Sinay Gramas Moreno (*)
Havana (Prensa Latina). Do territ?rio que ocupam na Amaz?nia surinamesa, o povo Saramaka combate ao tempo e ao esquecimento, se al?ando imov?is em defesa de sua cultura e a floresta.
Estabelecidos na margem do rio Suriname desde o século XVIII, suas aldeias integram-na cerca de 30 mil membros (segundo cifras não confirmadas por falta de censo), e vivem em clãs matrilineares em uns nove mil quilômetros quadrados.
Descendentes das originarias tribos maroons africanas, ocupam o território amazônico desde que seus ancestrais, escravos, escaparam das plantações e internaram-se no bosque.
Pesquisas demográficas revelam que hoje a comunidade Saramaka constitui a maior população derivada de autênticos maroons em todo o planeta.
O modo de vida contempla a poligamia. Até o fim de sua vida, uma mulher pode ter tido até quatro cônjuges, enquanto o homem pode chegar a sete esposas.
Os filhos são criados em seus primeiros anos de vida com a mãe e quando já se consideram aptos para assumir trabalhos de adultos as mulheres ficam, geralmente, sob custódia das mulheres, e os varões são atendidos pelos pais.
Muitas esposas têm suas casas próprias, outra no campo hortícola e uma terça na vila de seus esposos, e dividem o tempo entre três ou quatro lares.
De acordo com seus costumes, vivem em uma habitação de poucas dimensões, construída com paredes de madeira, tetos de palha e carecem de janelas.
Segundo suas normas, a idade estabelecida para os casamentos é de 15 anos nas mulheres e a partir de 20 nos homens.
Distribuídos em cerca de 70 povoados, as principais atividades que desenvolvem se dividem em caça, pesca, cultivo e coleta de produtos do bosque.
A agricultura está baseada em um sistema de rotação em longo prazo devido a que os solos pobres do bosque pluvial somente podem suportar colheitas por dois ou três anos consecutivos.
Quimbombó, milho, arroz, mandioca, banana, cana de açúcar, calabaça e árvores frutíferas como laranja, coco e mamão são seus principais cultivos e importam alguns produtos comestíveis como o sal.
O trabalho distribui-se da seguinte forma: na agricultura, os homens preparam os campos e depois dão passagem às mulheres, que se encarregam das semeias e coletas. A pesca e a caça são também trabalhos masculinos, bem como o emprego por salário.
Os Saramaka são reconhecidos por seus produtos artesanais. Enquanto as mulheres destacam em olaria, cabaças, costura e bordados, a representação masculina é especialistas em construção de canoas e objetos de madeira, principalmente para uso doméstico.
Socialmente mantêm um regime de igualdade, não há distinção de classes. Os idosos são muito respeitados e têm sessões diárias de adivinhação. Politicamente têm um chefe maior, alguns regentes e um assistente, encarregados de atender e solucionar os problemas internos, que analisam com todos os habitantes da vila. Os principais castigos são golpes ou imposição de multas.
A religião acompanha quase todos os passos dos Saramaka. Abundam rituais para nascimentos, mortes, períodos de caça e colheita. Seus deuses e espíritos são honrados com frequência com bebidas, danças, festas e rezas.
Fiéis ao legado dos ancestrais, esses afrodescendentes elegem viver em harmonia com a natureza. Para isso a protegem de agentes externos e da modernidade, potencial destruidora da existência humana.
Por anos opuseram-se a devasta-a indiscriminada de seus bosques, à mineração e à entrega de terras em concessão a empresas estrangeiras para o desenvolvimento energético.
Sua luta está respaldada por fortes argumentos. Na selva amazônica, que ao todo abarca mais de sete milhões de quilômetros quadrados, coexiste a maior diversidade de flora e fauna do planeta.
Ali identificaram-se mais do 10 por cento das espécies de plantas e animais do mundo, muitas delas em perigo de extinção, bem como 15 por cento da água doce da terra.
Em toda sua extensão, Amazônia oferece cobiça a mais de 30 milhões de pessoas, incluindo quase 300 comunidades indígenas, que praticam a tese de viver em concórdia com o ecossistema.
E do ponto de vista ambiental, um bosque intacto será beneficioso para estabilizar os patrões climáticos, cujos danos poderiam resultar completamente irreversíveis.
Baseados nessas premissas, os Saramaka não esmorecem em seus planos de conservação ambiental, modelo que tem dado força a outras comunidades amazônicas a unir à luta pela sobrevivência da terra.
(*) Especialista caribenha da Prensa Latina.
arb/sc/bj
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