segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Nossa Homenagem a Mercedes Sosa

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Aos 74 anos, morre a cantora Mercedes Sosa Argentina estava internada desde
meados de setembro.

A cantora argentina Mercedes Sosa morreu neste domingo, no hospital
Trinidad, em Buenos Aires, onde estava internada desde meados de setembro.
Os motivos divulgados de sua morte foram complicações renais e hepáticas,
além de problemas respiratórios. A intérprete de 74 anos sofria do Mal de
Chagas desde o final dos anos 1970.

As vozes mais à esquerda poderiam resumir o parágrafo acima a quase um
slogan: "a voz dos sem voz se calou". O coro postado mais à direita
provavelmente se sentiria aliviado: durante a ditadura militar que governou
a Argentina entre 1976 e 1983, Mercedes era o grilo falante e cantante que
insistia em evocar a consciência de que a intolerância e a perseguição
política não se afina com a dignidade humana.

Deixando de lado as paixões políticas, seria justo dizer que morreu uma das
principais cantoras latino-americanas, a voz maior de clássicos como Volver
a los 17, uma artista que ignorou fronteiras artísticas e geográficas,
celebrando um ideal latino ao dividir canções, álbuns e palcos com Milton
Nascimento, Charly García, Fagner, Antonio Tarragó Ros, Beth Carvalho, Joan
Manuel Serrat, Shakira e Fito Páez.

Para aquela que imortalizou Gracias a la Vida (da chilena Violeta Parra), a
boa música exigia independência artística. Por exemplo, no show que La Negra
(apelido recebido pela cor de sua vasta cabeleira) fez há dois anos nem
Porto Alegre, o repertório incluía Coração de Estudante (Nascimento e Wagner
Tiso), mas também Gente Humilde (Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque)
e Un Vestido y un Amor (Páez) e El Cosechero, que ela interpretou ao lado de
seu amigo Luiz Carlos Borges, acordeonista gaúcho.

Na entrevista que concedeu a Zero Hora em 2007, Mercedes mostrou que sua o
fato de colocar sua voz forte incondicionalmente a serviço de quem é fraco
não a fazia perder sua lucidez. Comentando avanços sociais e políticos na
América Latina, ela cravou:

— Não é a esquerda que está no poder, são alguns políticos de esquerda que
estão no poder. Depois do desmembramento da União Soviética, o capitalismo
está sozinho.

Essa lucidez sempre custou caro a Mercedes. Ela teve de exilar-se em Madri
entre 1979 e 1982, depois de receber ameaças de morte de grupos extremistas
de direita. Sua partida, inclusive, foi precipitada por um show que fez em
La Plata, quando ela e todo o público que a tinha ido assistir foram
detidos.

Porto Alegre também foi testemunha de um episódio de provocação terrorista
contra ela. Em 1980, durante um show no Gigantinho, alguém detonou uma bomba
de efeito moral para provocar correria e choro entre a plateia e
inviabilizar o concerto da argentina. Até que Mercedes assumiu o comando com
sua voz, e acalmou o público, que se juntou a ela em um coro emocionado.
Anos mais tarde, Mercedes recebeu uma homenagem mais formal de parte dos
gaúchos: em 1996, ela foi agraciada com a Medalha Simões Lopes Neto,
outorgada pelo governo do Rio Grande do Sul.

Um dos últimos reconhecimentos que Mercedes recebeu foram três indicações
para o Grammy Latino 2009 pelo álbum Cantora 1, que reúne duetos dela com
vários artistas. O anúncio do vencedor será realizado no dia 5 de novembro
em Las Vegas, mas o resultado da vida de Mercedes já é conhecido desde há
muito tempo: La Negra iluminou com sua voz alguns dos tempos mais escuros
que a América Latina já experimentou.


Renato Mendonça renato.mendonça@zerohora.com.br

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