domingo, 17 de janeiro de 2010

Chilenos pensam como serão suas vidas após eleições

Por Jorge Luna



Santiago do Chile, 16 jan (Prensa Latina)


Para além do nome do novo presidente, que será conhecido nas próximas 24 horas, os chilenos se perguntam hoje se suas vidas melhorarão ou não durante os próximos quatro anos.



"Para isso são as eleições", disse à Prensa Latina um empresário que prosperou durante os quatro governos da Concertación, do ex-presidente Eduardo Frei, mas que também não lhe preocupa um triunfo, pela primeira vez, da direita chilena, do multimilionário Sebastián Piñera.



O importante homem de negócios, que pediu o anonimato e também não revelou por quem votará neste domingo, insistiu que as diferenças entre ambos os candidatos são menores do que a tensa e prolongada campanha eleitoral refletiu.



Acrescentou que ambos defendem, com matizes, a essência do sistema econômico que o regime militar do general Augusto Pinochet (1973-90) instaurou, que trouxe grandes desigualdades, mas também crescimento econômico e, ultimamente, uma importante rede de proteção social.



O que a diferencia, destacou, são temas subjetivos, como o comportamento público, os direitos humanos e, especialmente, a composição social de seus aderentes e dirigentes.



Empate estatístico



Em 13 de dezembro passado, durante o primeiro turno eleitoral, foram eleitos senadores e deputados em uma proporção quase exata entre os que apóiam a Frei e os que respaldam Piñera.



Isso ratifica que, como até agora, qualquer lei importante será fruto da negociação e do consenso. As pesquisas que projetam o segundo turno de amanhã enfatizam essa divisão do eleitorado e já instalaram o termo empate técnico entre ambas as candidaturas, ao mesmo tempo em que os especialistas coincidem em descrever estas como as eleições mais acirradas da história chilena.



Sem dúvida, isso também reflete um pensamento claro entre os eleitores do país: por mais que os candidatos possam se parecer, "não dá na mesma quem ganhe", frase repetida nestes dias inclusive pela presidenta Michelle Bachelet, que anunciou seu voto por Frei.



Pinochetismo sem Pinochet



Piñera, pese a sua linguagem e consignas sobre mudança e modernidade, não tem conseguido se distanciar de personagens que colaboraram diretamente com o regime de Pinochet, ocasionador de violações em massa aos direitos humanos.



De fato, os três candidatos que enfrentaram Piñera em dezembro sofreram perseguição, exílio ou a morte de familiares pelas mãos desse regime, repudiado internacionalmente.



O candidato esquerdista Jorge Arrate, que - entre outros cargos - foi ministro do presidente Salvador Allende, teve que viver vários anos fora do Chile e centrou sua campanha na necessidade de evitar o triunfo eleitoral da direita. Ainda que Arrate, apoiado entre outros pelo Partido Comunista, pediu votos por Frei no segundo turno, o fez depois de que este se comprometeu a encaminhar 12 medidas de caráter popular.



Igualmente, Marco Enríquez-Ominami, que descreveu tanto Frei como Piñera como candidatos unidos ao "passado obscuro do Chile" e levantou uma alternativa independente, finalmente anunciou com reticência que votará por Frei, apenas para tratar de evitar a vitória da direita.



Enríquez-Ominami, filho de Miguel Enríquez, líder do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), morto em combate em 1975 em frente a agentes de Pinochet, deixou, no entanto, em liberdade de ação aos seus apoiadores para que votem com consciência.



Frei mencionou em várias ocasiões seu pai, o também ex-presidente Eduardo Frei Montalva (1964-1970), assassinado por envenenamento em 1982 por agentes do Pinochet, segundo uma investigação judicial atualmente em curso.



Muitos eleitores, portanto, votarão por Frei, pese a ter dúvidas sobre o que será seu "segundo governo", mais que por suas virtudes, por temor a uma volta da direita chilena ao poder.



Somatória



Se os votos de dezembro das três forças pudessem ser somados de maneira matemática a favor de Frei, superariam amplamente aos de Piñera, mas a política não se dá assim, pelo que ambos os candidatos dedicaram esta etapa da campanha a atrair o chamado voto alheio, o de Arrate (seis pontos) e o de Enríquez-Ominami (20 pontos).



Os esforços, com gestos e promessas, resultaram em um precário empate estatístico, segundo a pesquisa confiável mais recente, que assinalou que a provável diferença entre Frei e Piñera será de menos de dois pontos percentuais, favorável ao segundo.



Mas, como a margem de erro do estudo é de três pontos, tudo isso pode mudar.



Ainda que amanhã poderão votar mais de sete milhões de chilenos, só uns poucos milhares definirão ao novo presidente, que sucederá a dois democrata-cristãos (Patricio Aylwin, 1990-94, e Frei, 1994-2000) e dois socialistas (Ricardo Lagos, 2000-06, e Bachelet, 2006-10).



Inclusive, poderiam ser decisivos os votos nulos e brancos, bem como o nível de abstenção.



Herança de Bachelet



Outro tema que preocupa a maioria dos chilenos é que nenhum dos dois candidatos conta com a popularidade atingida por Bachelet, a primeira mulher presidenta do país.



As pesquisas têm reiterado 80 por cento de reconhecimento de Bachelet - também vítima, junto a sua família, da repressão militar-, cujo mandato de quatro anos termina no próximo 11 de março.



Sua alta popularidade - e também internacional - tem elevado disputa entre ambos os aspirantes ao Palácio de la Moneda.



Ao longo da campanha eleitoral, o comando eleitoral de Frei (que obteve 29 por cento dos votos em dezembro) tentou sem sucesso canalizar para seu candidato a popularidade de Bachelet.



Igualmente, Piñera (44 por cento em dezembro) fez várias piruetas ao longo de sua campanha para insinuar que seu eventual governo manteria e aprofundaria as medidas de proteção social da administração atual.



Em quase todos os terrenos, a marca de Bachelet tem obrigado aos candidatos a se esforçarem para captar ao escorregadio eleitorado chileno.



Em todo caso, o sucessor de Bachelet receberá, segundo os analistas, uma economia "saneada e em recuperação" frente à crise internacional e quiçá isso seja o que mais interesse aos chilenos no momento de entrar à cabine secreta de votação.



mgt/jl/cc

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