“Como arquiteto, vejo, satisfeito, que meu projeto vai contribuir
para manter viva a memória de Luiz Carlos Prestes, um brasileiro que
lutou em favor de seu povo, contra a miséria e a desigualdade social
que, infelizmente, ainda persistem em nosso país. (...) Sinto que não
basta louvar o passado. O importante é continuar essa luta por um mundo
melhor que o império de Bush procura em vão obstruir”
CCLCP - A mais recente obra de Oscar Niemeyer deve ser inaugurada em
2013, na cidade de Porto Alegre (RS), e se trata de um projeto pelo qual
o arquiteto tinha grande apreço: o Memorial Luiz Carlos Prestes.
Niemeyer aceitou desenhá-lo em 1989 e doou o projeto a camaradas
comunistas.
A aprovação pela câmara municipal da doação do terreno da Prefeitura
para a construção do Memorial ocorreu 1990, no entanto, os recursos
seriam disponibilizados somente após assinatura de parceria com a
Federação Gaúcha de Futebol que, recebendo metade da área de 11,25 mil
metros quadrados, assumiu em contrapartida o compromisso de execução da
obra e da posterior manutenção e segurança do Memorial.
Luís Carlos Pinheiro Machado, engenheiro agrônomo e militante da
CCLCP, junto com Edson dos Santos, presidente do Instituto Olga Benário
Prestes, entidade nacional com sede em Porto Alegre, representam o grupo
que vem acompanhando a execução da obra.
As rampas foram os elementos mais complexos de ser executados no
trabalho. A obra, de pé-direito de 5,5 metros, aguarda a instalação de
dois vidros de 5mm cada no contorno de concreto pintado de preto. O
prédio é marcado por um volume vermelho em alusão à foice e o martelo,
sendo circundado por um espelho d’água. O Memorial Luiz Carlos Prestes
contará com área de exposição, biblioteca e miniauditório. Atualmente,
70% da obra está concluída, com inauguração prevista para Março de 2013.
Como o arquiteto relata no texto Não basta Louvar – sobre o Memorial Luiz Carlos Prestes – publicado na Folha de São Paulo
em 11/01/2008, “O projeto que fiz do memorial de Luiz Carlos Prestes é,
a meu ver, obra tão especial que vale a pena explicá-la um pouco”. Como
diz o arquiteto, trata-se de “Um trabalho que não se baseou, como de
costume, num programa construtivo, mas na ideia de criar um elemento
principal e único: uma parede que, cheia de curvas e retas inesperadas,
atravessando em diagonal um retângulo de vidro do edifício (de lado a
lado), possa lembrar aos visitantes as etapas fundamentais da vida desse
grande brasileiro. A fachada simples e retilínea de vidro do edifício
marcaria, com a parede interna tão movimentada, o contraste que a boa
arquitetura procura muitas vezes exibir”.
O arquiteto se preocupou com cada detalhe da obra, cada percurso
desenvolvido pelo visitante no interior do Memorial. “Junto da entrada, a
parede com textos e imagens começa a mostrar aos visitantes os inícios
da vida de Prestes, quando, oficial do Exército, era incumbido de
acompanhar obras em construção no Rio Grande do Sul – aí surge, já com
26 anos, severo como sempre foi, Prestes a reclamar da maneira pouco
correta com que os trabalhos estavam sendo desenvolvidos”. Aí Prestes
passa a organizar a Coluna, no bojo das revoltas tenentistas, percebendo
que “os problemas do país tinham de ser resolvidos por meio de uma
revolução”, como diz o arquiteto. Após a Coluna Prestes, ficaria exilado
na Bolívia, na Argentina e na União Soviética, onde segundo Niemeyer,
Prestes já estava sintonizado “com o pensamento de Marx”, ganhando a
revolução “um sentido mais amplo e universal”.
Após a derrota dos levantes antifascistas de 1935, Prestes é preso.
No percurso do Memorial, esse é o momento onde “a parede vai se
escurecendo e, num ambiente mais fechado e sombrio, aparece o período da
prisão, em que ele permanece nove anos incomunicável. E, como para
agravar tanta tristeza, em 1936, sua mulher, Olga Benário, presa e
grávida, é enviada criminosamente a um campo de concentração na
Alemanha, onde seria morta numa câmara de gás em 1942; sua filha, Anita,
após grande campanha internacional desencadeada pela mãe de Prestes, é
afinal entregue à avó”, diz Oscar.
O momento seguinte quando “Prestes é anistiado, e o Partido Comunista
Brasileiro conquista a legalidade”, na época “dos grandes comícios, da
campanha pela Constituinte”, a parede fica vermelha e “vai mudando de
cor, escurece outra vez. Diante dela, comovidos, os visitantes constatam
que o momento de euforia passara. Em 1947, o TSE cancela o registro do
PCB e, a seguir, cassa os mandatos dos parlamentares comunistas – entre
eles, Prestes. Era a reação anticomunista que recomeçava, implacável”.
O percurso do Memorial segue então os anos da clandestinidade, do
Golpe de 1964, dos direitos políticos cassados e do novo exílio até
1979. Na década de 80, já fora do PCB e combatendo por um partido
revolucionário de novo tipo, efetivamente revolucionário, Prestes segue
“altivo e corajoso como sempre”, como relata Niemeyer, vindo a morrer em
1990.
Niemeyer termina dizendo:
“Como arquiteto, vejo, satisfeito, que meu projeto vai contribuir
para manter viva a memória de Luiz Carlos Prestes, um brasileiro que
lutou em favor de seu povo, contra a miséria e a desigualdade social
que, infelizmente, ainda persistem em nosso país. (...) Sinto que não
basta louvar o passado. O importante é continuar essa luta por um mundo
melhor que o império de Bush procura em vão obstruir”.
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