A REPETIÇÃO DE MÉTODOS IMPOSTOS POR MAIORIAS ARTIFICIAIS SÓ EVIDENCIA QUEM NÃO TEM COMPROMISSO COM A CONSTRUÇÃO DA CENTRAL CLASSISTA.
A realização do Congresso da Classe Trabalhadora – CONCLAT, na cidade de Santos-SP, nos dias 5 e 6 de junho, tinha tudo para ser um evento repleto de êxito, não fosse a falta de bom senso por parte da maioria Conlutas, hegemonizada pelo PSTU. A partir do momento em que o PSTU tentou, contando com uma maioria eventual, impor a sua forma de organização ao conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras que ali estavam na condição de delegados e delegadas eleitos pela base, acabou por interditar, talvez de forma irremediável, mais de cinco anos de acúmulo com vistas à construção de uma Central das Classes Trabalhadoras.
Militantes da Conlutas; da Intersindical; do Movimento Avançando Sindical – MAS; do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade – MTL; do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST; da Pastoral Operária - PO Metropolitana de São Paulo, e de várias outras organizações, têm feito esforços sobre-humanos para construir uma Central combativa, classista, autônoma com relação aos patrões, ao estado e aos governos; independente com relação aos partidos políticos e aos credos religiosos; que reúna trabalhadores do campo e da cidade, com ou sem carteira assinada, com ou sem emprego, mas que queiram se organizar como integrantes da imensa massa de explorados e oprimidos de nosso país; uma Central que refugue para a lata de lixo da história o sindicalismo de cartório, oficialesco, subordinado aos ditames do estado autocrático burguês; uma Central que respeite e apóie todas as lutas econômicas e imediatas dos trabalhadores e trabalhadoras, que oriente o conjunto destas lutas com bandeiras mais elevadas para a emancipação do trabalho diante da exploração e a opressão capitalista, sendo ela própria uma escola para a construção do socialismo; uma Central democrática, que respeite o conjunto de seus integrantes, que esteja submetida à vontade das bases, que saiba incluir as minorias sem abdicar da condição de Central Classista; uma Central que não pretenda submeter nenhum outro setor oprimido à sua própria natureza e caráter, com cifras burocráticas de participação que engessam a própria Central Classista, e que destroem a autonomia dos outros setores.
Sem qualquer dúvida, essa era a vontade mais profunda da imensa maioria das delegadas e dos delegados participantes do CONCLAT de Santos. Mas o centralismo imposto pelo PSTU à maioria dos integrantes da Conlutas, em um congresso desta, realizado exatamente na véspera do CONCLAT, impossibilitou o debate franco e fraterno que garantisse a produção de novos conceitos e a construção conjunta de concepções que pudessem representar minimamente a vontade de todos os setores construtores e participantes do CONCLAT. Prevaleceu, lamentavelmente, a imposição das vontades, as palavras de ordem sem conexão com uma reflexão de conteúdo, o sectarismo ao invés do diálogo apto a aceitar o argumento das outras partes. No fundo dos argumentos dos defensores das teses do PSTU, a acusação velada de que os outros são homofóbicos, racistas, machistas, elitistas e anti-estudantis. Como se estudantes trabalhadores, mulheres trabalhadoras, negros e negras trabalhadoras, homossexuais trabalhadores e trabalhadoras tivessem alguma rejeição dos opositores às teses do PSTU. Nada mais falso, mais oportunista e mais enganador! Defendemos que estudantes, negros, homossexuais, mulheres, desde que integrantes da classe trabalhadora, participem dos sindicatos, associações e movimentos de suas respectivas categorias de trabalhadores, e, portanto, estejam aptas e aptos a fazer parte da direção da Central Classista que queremos construir. Isto não significa que somos contra a existência de movimentos organizados pela condição de gênero, étnica e de opção sexual, pelo contrário, defendemos inclusive que estes movimentos façam parte de um Fórum ou Coordenação de lutas que reúnam todas as formas de lutas. Contudo, somos absolutamente contrários que isto seja um impedimento para a construção de uma central classista, pois a superação do capitalismo passa pela vitória das classes trabalhadoras sobre a burguesia, pela sua condição de classe produtora do próprio capital. Portanto, a sua organicidade enquanto classe em e para si é central! E é claro, que a Central Classista terá a tarefa de combater todas as formas de preconceitos, de formular políticas para a defesa de todos os oprimidos, e o vigor revolucionário da Central estará justamente na capacidade de construir programas neste sentido e de garantir a sua efetivação. Se uma Central que se pretenda classista, constituir-se por outras motivações que não a motivação de classe, até mesmo sua democracia interna estará prejudicada, pois estará garantida, em estatuto, a possibilidade de dupla e até de tripla representação, ou seja, se o militante não sai como delegado às instâncias da Central pelo seu sindicato, sai por outros movimentos, de opressão, gênero, etc. distorcendo a democracia interna.
Para nós do Movimento Avançando Sindical – MAS, a deliberação mais grave foi justamente a que resolveu manter, para a possível nova Central, o mesmo caráter existente na Conlutas, de outras formas de representação que não a vinculada à condição de classe trabalhadora do militante. Nós do MAS, assim como o MTL, já saímos há um ano e meio da Conlutas, também por isso. Os companheiros e companheiras da composição “Unidos para Lutar”, afirmam que não voltam mais para a Conlutas também por causa desta questão. Tantas outras entidades ou militantes de oposição nunca foram para a Conlutas por este motivo. Mas o PSTU insiste nesse ponto, e, conhecendo sua posição obreirista histórica, não nos sobra avaliação a não ser a certeza de que estão defendendo isso justamente para perpetuar sua hegemonia no interior deste movimento, pois é a fórmula que garante a todos os seus militantes serem delegados para qualquer instância da Central. E isso ficou claro em uma votação logo em seguida à votação do caráter da central, quando decidiram que os estudantes poderiam participar já da primeira diretoria da Central, mesmo que no caso deste CONCLAT nenhum era delegado pela condição estudantil, a menos que os critérios tenham sido burlados.
Quando foi votado o caráter da Central o PSTU alcançou seu objetivo principal, e nós, todos os outros, já tivemos a derrota principal, a de princípio. Mas o PSTU achou pouco, e fez aprovar o nome da Central que significa justamente a continuidade da fórmula Conlutas de ser. Além disso, ao impor o nome “Conlutas/Intersindical”, mesmo com a desautorização formalizada pela Intersindical, o PSTU humilhou todos os outros setores, todas as outras forças convocantes do CONCLAT e todos os setores que não foram para a Conlutas justamente por não concordarem com essa fórmula. Esta foi a razão pela qual a base se retirou do plenário.
E não venha o dirigente mor do PSTU afirmar que os que saíram não respeitam a “democracia operária” e que poderão voltar quando respeitarem a “democracia operária”. Não fosse irritante, essa seria uma piada de mau gosto! Atropelar de forma insensata e oportunista o conceito de classe trabalhadora e vir falar em “democracia operária” só mesmo numa situação em que o oportunismo suplantou qualquer noção de realidade. Da nossa parte, não temos nenhuma intenção de voltar se os métodos e os conceitos forem os mesmos, justamente pelo respeito que temos ao proletariado em geral e, especialmente, à classe operária.
Continuaremos defendendo os mesmos princípios apresentados em nossas teses e minimamente expostos no segundo parágrafo desta nota, assim como os métodos mencionados neste conjunto. Por falar em método, eles são importantes e expressam um conteúdo. Das questões mais específicas às mais abrangentes, os métodos são fundamentais. Quando a Conlutas e a Intersindical dirigiram todas as mesas do CONCLAT que não terminou (com exceção da última mesa, que foi dirigida pela Conlutas e por uma companheira do MTL, curiosamente que defendeu, em tudo, a mesma posição do PSTU), e a mesma dinâmica foi extensiva aos trabalhos de grupo, as outras forças convocantes do CONCLAT foram desrespeitadas, diminuídas em seus esforços para a construção de todo o processo. Isso precisa mudar para existir a continuidade de qualquer processo de construção de uma Central das Classes Trabalhadoras. É preciso mudar também a confusão na relação entre trabalho sindical e trabalho partidário. Se o CONCLAT que não terminou não teve tempo para discutir bandeiras de luta, táticas, política internacional, programa de sociedade, combate ao racismo, à homofobia, à opressão de gênero, não faltou tempo para verdadeiras pré-convenções partidárias, especialmente por parte do PSTU. Felizmente, Plínio de Arruda Sampaio não foi até lá, pois isso o colocaria no mesmo patamar do dirigente mor do PSTU neste aspecto!
Queremos construir uma Central das Classes Trabalhadoras – CECLAT, com este ou com outro nome, mas que mantenha os princípios e os métodos de Central Classista. Queremos discutir isso com todos os setores que defendem a autonomia da classe frente aos patrões, ao estado e aos governos, e sua independência organizativa quanto aos partidos políticos. Os partidos de formação social proletária são bem vindos, para fortalecer o debate da classe, trazendo subsídios, programas, instrumentos de luta; jamais para se apropriar do esforço de militantes proletários que não são de nenhum partido e, em hipótese alguma para sugar recursos financeiros dos trabalhadores e trabalhadoras para construção partidária ou para objetivos eleitorais. Apenas se um Congresso da Classe decidir, por consenso, apoiar uma determinada candidatura é que podemos admitir esta hipótese, e sem o uso de recursos financeiros das entidades de massa.
Para nós do MAS, organização convocante, o CONCLAT não terminou. Três das seis organizações convocantes e mais a “Unidos Pra Lutar” que também reivindica o processo de reorganização, se retiraram do plenário. Nós não reconhecemos, portanto, qualquer encaminhamento ou deliberação. A Conlutas, diante de uma eventual maioria, utilizou os mesmos métodos da Articulação (PT) na CUT para impor sua posição. Subverteu a democracia operária impondo na prática uma tese guia e votando tudo o que lhe interessasse. Não ouviu os apelos da metade do plenário. Não dialogou, não respeitou o fato da INTERSINDICAL ter desautorizado o uso do seu nome na central que se pretendia criar e não respeitou o fato da INERSINDICAL levar às últimas conseqüências a unidade a ponto de rachar o seu último encontro. Quem tirou a esperança da unidade foi a Conlutas. Deixemos, portanto, eles sentirem o reflexo da sua irresponsabilidade.
Continuaremos dedicando nossos esforços para construir a Central que a nossa classe tanto precisa, e queremos fazer isso com todos que estejam à altura de compreender este desafio e suas dificuldades, mas que estejam prédispostos a respeitar efetivamente todos os setores legítimos organizados na base da classe. Intersindical, Unidos para Lutar, MTL, MTST, PO, Refundação Comunista já estão no campo que reúnem os princípios básicos de Central que defendemos. Vários outros setores podem vir, e consideramos importante que venham, como os camaradas do PCB, a parte da Intersindical que não esteve até agora nesta tentativa de construção, setores independentes, militantes de base que buscam ansiosos um instrumento nacional de luta. Também conclamamos o MST para este debate, é fundamental que este setor tão importante esteja neste esforço. Com certeza a nossa classe é maior que a inconseqüência e a irresponsabilidade de pretensas vanguardas exclusivistas e excludentes. Mesmo que inicialmente com pouca expressão (o que não é dificuldade somente nossa na atual conjuntura brasileira), com certeza estes setores, aglutinados em um organismo nacional capaz de entender o momento histórico e suas vicissitudes, poderão crescer bastante em poucos anos. Defendemos a reabertura e a continuidade dos trabalhos para a construção de uma Central das Classes Trabalhadoras, classista, generosa e fraterna, desde já, sem postergação e sem ingenuidade em relação a companheiros que já mostraram, mais de uma vez, a intenção de manter a hegemonia, mesmo atropelando princípios e métodos.
São Paulo, 8 de junho de 2010.
Saudações Classistas e Fraternas!
Movimento Avançando Sindical - MAS
Criada em Goiás associação de solidariedade a Cuba
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*Thaís Falone, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) |
Foto:Vinícius Schmidt Santos *
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