terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Nosso passado material, sua importância e cuidado

Yamilé Luguera González (*)

Havana, (Prensa Latina)


As antiguidades t?m um encanto ?nico, uma pe?a de 50 anos converte-se em bem de museu e passa a fazer parte do patrim?nio tang?vel, por isso devemos cuid?-la e respeit?-la como um peda?o importante de nosso passado.

Desde tempos remotos, ao homem despertou-lhe o interesse pelo colecionismo, disciplina que tem subsistido até nossos dias.

Isto tem permitido que muitas peças se conservem por anos. Outras, desgraçadamente, se perderam pela má manipulação de pessoas inexperientes ou permanecem ainda no anonimato.

As peças arqueológicas têm um espaço reconhecido; sozinhas ou como parte de uma coleção, nos revelam o passado que não conseguiu ficar escrito e complementam o que se escreveu; mas são mais suscetíveis ao deterioramento que as que permaneceram em um museu.

Os vestígios materiais da história geralmente encontram-se enterrados ou submersas, sofrem danos provocados pela salinidade dos solos ou da água, a degradação das matérias orgânicas ou, simplesmente, a vida que cresce em cima deles: fungos, líquens, bactérias, algas, corais, etc., que em ocasiões se alimentam digerindo o substrato sobre o qual crescem.

Estas peças levam desde o início um tratamento responsável, guiado pelos conhecimentos adquiridos sobre esta matéria. É realmente uma responsabilidade que poucos conhecem, mas que muitos praticam.

As peças arqueológicas contam com um incalculável valor histórico, cultural e muitas vezes artístico e, portanto, a soma destes valores repercute na taxação, com valorações subjetivas próprias de fenômenos do mercado.

A informação ou conhecimento da peça representa um valor acrescentado, o que se determina tendo em conta os valores anteriores e seu estado de conservação.

Quando estudamos períodos históricos dos quais, por seu antiguidade, não se conservam evidências documentais, ou ficaram só em nível da pintura rupestre, como é o caso da etapa pré-hispânica, são os achados arqueológicos os encarregados de nos contar sua história.

Um exemplo da importância de conservar intactos estes lugares: localizamos um naufrágio, este se apresenta de forma contínua (todos os artefatos contidos dentro do que foi o barco); as possibilidades de fazer um estudo mais completo sobre o mesmo são maiores que os apresentados com um alto grau de dispersão, ou que singelamente parte de seu conteúdo tenha sido extraído por pessoas não autorizadas.

O trabalho levado a cabo nestes lugares precisa de uma equipe multidisciplinar; o ponto de partida é uma investigação histórica minuciosa, depois, prospecções realizadas pelos geofísicos, o levantamento topográfico do lugar, o registro fotográfico e por último, a escavação e colecta sistemática e controlada, levada a cabo pelos arqueólogos.

As peças requerem uma conservação primária pelos conservadores e restauradores, um estudo, classificação, e catalogação e, se necessário, submissão a um processo de restauração.

Primeiro elabora-se uma proposta de intervenção, tendo em conta não alterar seus valores intrínsecos e, da mesma maneira, se deve contar com a reversibilidade do tratamento.

Depois deve ser confeccionado um relatório de trabalho e um artigo que contemple os resultados para sua posterior publicação, o que facilita que outros especialistas tenham acesso a esta informação, já seja para seu conhecimento geral ou para realizar aos artefatos ou ao lugar novos estudos.

É muito difícil que uma pessoa só possa levar a cabo este trabalho. Sobretudo aqueles que dedicam-se a coletar peças isoladas de lugares diferentes, não estão preparados, e criam lagoas dentro de uma coleção.

Em muitos casos, uma peça isolada não dá informação, mas sua extração inadequada sim afeta o lugar arqueológico e sua correta leitura histórica. É por isso que os especialistas consideram que a escavação sem conservação é vandalismo.

Também existem os aspectos legais. Se alguém coleta ou escava sem autorização da Comissão Nacional de Monumentos, é uma violação que pode ser punida pela lei de Patrimônio Nacional (Resolução 204, Decreto 118 do Ministério de Cultura, Regulamento para a Proteção ao Patrimônio).

As pessoas autorizadas a dirigir e efetuar escavações estão incluídas em um registro e existem procedimentos formais e legais para a atividade.

No Encontro Regional de Patrimônio Subaquático, celebrado em Habana de 7 a 11 de maio de 2001, elaborou-se a "Carta de Havana", com o fim de apoiar os esforços realizados pela UNESCO para conseguir uma legislação internacional de proteção deste patrimônio.

Em maio do 2008, Cuba acolheu-se à "Quarta Convenção para a Proteção do Patrimônio Submerso", colocada em vigor em fevereiro do 2009, Ano Internacional do Patrimônio Submerso.

Extrair uma peça de um lugar arqueológico, qualquer que seja seu contexto, deve levar uma prévia análise realizada pelos especialistas na matéria, historiadores, arqueólogos e conservadores.

O critério destes últimos é crucial, porque não pode ser extraída nenhuma peça de um lugar quando se carece de recursos para sua posterior conservação, restauração e estudo.

Caso isto não seja possível, a peça deve ficar no lugar até contar com os meios necessários para sua adequada intervenção.

Se o resgate de artefatos permite calçar as investigações históricas, deve-se valorizar a perda que significa o deterioramento de cada peça.

O trabalho de escavação deve ficar nas mãos de especialistas que conservem, estudem, documentem e exibam estas maravilhas que nos presenteia o passado.

(*) A autora é conservadora e restauradora de bens, arqueóloga e especialista mergulhadora.

rr/ylg/bj

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