Por Enrique Torres, enviado especial
Porto Príncipe, 12 fev (Prensa Latina)
O Haiti vive hoje um dia de luto nacional, um mês após o
implacável terremoto que arrasou com esta capital e outras cidades do país, onde o maior desafio
cidadão é manter vivos os sonhos, em permanente luta pela vida.
Quem sentiu vibrar a terra sob seus pés no último dia 12 de janeiro conta que o tremor se propagou
por quase um minuto, como uma espécie de castigo interminável, a que não poucos habitantes lhe
atribuem uma origem sobrenatural.
Parecia que o subsolo não terminaria nunca de estremecer. Aqueles que conseguiram se esquivar da
queda dos tetos, e os que saíram ilesos graças a que suas moradias resistiram, se concentraram
horrorizados em pátios e ruas, em muitos casos dando-se as mãos.
Depoimentos de alguns sobreviventes concordam em afirmar que a terra adquiriu movimentos de
serpente em várias direções, e que muitas pessoas assustadas, de um povo muito religioso como o
haitiano, permaneceram minutos e minutos com os braços estendidos para o céu, suplicando o fim
das sucessivas réplicas.
Um mês após o terremoto, não são poucos os homens e mulheres que no Haiti voltam a levantar
seus braços buscando sinais de alento e que não se repita essa passagem dantesca, em que uma
nuvem de pó cobriu esta capital depois do simultâneo desmoronamento de milhares de edificações.
Ainda que parecesse que em Porto Príncipe o tempo se deteve na tarde do terremoto, a verdade é
que há sinais de que as autoridades e a ajuda internacional têm tentado mitigar algumas das
calamidades acentuadas pelo terremoto, entre elas a falta de moradias, alimentos e água.
A cidade continua cheia de contrastes. Em algumas praças e parques, Organizações Não
Governamentais (ONGs) entregam confortáveis barracas de campanha, enquanto na maioria dos
improvisados assentamentos os desabrigados seguem vivendo embaixo de tendas de nylon e lençóis
rasgados, que muito pouco servirão para proteger contra a temporada de chuvas que está chegando.
A ajuda internacional, embora tenha sido um alívio para quem possa beneficiar-se dela, representou
uma forte dor de cabeça para o governo de René Preval, que não tem conseguido direcioná-la de
maneira ordenada para os mais necessitados, já que é repartida na maioria dos casos segundo a
vontade das ONGs.
De acordo com as estimativas das autoridades, 1,11 milhão de pessoas perderam suas moradias
como consequência do abalo sísmico, sobretudo na capital, onde apesar da revitalização de alguns
serviços, a vida segue infernal para muitos.
Milhares de cidadãos ficaram desempregados ao ver os lugares onde trabalhavam convertidos em
escombros. As portas que se abrem à mão de obra são muito poucas ainda, em comparação com o
grande exército de desocupados que perambula pelas ruas.
Nos assentamentos estabelecidos em praças e parques têm sido colocados serviços sanitários e a
distribuição de água funciona com altas e baixas, o mesmo ocorre com os alimentos.
A insalubridade prolifera, ainda que haja certa regularidade na coleta de lixo em algumas zonas.
A cada dia, desde as primeiras horas da madrugada, podem ver-se longas filas de pessoas em
diferentes pontos da cidade, à espera de que empregados de várias ONGs, em geral cercados por
soldados da Força de Estabilização da ONU no Haiti (MINUSTAH) e outros efetivos, repartam à
ponta de fuzil sacos de arroz, feijão ou leite, mas não de maneira equitativa.
A anarquia reinante nestas espécies de celebrações resulta em que muitos indivíduos, inclusive
bairros completos, fiquem à margem da distribuição.
Em Tétard, zona alta da capital, Bellevue, Madotan, Nan Ginam e Nan Nwél a tragédia parece não
ter fim, sem água nem comida.
Porém, nem tudo é cinza no devastado Haiti, país em que cifras controversas falam de mais de 200
mil vítimas fatais do terremoto.
A ajuda da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA) faz-se sentir de diferentes
maneiras, entre elas nas comunidades criadas em Leoganne, a cerca de 22 quilômetros ao sudoeste
de Porto Príncipe.
Ali já foram levantados dois dos oito acampamentos que a Força de Tarefas Conjunta Haiti, por
ordem do presidente venezuelano, Hugo Chávez, planeja levantar.
Estes assentamentos, com capacidade para duas mil pessoas, contam com serviços de saúde,
educação, alimentação, recreação e alojamento, em barracas de campanha resistentes, cada uma
com capacidade para quatro famílias.
Em uma destas comunidades, a Simón Bolívar, já começou a campanha de alfabetização, trabalho
que desenvolvem profissionais cubanos, como parte do apoio conjunto da ALBA.
A ajuda de Cuba ao Haiti faz sentir-se com força na saúde, com a presença de uma brigada médica
integrada por mais de mil colaboradores, mais de 400 deles médicos e estudantes haitianos
formados nessa ilha.
Nesta sexta-feira, depois de um mês do terremoto, o país está em vigília, e as cores negro e branco
predominam no vestuário de muitos sobreviventes, para quem a batalha pela vida continua a cada
amanhecer.
tgj/et/es
Criada em Goiás associação de solidariedade a Cuba
-
*Thaís Falone, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) |
Foto:Vinícius Schmidt Santos *
Por Sturt Silva
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