sábado, 19 de junho de 2010

Longe da TV, sul-africanos criticam Copa do Mundo e azedam clima com estrangeiros

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Para os bilhões de espectadores do Mundial de futebol na África do Sul, o continente negro está em festa por abrigar um dos maiores eventos do planeta até 11 de julho. A abertura da festa, no estádio Soccer City em Joanesburgo mostrou uma nação em busca de união após décadas de segregação racial. No entanto, longe das arenas luxuosas os locais, há protestos, desdém com os problemas de estrangeiros e denúncias sobre o desleixo das autoridades no enfrentamento a gargalos criados pelo mero recebimento da Copa do Mundo no país.



No primeiro fim de semana do torneio, até o batalhão de choque da polícia sul-africana foi usado: em Durban, após a vitória da Alemanha por 4 x 0 sobre a Austrália, houve confronto com funcionários de segurança da Copa do Mundo que protestavam contra seus baixos salários. Bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo foram usadas para afastar os manifestantes, que espalharam lixo pelas ruas da região enquanto se afastavam. Jornalistas na África do Sul dizem que o incidente não foi exibido por nenhuma TV do país.


Dias antes da abertura, várias entidades sul-africanas ameaçaram organizar manifestações perto dos estádios, mas acabaram limitadas por uma medida do governo, que criou anéis de ferro em torno das construções para isolar quem estivesse sem ingressos para os jogos. Ainda assim, espalharam campanhas na Internet para criticar a organização da Copa do Mundo e acusar estrangeiros de preconceito contra a África do Sul. Na TV, nada.


Estrangeiros que acompanham o Mundial sem entrar nas arenas relataram que a decisão do governo de isolar os estádios os expôs a mais roubos e confrontos com sul-africanos. Embora haja policiamento de sobra para os que têm ingressos, do lado de fora a insegurança é maior e, dependendo da cidade-sede, um turista desprevenido pode acabar desembocando em áreas perigosas a poucos quilômetros do local onde os jogos acontecem.


“Querem fazer um Mundial para a televisão e para quem tem dinheiro para pagar pelas entradas. Não querem nos ouvir e querem que o mundo seja bem recebido enquanto passamos fome?”, questionou Sisoko Meehebo, líder de uma comunidade pobre à mídia europeia. “A verdade é que a África do Sul sofre com uma série de outros problemas e que nos negligenciaram por anos. Acharam que ficaríamos quietos pela nação. Não somos antipatriotas, mas temos necessidades que vão além da Copa do Mundo.”


Sem razão para otimismo


O clima menos otimista com o Mundial já se espraiava pelo exterior antes da abertura, mas os incidentes da primeira semana de competição afetavam ainda mais as perspectivas até a grande final. Inicialmente, os sul-africanos esperavam receber 450 mil visitantes. Há algumas semanas, o número foi revisado para 250 mil pessoas. Agora o total pode ficar perto de 220 mil, segundo previsões extraoficiais da organização.


Um dos casos apontados como bomba-relógio do Mundial está na cidade de Nelspruit, 330 km a leste de Joanesburgo. Para a construção do estádio Mbombela, favelas e escolas foram postas abaixo. Quando as obras terminaram, no ano passado, nem as famílias tinham sido realocadas nem unidade escolar, reposta. Um efeito devastador, indicado por ONGs sul-africanas, em troca de apenas quatro partidas no local – apenas a Itália, entre as principais seleções, jogará lá. Ali, a Fifa teme protestos mais violentos.

“O gasto para erguer o estádio foi de US$ 145 milhões, para 46 mil assentos. Esse dinheiro, por sua vez, não foi injetado na economia local. Além disso, muitos trabalhadores das obras vieram da Suazilândia, do Zimbábue e de Moçambique”, disse ao OperaMundi o jornalista Angus MacSwan, da agência Reuters, sediado em Bloemfontain. “Na África do Sul há uma crescente xenofobia. Some isso tudo à questão das favelas e da escola. É nitroglicerina.”


Uma das chaves para não agravar as tensões parece ser a permanência da seleção local no torneio, segundo MacSwan. “Se a África do Sul for desclassificada na primeira fase, algo perfeitamente possível por causa do time ruim deles, o cenário de descontentamento com os visitantes pode aumentar. Um torcedor estrangeiro deveria torcer também pelos Bafana Bafana para que, pelo menos, não corram risco de aparecer na TV pelo motivo errado.”

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