segunda-feira, 12 de abril de 2010

MASSACRE ANUNCIADO EM HONDURAS

Por Celso Martins

O que a Resistência hondurenha vinha denunciando há pelo menos três semanas começa a acontecer: o despejo violento de cerca de 3.500 famílias que ocupam aproximadamente quatro mil hectares de terras cultivadas com palma africana. Os dois principais jornais apoiadores do golpe civil-militar de 28 de junho de 2009, El Heraldo (Tegucigalpa) e La Prensa (San Pedro Sula), informam em suas edições digitais de hoje a movimentação de tropas militares.

"Militares llegan a proteger el Bajo Aguán", informa La Prensa, citando a presença de militares do 4º Batalhão do Exército sediado em La Ceiba e grupos especiais enviados da capital, Tegucigalpa. El Heraldo destaca que diante da tensão existente o "Gobierno militariza Bajo Aguán", citando a presença de 30 veículos que desfilam "ante el miedo de los pobladores del lugar". Algumas viaturas transportam conchonetes e carros-pipa. Helicópteros norte-americanos da base de Palmerola (próximo a Tegucigalpa) sobrevoam a região.

As terras que são públicas foram arrendadas em 2002 pelo Governo de Honduras aos empresários-latifundiários Miguel Facussé, Reinaldo Canales e René Morales, por um periódo de três anos. À partir de maio do ano passado os camponeses residentes na região começaram a ocupar as terras, organizados em torno do Movimento Unificado Campesino del Aguan (MUCA). Os preparativos para o ataque militar em andamento incluíram uma campanha de desmoralização dos trabalhadores rurais ligados ao MUCA, acusados sem provas de ligações com o narcotráfico e vínculos com as FARC.


Os camponeses do Vale do Aguan estão armados apenas com suas velhas armas de caça e as ferramentas de trabalho, mas estão dispostos a resistir, o que amplia a tensão e anuncia um choque sangrento. A violenta repressão tende a se espalhar para outras regiões do país, onde às mortes de jornalistas, ativistas sociais, sindicalistas e professores se somam outras formas de violações dos direitos humanos. No dia 15, quinta-feira, a Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP) realiza uma passeata em Tegucigalpa em apoio à luta do MUCA e os camponeses de Aguan, o que pode servir de pretexto para mais pressões, ameaças e execuções.

Enquanto isso, acontecem negociações entre integrantes do MUCA e o Governo de Pepe Lobo e se intensificam os entendimentos diplomáticos visando o retorno de Honduras ao seio de organismos regionais e internacionais, como a OEA, por exemplo. Miguel Facussé, assim como Canales e Morales, são homens de muita força política em Honduras - são a própria força política das oligarquias. Facussé, em especial, figura entre os mentores do golpe, ao lado de outros personagens sinistros.

Parece existir uma divisão entre os golpistas hondurenhos: de um lado os que buscam o reconhecimento internacional com o retorno de Manuel Zelaya a Honduras e o estrito respeito ao estado de direito no país, sobretudo os direitos humanos, a liberdade de expressão, organização e manifestação e, de outro, os que ainda apostam num banho de sangue para a conquista da "paz social". A divisão também ocorrer entre os que defendem a imediata repressão militar em Aguan e aqueles que buscam uma saída negociada, "adquirindo" as terras aos empresários.

Em princípio vai sair vencedor o grupo que melhor servir aos interesses estratégicos dos EUA, cuja liderança está determinada a conter o chamado "chavismo", incentivando governos de direita (Perú) e extrema-direita (Colômbia), implantando bases militares, assinando "acordos" de cooperação e agindo para atingir econômicamente os que estariam "alinhados" com o presidente venezuelano. Ou seja, está cada vez mais visível que o futuro da América Latina continua sendo jogado em Honduras, país pequeno e desconhecido, ignorado aqui no Brasil por boa parte da intelectualidade, partidos e agremiações de esquerda, parlamentares e, sobretudo, os jornalistas, desascotumados faz algum tempo a discutir política internacional.







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FRENTE NACIONAL DE

RESISTENCIA POPULAR



Comunicado No. 54



El Frente Nacional de Resistencia Popular alerta a la población hondureña y a la comunidad internacional de la grave amenaza que pesa sobre la vida de más de 3 mil familias campesinas organizadas en el Movimiento Unificado Campesino del Aguán (MUCA), contra quienes se ejecuta un operativo militar y policial de grandes dimensiones con el objetivo de desalojarlos de las tierras que ocupan actualmente.



En las últimas horas se ha reportado un aumento de la agresividad de los militares y se teme que en cualquier momento la oligarquía ordene al régimen de facto de Porfirio Lobo, usar los cuerpos de represión del Estado para arremeter contra las familias campesinas que exigen de manera pacífica su derecho a la tierra.



Responsabilizamos desde ahora a Porfirio Lobo, al ministro de seguridad de facto, Óscar Álvarez, y a los terratenientes Miguel Facussé Barjum, Reinaldo Canales y René Morales por cualquier violación de los derechos humanos cometida por el ejército, la policía y los grupos paramilitares que forman parte del despliegue militar.



Hacemos un llamado a la comunidad internacional para que condenen estos actos de violencia contra la población civil y exija que se detenga de inmediato esta ofensiva que podría terminar en una masacre.



No habrá paz en la zona, ni acuerdo satisfactorio si no se cumple con las siguientes condiciones:



1. Reconocimiento de los derechos de los campesinos y campesina a acceder a la tierra tal como lo establece la Constitución de la República.



2. Retiro inmediato e incondicional del ejército de los asentamientos campesinos.



3. Desmantelamiento de los cuerpos paramilitares al servicio de los terratenientes.



4. Investigación y condena de los responsables de los asesinatos y otras violaciones de los derechos humanos.





Convocamos a la Gran Marcha de Los Sombreros Campesinos, que se llevará a cabo el 15 de abril en Tegucigalpa para solidarizarnos con las compañeras y compañeros del MUCA y con todas las luchas campesinas que se llevan a cabo en el país. Asímismo llamamos a los integrantes de la Resistencia Popular a estar alertas sobre otras acciones coordinadas que se realizarán para defender los derechos del pueblo trabajador.







¡Viva la lucha heroica del movimiento campesino!

¡Resistimos y Venceremos!



Tegucigalpa, M.D.C. 12 de abril 2010

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