Nubia Piqueras Grosso (*)
Duas Duas guerras de ocupação: Iraque e Afeganistão centraram as miradas do mundo para a
Europa no final de 2009. A primeira pelas mentiras do ex premiê britânico Tony Blair; e a segunda,
por secretos sócios a um bombardeio em Kunduz. Duas
Um relatório publicado pelo jornal The Sunday Thelegraph, do qual se fizeram eco todos os meios
britânicos, revela que Blair enganou ao Parlamento e à opinião pública de Grã-Bretanha sobre a
participação do exército desse país na invasão ao Iraque, em março de 2003, junto a Estados
Unidos.
Blair afirmou no Parlamento em 16 de julho de 2002 que o objetivo contra Saddam Hussein era "o
desarmamento, não uma mudança de regime" e que não existiam planos para uma ação militar.
No entanto, os documentos demonstram que nesses projetos bélicos se trabalhou desde fevereiro do
2002 e inclusive muito antes de que o presidente estadunidense George W Bush chegasse ao poder,
declarou o general Graeme Lamb, responsável pelas forças especiais durante o conflito.
A análise militar de umas 100 páginas, filtrada pela imprensa londrina, também denuncia os "riscos
significativos" a que foram expostas as tropas britânicas devido a operação "precipitada que careceu
de coerência e recursos". Estas revelações apareceram dois dias dantes de começar as audiências
públicas da investigação parlamentar sobre a participação de Reino Unido na invasão a Iraque.
A análise realizou-se a solicitação de John Chilcot, ex servidor público governamental, para
"identificar as lições que podem aprender do conflito iraquiano", segundo se alegou.
As entrevistas realizadas a militares e civis britânicos vinculados com a incursão bélica de 2003,
corroboram a inexistência de armas de destruição em massa e o suposto vínculo de Bagdá e Hussein
com Al Qaeda e o terrorismo, desculpas esgrimidas pela Casa Branca para perpetrar a guerra.
Blair, por sua vez, em declarações difundidas por meios jornalísticos, negou que o ex fiscal geral,
Peter Goldsmith, fora intimidado depois de advertir sobre a ilegalidade dessa guerra comandada por
Estados Unidos.
Goldsmith, o assessor jurídico a mais alto cargo em 2003, advertiu ao governante em uma carta
datada em julho de 2002 que a invasão a essa nação do Golfo Pérsico para derrubar Saddam
Hussein seria uma grave violação do Direito Internacional e da Carta da ONU.
Blair não somente desconheceu esses conselhos, mas excluiu Goldsmith das reuniões ministeriais
em torno dos assuntos iraquianos.
O ex fiscal, por sua vez, ameaçou renunciar a seu posto, mas foi pressionado para que se retratasse,
modificasse seus "conselhos" e finalmente apoiasse Londres com a invasão ao Iraque.
O general Tim Cross afirmou ter aconselhado ao ex premiê britânico de atrasar a invasão a Iraque
em 2003, ao considerar que Washington não tinha planejado bem o palco da pós guerra.
Explicou que dois dias antes de se iniciar a ocupação do país árabe, em uma mensagem remetida a
Blair em 18 de março de 2003, reiterou a ideia de postergar esta ação depois de constatar que os
preparativos para a posterior reconstrução do Iraque eram "deploráveis" ou simplesmente não
existiam.
Justamente a cumplicidade de Blair com os então governos de Bush e de José María Aznar para a
invasão a Iraque, foi o fator de importância que lhe restou apoio ao ex ministro britânico para
postular-se como presidente estável da União Europeia.
Alemanha e os segredos de Kunduz
Dias após o escândalo desatado na Grã-Bretanha pelas mentiras de Tony Blair sobre a guerra contra
o Iraque, a Alemanha converteu-se na protagonista de novos segredos develados em torno de um
conflito bélico com participação da OTAN.
Nesta ocasião as notícias reviveram o bombardeio na província afegã de Kunduz, ocorrido em 4 de
setembro último.
O jornal alemão Bild publicou um relatório com detalhes sobre a participação de um comando
alemão de operações especiais (KSK) no ataque aéreo que causou cerca de 140 mortos, entre eles,
mais de 70 civis.
Apesar do hermetismo que rondou o relatório da OTAN sobre os acontecimentos de Kunduz,
trascendeu que foi o coronel Georg Klein, ao comando do contingente alemão, que ordenou aos
pilotos estadunidenses o bombardeio contra dois caminhões cisternas sequestrados supostamente
por talibãs.
A fonte acrescenta que o KSK operava no Afeganistão desde 2002 e apesar de ter sido proibido em
outubro de 2008 pelo Bundestag (parlamento), continuou atuando em segredo para apoiar às tropas
aliadas de ocupação, comandadas pelos Estados Unidos e a OTAN desde outubro de 2001.
O então ministro de Defesa, Franz Josef Jung, que renunciou em passado novembro em pleno
escândalo, negou diante dos parlamentares o envolvimento do comando de tropas especiais na
operação de Kunduz, a qual tem tentado minimizar o atual titular na pasta, Karl Theodor zu
Guttenberg.
As revelações de imprensa provocaram do mesmo modo a demissão do chefe do Estado Major do
Exército, Wolfgang Schneiderhahn, e do secretário de Estado de Defesa, Peter Wichert.
Em suas primeiras declarações de 6 de novembro, o novo titular de Defesa afirmou que a atuação
dos militares alemães foi proporcionada e descreveu o ataque da OTAN como adequado.
Depois do aluvião de críticas, Zu Guttenberg modificou sua avaliação no início de dezembro,
quando admitiu que foi desproporcionada.
Assim todos, a oposição integrada pelos social-democratas, Verdes e Die Linke (A Esquerda) o
acusam de mentir e de ocultar os detalhes da atuação do mando alemão nessa operação.
Os políticos opositores atribuem o ocorrido em Kunduz a uma mudança na estratégia do mandato
das tropas alemãs no Afeganistão, dirigida aos assassinatos seletivos de líderes insurgentes, em
coordenação com a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos.
Para esclarecer o caso e em uma tentativa de salvar-se de um descrédito total diante da opinião
pública alemã com menos de três meses de governo na atual legislatura, o governo do chanceler
Angela Merkel criou uma comissão parlamentar a fim de esclarecer o papel de Berlim no
Afeganistão.
Com essas mentiras e segredos, que gerarão mais polêmicas no próximo ano, se fecha uma página
do 2009, mas não o capítulo sobre a incursão europeia no Afeganistão e no Iraque, que promete
recrudecer-se com o envio de mais militares a esses palcos.
(*) A autora é jornalista da Redação Europa da Prensa Latina.
rr/npg
Criada em Goiás associação de solidariedade a Cuba
-
*Thaís Falone, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) |
Foto:Vinícius Schmidt Santos *
Por Sturt Silva
No último dia 23 de fevereiro, foi...
Há 6 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário