setembro de 2012
Para pensar o papel dos comunistas nas eleições é preciso sempre partir
de uma análise sobre a estrutura de poder e de classes de nossa atual
sociedade, bem como o seu contexto histórico.
O nosso capitalismo dependente e o seu bloco de poder dominante, impõe
um domínio autocrático que restringe ao máximo qualquer possibilidade de
avanços sociais e democráticos para a ampla maioria da população. A
fração hegemônica deste bloco de poder é o imperialismo, que
superexplora – através dos monopólios e latifúndios – nossa mão de obra e
se apropria de imensa parte de nossos recursos naturais.
É preciso compreender que o Estado não é "neutro" ele é sempre um
instrumento de dominação de classe e quem detém sua hegemonia é a grande
burguesia, latifúndios e imperialismo, portanto trata-se de um Estado
burguês. Compreender isso não significa negar que a dinâmica da luta de
classes é contraditória e que esse mesmo Estado é reflexo dessa
dinâmica, portanto é sim possível que a classe trabalhadora e o povo
consigam abrir brechas nele e obter conquistas. Mas essas conquistas
sempre serão insuficientes enquanto os explorados e oprimidos não se
organizarem para efetivar a ruptura com esse Estado (a sua destruição) e
construir um novo, de transição, onde os trabalhadores e o povo é que
detém e hegemonia do poder.
O golpe de estado de 1964, que instaurou a ditadura civil-militar em
nosso país, nos mostrou que essa classe dominante associada ao
imperialismo não pode sequer aceitar mínimas conquistas democráticas
para o povo, pois o capitalismo dependente é o único capitalismo
possível em nosso país, e se buscarmos superar essa condição estaremos
criando uma dinâmica social que necessariamente precisa enfrentar a
ordem vigente.
As classes dominantes latino-americanas permitem que existam eleições
diretas em seus países até o ponto em que o seu poder não seja ameaçado.
Se alguma medida progressista em favor do povo ameaçar o seu poder, ela
recorre ao golpe de estado para instaurar um regime fascista (como
vimos na Venezuela em 2002, Honduras em 2009 e Paraguai nesse ano). Na
Venezuela o povo organizado em aliança com o setor progressista do
exército conseguiu derrotar o golpe de estado em 48 horas, mostrando a
importância da organização popular para enfrentar a violência da
burguesia.
Por tudo isso, é sempre importante não nos iludirmos com as eleições
burguesas. No Brasil a maioria dos candidatos com chances de se eleger
têm suas campanhas financiadas pelas grandes empresas, pelos bancos e
latifúndios, e quando eleitos favorecem sempre esses setores durante
seus mandatos. Naturalmente são sempre eles que conseguem uma campanha
mais expressiva, maior tempo no horário político, etc.
Precisamos constituir em nosso país um bloco de forças proletário e
popular de caráter anti-imperialista, anti-monopolista e
anti-latifundiário que seja capaz de chegar ao poder, poder que pelo seu
próprio caráter significará um passo decisivo rumo ao socialismo. Nesse
processo é fundamental a elevação do nível de consciência e organização
do povo em seus locais de trabalho, estudo e moradia, e também é
importante que as organizações políticas busquem uma atuação conjunta
construindo uma frente de unidade popular.
A atuação durante as eleições – embora não seja a central – não deve ser
desprezada, pois é um momento onde é possível dialogar com as grandes
massas do povo e apontar a necessidade de outro projeto de sociedade.
Essa atuação é apenas uma tática dentro da estratégia maior de conquista
do poder, e é importante que se dê através de candidaturas que estejam
intimamente ligadas a luta e a organização popular, com mandatos
subordinados a essas lutas e que jamais cedam às tentativas de cooptação
permanentes por parte do poder dominante.
Publicado originalmente no JA no. VIII
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