sábado, 13 de fevereiro de 2010

Passado um mês, luto, sonhos e desafios no Haiti

Por Enrique Torres, enviado especial

Porto Príncipe, 12 fev (Prensa Latina)


O Haiti vive hoje um dia de luto nacional, um mês após o

implacável terremoto que arrasou com esta capital e outras cidades do país, onde o maior desafio

cidadão é manter vivos os sonhos, em permanente luta pela vida.

Quem sentiu vibrar a terra sob seus pés no último dia 12 de janeiro conta que o tremor se propagou

por quase um minuto, como uma espécie de castigo interminável, a que não poucos habitantes lhe

atribuem uma origem sobrenatural.

Parecia que o subsolo não terminaria nunca de estremecer. Aqueles que conseguiram se esquivar da

queda dos tetos, e os que saíram ilesos graças a que suas moradias resistiram, se concentraram

horrorizados em pátios e ruas, em muitos casos dando-se as mãos.

Depoimentos de alguns sobreviventes concordam em afirmar que a terra adquiriu movimentos de

serpente em várias direções, e que muitas pessoas assustadas, de um povo muito religioso como o

haitiano, permaneceram minutos e minutos com os braços estendidos para o céu, suplicando o fim

das sucessivas réplicas.

Um mês após o terremoto, não são poucos os homens e mulheres que no Haiti voltam a levantar

seus braços buscando sinais de alento e que não se repita essa passagem dantesca, em que uma

nuvem de pó cobriu esta capital depois do simultâneo desmoronamento de milhares de edificações.

Ainda que parecesse que em Porto Príncipe o tempo se deteve na tarde do terremoto, a verdade é

que há sinais de que as autoridades e a ajuda internacional têm tentado mitigar algumas das

calamidades acentuadas pelo terremoto, entre elas a falta de moradias, alimentos e água.

A cidade continua cheia de contrastes. Em algumas praças e parques, Organizações Não

Governamentais (ONGs) entregam confortáveis barracas de campanha, enquanto na maioria dos

improvisados assentamentos os desabrigados seguem vivendo embaixo de tendas de nylon e lençóis

rasgados, que muito pouco servirão para proteger contra a temporada de chuvas que está chegando.

A ajuda internacional, embora tenha sido um alívio para quem possa beneficiar-se dela, representou

uma forte dor de cabeça para o governo de René Preval, que não tem conseguido direcioná-la de

maneira ordenada para os mais necessitados, já que é repartida na maioria dos casos segundo a

vontade das ONGs.

De acordo com as estimativas das autoridades, 1,11 milhão de pessoas perderam suas moradias

como consequência do abalo sísmico, sobretudo na capital, onde apesar da revitalização de alguns

serviços, a vida segue infernal para muitos.

Milhares de cidadãos ficaram desempregados ao ver os lugares onde trabalhavam convertidos em

escombros. As portas que se abrem à mão de obra são muito poucas ainda, em comparação com o

grande exército de desocupados que perambula pelas ruas.

Nos assentamentos estabelecidos em praças e parques têm sido colocados serviços sanitários e a

distribuição de água funciona com altas e baixas, o mesmo ocorre com os alimentos.

A insalubridade prolifera, ainda que haja certa regularidade na coleta de lixo em algumas zonas.

A cada dia, desde as primeiras horas da madrugada, podem ver-se longas filas de pessoas em

diferentes pontos da cidade, à espera de que empregados de várias ONGs, em geral cercados por

soldados da Força de Estabilização da ONU no Haiti (MINUSTAH) e outros efetivos, repartam à

ponta de fuzil sacos de arroz, feijão ou leite, mas não de maneira equitativa.

A anarquia reinante nestas espécies de celebrações resulta em que muitos indivíduos, inclusive

bairros completos, fiquem à margem da distribuição.

Em Tétard, zona alta da capital, Bellevue, Madotan, Nan Ginam e Nan Nwél a tragédia parece não

ter fim, sem água nem comida.

Porém, nem tudo é cinza no devastado Haiti, país em que cifras controversas falam de mais de 200

mil vítimas fatais do terremoto.

A ajuda da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA) faz-se sentir de diferentes

maneiras, entre elas nas comunidades criadas em Leoganne, a cerca de 22 quilômetros ao sudoeste

de Porto Príncipe.

Ali já foram levantados dois dos oito acampamentos que a Força de Tarefas Conjunta Haiti, por

ordem do presidente venezuelano, Hugo Chávez, planeja levantar.

Estes assentamentos, com capacidade para duas mil pessoas, contam com serviços de saúde,

educação, alimentação, recreação e alojamento, em barracas de campanha resistentes, cada uma

com capacidade para quatro famílias.

Em uma destas comunidades, a Simón Bolívar, já começou a campanha de alfabetização, trabalho

que desenvolvem profissionais cubanos, como parte do apoio conjunto da ALBA.

A ajuda de Cuba ao Haiti faz sentir-se com força na saúde, com a presença de uma brigada médica

integrada por mais de mil colaboradores, mais de 400 deles médicos e estudantes haitianos

formados nessa ilha.

Nesta sexta-feira, depois de um mês do terremoto, o país está em vigília, e as cores negro e branco

predominam no vestuário de muitos sobreviventes, para quem a batalha pela vida continua a cada

amanhecer.

tgj/et/es

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