Por Enrique Torres, enviado especial
Porto Príncipe, 11 fev (Prensa Latina) A batalha pela sobrevivência continua hoje nas praças e
parques desta capital e outras cidades haitianas, onde destacam-se a fome e a insalubridade há quase
um mês do devastador terremoto.
Estima-se que 1 milhão 110 mil pessoas perderam suas moradias como consequência do abalo
sísmico, a imensa maioria em Porto Príncipe, onde apesar da revitalização de alguns serviços, o
grande desafio segue sendo viver sempre um dia mais.
Ainda que centenas de milhares de atingidos abandonaram a cidade, tanto para o exterior como para
outros estados do país, o grosso permanece refugiado em áreas públicas, em condições de
amontoamento, entre eles um dominicano que chegou ao Haiti esperançado em recobrar a visão.
François Pedro, de 64 anos, viajou para esta capital três meses antes do movimento telúrico, afetado
por uma severa catarata.
Pedro, procedente da província dominicana de Romana, tinha notícias de que aqui havia um
programa chamado Operação Milagre, impulsionado por Cuba e Venezuela, que de forma gratuita
atendia os pacientes e curava essa doença.
Por isso cruzou a fronteira e, sem dinheiro, de carona em carona, chegou a Porto Príncipe, bem
longe de imaginar que depois de ser atendido por médicos cubanos e voltar a ver, seus olhos iam ser
testemunhas de uma das maiores catástrofes do mundo.
"Tenho chegado a pensar que era preferível não ver para não ser testemunha disso", comentou à
Prensa Latina, depois de reiterar que não pôde regressar à República Dominicana porque não tinha
um centavo para a viagem.
Após a operação, Pedro foi acolhido por um haitiano que lhe estendeu a mão ao sair do hospital e
conhecer sua situação de desamparo.
Residia em uma pequena casa nas imediações da central praça Champs de Mars, moradia que ficou
destruída nos primeiros segundos do terremoto.
Pedro estava essa tarde a uns metros da casa com o amigo, mas a aguda audição que tinha
desenvolvido durante sua prolongada catarata lhe permitiu sentir que a suas costas tudo vinha
abaixo.
Agora vive em um dos parques de Champs de Mars, dormindo no chão, sem comida, só protegido
por um pedaço de nylon atado a quatro paus e com muito menos esperanças de poder retornar a seu
país, onde o aguardam a esposa e cinco filhos.
Na mesma praça vive Jacqués Levrank, de 33 anos, que trabalhava em um posto de gasolina,
destruído totalmente pelo terremoto.
O tremor provocou um giro em sua vida de quase 180 graus. Perdeu o trabalho e também a casa,
convertida em escombros.
Levrank vive no parque com sua esposa e dois filhos, cuja subsistência depende dos refrescos de
banana e frascos de água que consegue comercializar, em um improvisado posto de venda na rua,
pois a ajuda alimentar segue em suspense.
Diariamente não consegue ganhar mais de 100 "gourdes" (2,50 dólares), já que "as pessoas não têm
dinheiro", mas fazem questão de sobreviver, pois já venceram ao terremoto.
rc/et/es
Inicia
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