quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Agressão militar dos EUA contra a Venezuela aumenta

Tradução: ADITAL









Eva Golinger *




O presidente Hugo Chávez, da Venezuela, revelou hoje durante seu programa dominical Alô Presidente que aviões não tripulados (UAV, em inglês), também conhecidos como "drones" entraram ilegalmente no espaço aéreo venezuelano durante os últimos dias. "Há poucos dias, à meia-noite, um avião sem tripulantes penetrou até o Forte Mara", fortaleza militar venezuelana no Estado de Zulia, fronteira com a Colômbia. O avião foi visto por soldados venezuelanos, que, imediatamente, informaram a violação aérea a seus superiores. O presidente Chávez ordenou derrubar qualquer avião detectado em território venezuelano. E implicou diretamente a Washington nessa última ameaça contra a estabilidade regional, confirmando que os aviões não tripulados eram de origem estadunidense.





Na quinta-feira passada, o presidente Chávez denunciou as ameaças militares contra a Venezuela desde as ilhas holandesas Aruba e Curaçao, situadas apenas a 70 km da costa noroeste da Venezuela. Ambas pequenas ilhas têm bases aéreas dos Estados Unidos, como resultado de um contrato entre Washington e a Holanda, assinado em 1999, que estabeleceu localidades de operações de avançada (FOL, em inglês) nas colônias caribenhas. Originalmente, o contrato permitia a presença militar estadunidense em Aruba e Curaçao somente para missões contra o narcotráfico. No entanto, desde setembro de 2001, Washington utiliza todas suas instalações militares para combater supostas ameaças terroristas no mundo. As bases militares em Aruba e Curaçao tem sido utilizadas para missões de inteligência, espionagem e reconhecimento contra a Venezuela durante os últimos anos.





Em 2006, Washington começou a conduzir uma série de manobras militares de alto nível, utilizando a Curaçao como a principal zona de operações. Centenas de portaaviões, tanques de guerra, aviões de combate, helicópteros Black Hawk, submarinos nucleares e milhares de tropas estadunidenses têm participado em distintos ensaios e operações militares em toda a região do Caribe durante os últimos três anos e meio, causando alarme e grave preocupação entre as nações na região e, particularmente, na Venezuela, que também tem sido sujeita a várias ações hostis e agressivas desde Washington.



Em 2008, o Pentágono reativou a Quarta Frota da Armada, encarregada de defender os interesses estadunidenses na região latinoamericana. A Quarta Frota foi desativada em 1950, após cumprir sua missão original durante a Segunda Guerra Mundial. A reativação da frota após quase 60 anos foi percebida pela maioria de nações da América Latina como uma ameaça direta à soberania regional, e provocou o estabelecimento do Conselho de Defesa Sulamericano para responder às ameaças externas. O Pentágono respondeu orgulhosamente admitindo que a reativação da IV Frota foi uma "demonstração de força e do poder estadunidense na região", com uma mensagem de defesa aos seus aliados. Essa declaração foi recebida como um apoio direto a Colômbia e uma tentativa de intimidar a Venezuela.



No dia 30 de outubro, a Colômbia e os EUA assinaram um acordo de cooperação militar autorizando a ocupação estadunidense de sete bases militares em território colombiano, além do uso de todas as instalações do país. O acordo significa a maior expansão militarista dos EUA na América Latina na história. Apesar de que os governos publicamente justificaram o acordo como um esforço para combater o narcotráfico e o terrorismo, documentos oficiais da Força Aérea revelaram que os EUA conduzirão "operações militares de amplo espectro" em todo o continente a partir das bases localizadas na Colômbia. Os documentos da Força Aérea também justificaram a desproporcionada presença militar estadunidense como necessária para combater a "constante ameaça de governos antiestadunidenses na região". Os documentos também revelaram que a presença estadunidense na Colômbia incrementará o êxito das operações de inteligência, espionagem e reconhecimento e melhorar a capacidade do Pentágono de conduzir uma "guerra expedita" na América Latina.



Desde 2006, Washington classificou a Venezuela como uma nação que "não colabora suficientemente com a luta contra o terrorismo". Em 2005, a Venezuela foi classificada pelo Departamento de Estado como uma nação "não cooperante" com a luta contra o narcotráfico. Apesar de que nunca apresentaram evidências contundentes para fundamentar essas perigosas acusações, Washington as tem utilizado para justificar o incremento de agressões contra o governo venezuelano. Em 2008, o governo de George W. Bush tentou colocar a Venezuela na lista de "Estados terroristas". A iniciativa não foi realizada porque a Venezuela continua sendo o principal abastecedor de petróleo para os Estados Unidos. Se Washington colocasse a Venezuela na lista de "Estados terroristas" teria que romper as relações, o que incluiria parar de comprar o petróleo venezuelano.



Não obstante, Washington ainda considera a Venezuela como uma ameaça a seus interesses na região. Particularmente, os Estados Unidos estão preocupados com a relação comercial de vários países latinoamericanos com países como a China, a Rússia e o Irã, percebida como uma ameaça econômica contra o controle e a dominação dos Estados Unidos na região. Na semana passada, a Secretária de Estado, Hillary Clinton, ameaçou aos países latinoamericanos que tinham relações com o Irã, incluindo a Bolívia e o Brasil, a Nicarágua e a Venezuela. "Creio que se alguns países querem relacionar-se com o Irã, devem saber quais serão as consequências, e esperemos que pensarão duas vezes antes de agir", declarou Hillary durante um discurso sobre a política exterior de Washington para a América Latina.



O governo da Colômbia anunciou ontem que construirão uma nova base militar cerca da fronteira com a Venezuela, com financiamento e equipamentos dos Estados Unidos. O Ministro de Defesa da Colômbia, Gabriel Silva, também anunciou a ativação dos batalhões aéreos cerca da fronteira com a Venezuela. A nova base militar, situada pela Península de Guajira, fronteira com o Estado de Zulia, na Venezuela, terá até mil tropas e facilitará a presença de forças armadas estadunidenses e contratistas privados na zona fronteiriça. Este anúncio intensifica claramente as agressões e ameaças contra a Venezuela.



As declarações de hoje do presidente Chávez sobre o avião não tripulado que foi descoberto violando o território venezuelano nesses dias evidenciam a escalada em tensões entre os dois países. Os aviões não tripulados estadunidenses, MQ-1 Predator UAV, que são de combate foram utilizados durante o último ano no Afeganistão e no Paquistão para assassinar supostos terroristas. Os aviões "drones" estão equipados com mísseis Helfire e têm a capacidade de exterminar alvos em zonas sensíveis.



A Venezuela está sob alerta frente a essa perigosa ameaça. O presidente Chávez fez suas declarações sobre a detecção do avião não tripulado durante o lançamento da nova Polícia Nacional, uma força policial comunitária, recém criada e orientada para operações de segurança preventiva e serviço comunitário.



[Original em Inglês: http://www.chavezcode.com/2009/12/us-military-aggression-against.html]



Eva Golinger *, Advogada venezuelano-estadunidense



http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=44136

Nenhum comentário:

Postar um comentário