coloca numa situação de
despejo os 1,5 milhões de palestinos que conseguiram se manter nos
territórios ocupados em 1948, que deu origem à criação do Estado judeu;
retira dos refugiados o direito inalienável do retorno para sua terra,
afinal o ocupante passaria a ter a posse legal das terras onde existiam
as aldeias dos palestinos; legitima todos os privilégios construídos sob
os escombros e o sangue dos palestinos e diminui, absurdamente ainda
mais, a extensão territorial aprovada pela ONU, através da Resolução
181, na votação da partilha em
1948, sem a consulta ao povo que lá vivia, que “concedia” aos donos da
terra, os palestinos, a posse de apenas 48% da Palestina Histórica e a
doação de 52% das terras palestinas para os europeus construírem um
Estado Judeu” (Stelinha, 2011)
A ANP esclarece dizendo que os avanços serão no plano político: integrar-se a ONU possibilita a defesa dos territórios palestinos, pois estes não serão mais considerados “terra disputada” mas sim “terras ocupadas”. Se este ganho político é fundamental, porque Abbas condiciona a ida a ONU? Em declarações, afirma que se acontecer a retomada de negociações
"confiáveis" por
parte do governo israelense, a ANP não vai a ONU. Mais uma vez a ANP
negocia e barganha com os sionistas a mercê da real vontade dos
palestinos.
O desconforto que sinto é pequeno quando comparado a saudade que tenho dos meus camaradas que, por um momento, nos encontramos em frentes de lutas diferentes, mas sempre juntos na luta em defesa da nossa Palestina! A todos, meu respeito e a lembrança de que a Palestina Livre é uma construção de todos nós! Viva a resistência palestina! Viva a Intifada! Todo o nosso respeito aos lutadores e mártires palestinos!
Palestina livre!
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