quarta-feira, 11 de maio de 2011

O Cérebro Imperial por trás de Obama[1]

O Cérebro Imperial por trás de Obama[1]




A popularidade de Obama conquistada durante as eleições estadunidenses, quando se apresentou como o candidato da mudança, foi rapidamente desgastada pela persistência da crise econômica e a continuidade da política guerreirista estadunidense. E, não poderia ser diferente. Era inevitável pela história deste país e do desenvolvimento das contradições do modo de produção capitalista que o enfrentamento da severa crise econômica capitalista de 2008 se daria pelo apoio do governo Obama às grandes corporações em detrimento de suas promessas sociais de campanha e pela busca de ampliação da exploração dos mercados em todo o mundo, a serem conseguidas pela diplomacia ou pela força das armas. O terrorismo interno que consolidou o seu desenvolvimento capitalista à base do genocídio dos indígenas, exploração brutal da massa de escravos negros, a perseguição a seres humanos considerados “membros de raças inferiores” [2], o massacre e extermínio de lideranças do movimento operário, com novas e velhas roupagens se estende aos povos do mundo que ousam insurgir-se contra a sua dominação.

E, novamente, como nos atentados dos três aviões ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque, e ao edifício do Pentágono, em Washington, que causaram grande comoção no público estadunidense, servindo de respaldo ao presidente George W. Bush, que estava desmoralizado por denúncias de fraude e manipulação dos votos, bem como pelas baixas taxas de crescimento econômico sinalizadoras do término de um ciclo expansivo da economia; agora Obama utiliza-se da morte de Osama bin Laden para tentar recuperar credibilidade para vencer as próximas eleições. A colaboração da mídia exaltando o feito é nítida. Oras, que grande feito é este se os EUA levaram dez anos para conseguir capturar o declarado inimigo, enquanto a 2ª. Guerra Mundial durou 6 anos? E o que poderia justificar milhares de vítimas inocentes derrubadas pelo caminho em nome da Guerra ao terror? Quem é o verdadeiro terrorista?

Na prática, o homem da mudança permanece montado no continuísmo da estratégia militarista de Bush em busca de petróleo, água e poder, apoiando ativamente uma guerra colonial contra a Líbia e demais operações militares destinadas ao controle das reservas de petróleo do Oriente Médio. Segundo Chossudowski, a operação “Odisséia da Alvorada” tem por objetivo o controle sobre as reservas de gás e petróleo da Líbia sob o disfarce de “ajuda humanitária”. A Líbia detém 46,5 bilhões de barris de reservas provadas contra as reservas de 20,6 bilhões de barris dos Estados Unidos [3], além de um imenso aqüífero no seu subsolo.

A verdade é que o imperialismo estadunidense explora os demais países do planeta através de estratégias econômicas, ideológicas, militares, e políticas, pouco importando quem é o funcionário de plantão na chefia do Estado. Segundo Guimarães, estas estratégias foram desenhadas para fazer frente ao processo de avanço do socialismo no mundo e consolidar sua hegemonia, no Ocidente e no mundo todo, aproveitando a referência alcançada na 2ª. Guerra Mundial. [4]

As eleições estadunidenses já foram abandonadas por metade do eleitorado que sequer comparecem às urnas. Porém, os colonizados meios de comunicação tupiniquins obrigam o povo brasileiro a acompanhar passo a passo pela televisão esta “magnífica” disputa que decide quem colocará em prática a política estadunidense para o mundo. A descrença do eleitor tem uma razão óbvia: republicanos e democratas, com campanhas milionárias financiadas pelo poder econômico, se revezam no poder sem mínimas alterações na política imperial. Para os grandes capitalistas deste país a presidência “é um assunto para nossos funcionários” como disse uma matriarca dos Rockefeller, vetando a disposição de seu filho em disputar a presidência.

A mídia brasileira, com raras exceções, é inteiramente colonizada pelas corporações da mídia estadunidense que hegemonizam o controle das comunicações em todo o mundo. O grosso das informações, dos desenhos animados, dos programas de entretenimento e dos filmes veiculados reproduz o estilo de vida estadunidense e as idéias de suas classes dominantes. E a cobertura sobre a captura de Osama não poderia destoar do que fora preconizado pelas grandes agências de informação. Afinal, o papel dos meios de comunicação é crucial para a exploração capitalista e imperialista, como afirma Arbex Júnior:



“É óbvio que a hegemonia do grande capital corporativo em geral, e americano, em particular, tem sérias e profundas implicações sobre a seleção, distribuição e interpretação das notícias. Centros formadores de matrizes ideológicas liberais, as grandes corporações elaboram e disseminam discursos e interpretações que reforçam diariamente a ideologia, segundo a qual cabe ao ‘mercado’ a resolução dos problemas e demandas de toda a ordem – públicas e privadas, individuais e coletivas. Esses discursos e essas interpretações exercem um profundo e amplo efeito de contaminação em todos os setores da produção cultural e ideológica”. [5]

Aqui no Brasil, os principais fatos do mundo são comentados diariamente por repórteres brasileiros, direto de Nova Yorque, repercutindo as opiniões fabricadas pelas autoridades políticas, intelectuais e econômicas dos EUA para desinformar, “justificar” suas terríveis práticas, inclusive a tortura e o assassinato, e manter a dominação sobre outros povos do mundo. A respeito da América Latina há um rotundo silêncio, a não ser quando é para carimbar de populistas e autoritários governantes populares que estão desafiando as políticas imperiais e promovendo o bem-estar social de seus povos, como são os casos de Castro, em Cuba; Correa, no Equador; Chávez, na Venezuela e Moralez, na Bolívia.

O país “modelo de democracia” para os liberais já bombardeou povos de muitos países. Mais recentemente, Bill Clinton bombardeou a Iugoslávia, e George Bush Jr. seguiu bombardeando o Afeganistão e o Iraque, atingindo milhares de civis inocentes. Obama deu seqüência a esta política terrorista mantendo a ocupação militar no Afeganistão e no Iraque, e, mais recentemente liderando nos bastidores a coalizão militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN] que bombardeia a Líbia em clara afronta ao direito de autodeterminação dos povos e da soberania nacional, com o respaldo da Organização das Nações Unidas [ONU] criada após a 2ª. Guerra Mundial para “garantir a paz no mundo”. Osama bin Laden, que fora treinado pela Agência de Inteligência Americana [CIA] para lutar contra os soviéticos no Afeganistão, foi agora morto por forças militares dos EUA em invasão ao território do Paquistão e jogado ao mar, sem direito a julgamento, pois poderia falar de fatos que poderiam colocar em contradição os argumentos imperiais ou desnudar suas “relações íntimas” com a Casa Branca. A verdade é que em relação aos conflitos do Oriente Médio todos os presidentes agiram como marionetes dos interesses dos grandes empresários estadunidenses, sobretudo do complexo militar-industrial privado que precisa da força do Estado para impor seus interesses ao mundo, à custa do crescimento do número de pobres, da destruição ambiental, da matança de milhares de civis, e da exclusão social em todo o planeta.

Mas, tudo o que está acontecendo está sendo feito exclusivamente pela vontade do simpático Obama, aquele cara “legal” que chamou o Lula de “o cara!”? Não. Quem manda de fato na política estadunidense é o Conselho de Relações Exteriores [CRE], uma organização com baixo perfil público, porém, com muito poder e muitíssima efetividade. Este grupo privado foi fundado em 1921, em Nova Iorque, e está integrado por hierarcas de grandes empresas financeiras, industriais, comerciais, meios de comunicação, universidades, centros de investigação, instituições armadas, entidades culturais, tecnocracia oficial, funcionários de alto nível e ex-presidentes. [6]

Segundo o intelectual dominicano Narciso Isa Conde, o Conselho reúne mais de 3600 membros, entre os quais, há representantes de corporações que manejam 80% da economia estadunidense e empregam 25 milhões de pessoas, e também intelectuais orgânicos do sistema dominante, incluindo pessoas como David Rockefeller, Henry Kissinger, Bill Clinton, Zbigniew Brzezinski, George H. Bush, Madeleine Albright, George Soros, Stephen Breyer, Laurence A. Tisch, Colin Powell, Jack Welsh, W. Thomas Johnson, Katherine Graham, Richard Cheney, James Wolfensohn, Condoleeza Rice, Paul Wolfowitz, e Richard Armitage.[7]

De acordo com seus representantes, trata-se de uma entidade dedicada a aumentar a compreensão norte-americana sobre o mundo e contribuir com idéias para a política internacional dos EUA. O principal veículo de idéias do Conselho é a revista “Foreign Affairs” [relações exteriores]. “Muitos artigos extremamente importantes foram publicados na Foreign Affairs, inclusive o trabalho de George F. Keenan, "The Sources of Soviet Conduct" [As Fontes da Conduta Soviética], o primeiro a explicitar a doutrina de contenção, que se tornaria a base da política estadunidense na Guerra Fria contra a União Soviética [URSS].

Onze Secretários de Estado escreveram ensaios na Foreign Affairs, entre eles Henry Kissinger, e hoje tais artigos ainda são considerados importantes indicadores da linha histórica de pensamento do Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Mesmo com o fim da Guerra Fria a revista mantém a sua importância como um espaço para o debate dos rumos da política internacional. A Foreign Affairs foi o primeiro lugar no qual Samuel P. Huntington publicou suas idéias com o influente artigo "Clash of Civilizations" [O choque de civilizações] onde defende a idéia maniqueísta de que há um conflito de civilizações entre o ocidente [liberal] e o oriente [islâmico], [8] para assim obscurecer os interesses econômicos que estão por trás da busca de influência do imperialismo estadunidense na Ásia Central e Norte da África, e foi nela que Francis Fukuyama, funcionário do Departamento de Estado, debateu com outros acadêmicos sua teoria sobre a democracia liberal e a economia de mercado como o fim da história.[9]

Conforme Narciso Isa Conde, os objetivos globalizadores estão bem precisados pelo Conselho que conta com participação de republicanos e democratas: criação de um governo privado mundial [10]; erosão da estrutura de estados-nações; uniformização sócio-cultural do mundo através da língua, dos filmes e da música que as pessoas são obrigadas a falar, ver e ouvir todos os dias; imposição de um sistema financeiro globalizado de caráter especulativo e usurário; alinhamento da opinião pública mediante uma agressiva ação psicológica pelos meios de comunicação e em escala planetária; administração de um sistema de guerra global mediante o permanente estímulo contra algum “inimigo” [11]. Antes estes inimigos eram os comunistas, agora os “narco-traficantes” ou “terroristas”.

Este Conselho está acima do poder eleitoral que opera desde Washington, a capital dos EUA. O poder real opera a partir de Nova Iorque e não passa por eleições. Necessita de continuidade e permanência, para além da conformação do governo, incluída a do Departamento de Estado.

A partir deste Centro, que opera por detrás do poder, se desenha a política imperial: a montagem do sistema de dívida externa que saqueia as riquezas de nossos países; a conformação de áreas de livre comércio para liquidar mercados nacionais e garantir que a “livre competitividade” favoreça aos grandes monopólios e oligopólios estadunidenses; as privatizações de empresas públicas e de recursos naturais para favorecer as empresas imperiais; a guerra “antiterrorista” como instrumento para conquistar territórios ricos em gás, petróleo, urânio e água; as desregulações das relações trabalhistas para aumentar a exploração do trabalho assalariado; a imposição de um sistema financeiro especulativo e a preparação de novas guerras a partir da extensão da guerra do Afeganistão e do Iraque a outros países e regiões, para saquear seus recursos naturais e justificar a continuidade da indústria armamentista.

A política terrorista de Obama, e de seus aliados, terá como consequencias o sacrifício dos direitos humanos em escala nacional e internacional. Porém, a humanidade não se deixará exterminar. Em todos os cantos do mundo, movimentos sociais e políticos denunciam a política destrutiva do império e das transnacionais, lutando pelos direitos dos seres humanos viverem harmonicamente em territórios soberanos onde as riquezas produzidas pelo trabalho humano sejam socializadas e postas à disposição da coletividade para satisfazer suas necessidades vitais.









[1] Artigo produzido pelo professor Mauri Antonio da Silva, mestre em Sociologia Política pela UFSC.

[2] Até por volta de 1952 permaneciam em cerca de 30 estados dos EUA leis contra o matrimônio inter-racial. Em quase todos os Estados o casamento inter-racial era um delito de traição, em muitos era um crime de menor gravidade. São considerados elementos de contaminação da “raça branca” não só os “negros”, mas também, neste ou naquele estado, os “mulatos”, os “indianos”, os “mongóis”, os “coreanos”, “membros da raça malês”, “chineses”, toda “pessoa de origem negra ou indiana até a terceira geração incluída”, isto é, toda pessoa que “tem 1/8 ou mais de sangue negro, japonês ou chinês” ou também “que tem ¼ ou mais” de “sangue kanaka (havaiano)”. Um estudioso estadunidense (Montagu, 1966) disse que o monstro fascista que se lançou sobre o mundo é em grande parte de responsabilidade estadunidense [Cf. Losurdo, Domenico, Contra-história do liberalismo, Aparecida (SP), Idéias e Letras, 2006. p. 355].

[3] Chossudowski, Michel, “Mísseis humanitários matam civis na guerra por petróleo”, em Hora do Povo, no. 2.944, 25 a 29 de março de 2011, São Paulo, Instituto Brasileiro de Comunicação Social, 2011, p. 7.

[4] Guimarães, Samuel Pinto, A Política dos Estados Unidos para o mundo e o Brasil, São Paulo Consulta Popular, 2001.

[5] Arbex Júnior, José, Showrnalismo – a noticia como espetáculo, São Paulo Casa Amarela, 2001.

[6] Conde, Narciso Isa, Hacia la Nueva Democracia y el Nuevo Socialismo – Imperialismo actual y transicion revolucionaria en Nuestra América, Santo Domingo, Editora Tropical, 2006, p. 80-84.

[7] Conde, ibidem, p. 81.

[8] Sobre o assunto ver: Huntington, Samuel, O choque de civilizações, Rio de Janeiro, Objetiva, 1997.

[9] Segundo as idéias políticas de Fukuyama, acontecimentos continuariam acontecendo, porém, sem ultrapassar este marco da história [Fukuyama, Francis, O fim da história e o último homem, Rio de Janeiro, Rocco, 1989]. As monumentais intervenções estatais para salvar bancos e empresas a beira da falência no ano de 2008 nos Estados Unidos da América, por si só, colocaram por terra os argumentos de Fukuyama. Além disto, uma onda de governos progressistas na América Latina, desafiou as pretensões da hegemonia “neoliberal” como fim da história.

[10] Evidentemente sob controle do imperialismo estadunidense.

[11] Conde, ob. cit., p. 81.

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