Escrito por Erica Soares
lunes, 07 de febrero de 2011
07 de febrero de 2011, 11:15Cairo, 7 fev (Prensa Latina) As baixas temperaturas e as noites mal dormidas não diminuem o ânimo de Ayman Mohamed, que assegura que os protestos para que o presidente Hosni Mubarak renuncie continuarão "inalteráveis", apesar do diálogo entre governo e opositores políticos.
Como Mohamed, centenas de egípcios, em sua maioria jovens, cumprem hoje duas semanas de incessantes reivindicações na praça Tahrir do Cairo, depois da explosão de revoltas populares convocadas mediante redes sociais basicamente pelo movimento 6 de Abril.
Nesta segunda-feira, "os de Tahrir", como alguns aludem aos até agora inflexíveis manifestantes antigovernamentais, amanheceram abrigados por cobertores cedidos em gesto solidário por milhares de pessoas que nos últimos dias têm desafiado todo obstáculo para dar sua contribuição.
Os acessos à praça conseguiam-se, a princípio, passando pelo cordão da polícia, depois os registros arbitrários de grupos a favor do governo que confiscavam todo alimento ou ajuda para os manifestantes, e agora o minucioso, mas permissível, controle dos soldados.
Sem dúvidas, os acontecimentos que sacodem o Egito desde a manifestação de 25 de janeiro têm posto em evidência o lado mais cívico e generoso de seu povo, superando cresces atos de vandalismo, roubos e uma campanha violenta de satanização de turistas e jornalistas estrangeiros.
As cenas de Tahrir, convertida em um acampamento, pessoas levando mantas para diminuir o frio, barracas de camping, bolsas de comida, sobretudo pão, água e sucos, bem como material de higiene e remédios, já são intrínsecas à paisagem do centro do Cairo.
Os pormenores da vida nessas condições são imagináveis, mas são atenuados com a irmandade de cristãos e muçulmanos que no domingo se uniram em ofícios religiosos, o ativismo -por igual- de homens e mulheres, e a convicção de que se faz o que se acredita ser o correto.
Alguns contribuem com dinheiro para adquirir o que faz falta, outros oferecem lanternas, exemplares do Alcorão, outros preferem levar flores para os mártires -como definem os cerca de 300 mortos durante as revoltas-, e todos carregam consigo mensagens de fôlego e resistência. Também ressalta a essência humanista de médicos que em um hospital improvisado atendem gratuitamente centenas de feridos pela repressão das forças antimotins, primeiro, e por pedradas, facadas e outras agressões de grupos leais a Mubarak, depois.
Mas se os cartazes e cercas erguidos ali seguem marcando o "território", Mohamed e outros jovens do movimento 6 de Abril temem que uma "traição" de partidos políticos tradicionais ao aceitar o diálogo com o governo possa apagar ou debilitar os protestos.
Com a mesma vitalidade que gritam nas marchas frases contra o "rais" (presidente, em árabe), os jovens explicaram à Prensa Latina que a revolta egípcia nasceu sem nenhum partido político e assim seguirá, porque "é um movimento do povo".
Um critério similar transmitiu ao canal Al Jazeera a ativista Salma El-Tarzi, ao assegurar na mítica praça do Cairo que "os partidos políticos podiam fazer o que desejam porque não nos representam, (...) estão aí durante 30 anos e não fizeram nada".
Tais afirmações são a resposta aos contatos sustentados no domingo pelo vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, com representantes de grupos políticos tradicionais, incluído a expulsa Irmandade Muçulmana (IM).
Os jovens do 6 de Abril asseguraram que não participaram, apesar de que no encontro com Suleiman havia membros desse segmento da população, e a IM, à qual conviria qualquer ação que a legitime, afirmou que está "revisando essas conversas".
Segundo a organização fundamentalista, continua inflexível em sua demanda fundamental de que Mubarak renuncie como presidente. "Não podemos chamar par isto conversas ou negociações", afirmou um porta-voz.
O inegável é que em Tahrir seguem pulsando as reivindicações que mobilizaram milhões no Egito, ainda quando a progressiva volta à normalidade no Cairo e outras regiões disparam o alarme dos perigos que cernem sobre a solidez da revolta popular.
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